Por que o rio São Francisco é importante para a expansão da criação de gado?

Durante o período colonial, pecuária e povoamento do sertão estiveram intimamente ligados. A partir dos engenhos de cana-de-açúcar, que se localizavam principalmente no litoral nordestino, foi possível aos colonos que aqui habitavam conquistar o sertão da colônia e iniciar o povoamento dessa região.

A pecuária desenvolveu-se inicialmente em torno dos engenhos de cana-de-açúcar. O gado criado nesses locais, bovino e muar, era utilizado na alimentação, na produção de couro para utensílios de trabalho e domésticos, além da tração animal nos trabalhos para a obtenção do açúcar.

Com a expansão das lavouras de cana-de-açúcar ao redor dos engenhos, era necessário encontrar pastagens cada vez mais distantes para a criação de gado. Para encontrar esses ambientes, os vaqueiros partiram para o sertão. Sertão é também definido como o local que não se encontra no litoral.

Os primeiros locais a partir dos quais os vaqueiros deslocaram-se foram os engenhos localizados em Pernambuco e na Bahia. Eles buscaram seguir o rumo contrário do sentido do Rio São Francisco, que passou a ser conhecido como “Rio dos Currais”. Ao longo do vale desse rio foram criados currais e fazendas perto de áreas de pastagens.

Com o desenvolvimento dessa atividade econômica, foram sendo fixados polos de povoamento, principalmente fazendas. Os vaqueiros que habitavam essas fazendas eram geralmente mamelucos, de ascendência indígena e europeia. Eles trabalhavam com os donos dos rebanhos em regime similar ao de parceria: a cada quatro crias sobreviventes, uma era do vaqueiro. Com o tempo, alguns vaqueiros conseguiram formar seu próprio rebanho.

Houve ainda expansão em direção ao norte da colônia, com os vaqueiros ocupando territórios na Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

A ocupação do sertão a partir da pecuária estendeu-se para além do Nordeste e Norte, principalmente com a descoberta de ouro na região de Minas Gerais. Ainda seguindo o curso contrário do São Francisco, os vaqueiros chegaram próximos às áreas de mineração em território mineiro. Os metais preciosos fizeram com que os vaqueiros se dirigissem também ao oeste da colônia, chegando a Goiás e a Mato Grosso.

Outra região que passou a ser também ocupada por vaqueiros e fazendas de gado foi a região Sul da colônia. Nos pampas, foi encontrado ambiente propício à criação de gado. Esse foi o local em que a pecuária mais se desenvolveu.

Além do couro retirado do gado, era produzido também a carne-seca (ou charque, como era conhecida no sul), muito consumida durante o período colonial, em virtude do tempo de conservação. A produção de gado cresceu para atender ao mercado interno da colônia, que ganhou impulso após a mineração.

O mercado interno levou ainda à criação de rotas para a circulação das mercadorias produzidas, sendo as mulas e burros os meios de transporte utilizados. Nas regiões onde se localizavam as fazendas, formaram-se locais de descanso e comercialização de diversos produtos. Além disso, povoados, aldeias e cidades floresceram, das quais podem ser citadas Feira de Santana, na Bahia, e Vacaria, no Rio Grande do Sul.

Além da questão econômica e territorial, a pecuária serviu ainda como base de formação de uma cultura sertaneja, que tem suas peculiaridades em cada uma das regiões em que se desenvolveu.


Por Me. Tales Pinto

Durante o período colonial, a empresa açucareira foi o grande investimento dos portugueses nas terras brasileiras. Contudo, as necessidades de consumo das populações nativas serviram para o desenvolvimento de outras atividades econômicas destinadas à subsistência. Tais empreendimentos econômicos ficaram comumente conhecidos como atividades acessórias ou secundárias e costumava abranger o plantio de pequenas e médias culturas e produção de algodão, rapadura, aguardente, tabaco e mandioca.

Nesse cenário a atividade pecuarista também começou a ganhar espaço com a importação de algumas reses utilizadas para o trabalho nos engenhos de açúcar. Com o passar do tempo, o crescimento do rebanho de gado acabou causando problemas no interior das plantações de açúcar, que tinham parte de sua plantação destruída pela ação desses animais. Com isso, o lucro a ser alcançado com a produção açucareira se incompatibilizava com a incômoda presença do gado dentro das fazendas.

A questão chegou a ser tratada pelas autoridades metropolitanas, que estabeleceram um decreto que proibia a realização de qualquer atividade pecuarista nas regiões litorâneas do Brasil. A medida, apesar de seu caráter visivelmente restritivo, acabou impulsionando a criação de gado no interior do território de forma extensiva com o uso de pastagens naturais. Segundo algumas estimativas, no século XVII, a atividade alcançava várias regiões nordestinas e contava com mais de 600 mil cabeças.

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Além de se constituir enquanto uma atividade econômica alternativa aos projetos de exploração colonial, a pecuária também instituiu novas relações de trabalho alheias ao uso da mão-de-obra escrava. Geralmente, a pecuária necessitava de um pequeno número de trabalhadores e tinha sua mão-de-obra composta por trabalhadores livres de origem branca, negra, indígena ou mestiça. Além disso, o pagamento pelos serviços prestados era comumente realizado com o repasse de novos animas que surgiam no rebanho.

Com o surgimento das atividades mineradoras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a pecuária ampliou seu mercado consumidor estabelecendo novas frentes de expansão no Nordeste e na região Sul do território. Além de servir para o abastecimento da população, a atividade pecuarista também consolidou um próspero comércio de eqüinos e muares usados para o transporte de pessoas e mercadorias. Geralmente, eram organizadas feiras em alguns centros urbanos do interior onde esses animais eram negociados.

Além de ocupar uma importante posição no ambiente colonial, a expansão da pecuária foi de grande importância no processo de ampliação do território. Paralelamente, após a decadência da atividade mineradora no interior, a pecuária também se consolidou como uma nova atividade que substituiria o vazio econômico deixado pelo escasseamento das minas.

Por Rainer Sousa
Graduado em História

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SOUSA, Rainer Gonçalves. "Pecuária no período colonial"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/pecuaria-no-periodo-colonial.htm. Acesso em 01 de janeiro de 2023.

De estudante para estudante


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Por que o rio São Francisco foi tão importante para a expansão da criação de gado no Brasil?

No século XVII, segundo alguns relatos históricos, o rebanho já somava cerca de 650 mil cabeças. Durante a descoberta do ouro em Minas Gerais no século XVIII, a pecuária se estendeu pela bacia do São Francisco e pelo cerrado do planalto central. A partir daí, o rio São Francisco ficou conhecido como “Rio dos Currais”.

Qual a importância do rio São Francisco para a agricultura?

“A importância do Rio São Francisco vai além da produção de energia. A exemplo da fruticultura irrigada envolvida no Vale do São Francisco, entre as regiões de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), onde há a maior produção de frutas como manga e uva voltadas para a exportação”.

Qual é a importância do rio São Francisco para as regiões por onde ele passa?

As águas do rio São Francisco abastecem boa parte da região do semiárido, levando água a muitas comunidades que convivem com a seca extrema. Portanto, é um rio de extrema importância não só econômica, mas cultural e social. É conhecido como “rio da integração nacional” por ligar as regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.

É uma importante característica do rio São Francisco?

O Rio São Francisco é considerado um dos maiores e mais importantes rios do Brasil por causa da sua relevância econômica, cultural e social, especialmente para as regiões Nordeste e Sudeste. O rio perpassa seis estados do país e possui diversos afluentes, abastecendo diversas áreas que convivem com a seca extrema.