Quem possui deficiência intelectual também possui deficiência física?

Quem possui deficiência intelectual também possui deficiência física?
Crédito: Getty Images

Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva costumam apresentar dificuldades para resolver problemas, compreender ideias abstratas (como as metáforas, a noção de tempo e os valores monetários), estabelecer relações sociais, compreender e obedecer a regras, e realizar atividades cotidianas - como, por exemplo, as ações de autocuidado.

A capacidade de argumentação desses alunos também pode ser afetada e precisa ser devidamente estimulada para facilitar o processo de inclusão e fazer com que a pessoa adquira independência em suas relações com o mundo.

As causas são variadas e complexas, sendo a genética a mais comum, assim como as complicações perinatais, a má-formação fetal ou problemas durante a gravidez. A desnutrição severa e o envenenamento por metais pesados durante a infância também podem acarretar problemas graves para o desenvolvimento intelectual.

O Instituto Inclusão Brasil estima que 87% das crianças brasileiras com algum tipo de deficiência intelectual têm mais dificuldades na aprendizagem escolar e na aquisição de novas competências, se comparadas a crianças sem deficiência. Mesmo assim, é possível que a grande maioria alcance certa independência ao longo do seu desenvolvimento. Apenas os 13% restantes, com comprometimentos mais severos, vão depender de atendimento especial por toda a vida.

Como lidar com alunos com deficiência intelectual na escola?

Segundo a psicopedagoga especialista em Inclusão, Daniela Alonso, as limitações impostas pela deficiência dependem muito do desenvolvimento do indivíduo nas relações sociais e de seus aprendizados, variando bastante de uma criança para outra.

Em geral, a deficiência intelectual traz mais dificuldades para que a criança interprete conteúdos abstratos. Isso exige estratégias diferenciadas por parte do professor, que diversifica os modos de exposição nas aulas, relacionando os conteúdos curriculares a situações do cotidiano, e mostra exemplos concretos para ilustrar ideias mais complexas.

Para a especialista, o professor é capaz de identificar rapidamente o que o aluno não é capaz de fazer. O melhor caminho para se trabalhar, no entanto, é identificar as competências e habilidades que a criança tem. Propor atividades paralelas com conteúdos mais simples ou diferentes, não caracteriza uma situação de inclusão. É preciso redimensionar o conteúdo com relação às formas de exposição, flexibilizar o tempo para a realização das atividades e usar estratégias diversificadas, como a ajuda dos colegas de sala - o que também contribui para a integração e para a socialização do aluno.

Em sala, também é importante a mediação do adulto no que diz respeito à organização da rotina. Falar para o aluno com deficiência intelectual, previamente, o que será necessário para realizar determinada tarefa e quais etapas devem ser seguidas é fundamental.

A deficiência múltipla é uma associação de duas ou mais deficiências primárias como física, mental, visual ou auditiva, no mesmo indivíduo. As pessoas com deficiência múltipla apresentam comprometimento que causam atrasos no desenvolvimento, na aprendizagem e na capacidade administrativa.

Entendendo o Conceito de Deficiência Múltipla

De acordo com Política Nacional de Educação Especial (PNEE) a deficiência múltipla é uma “associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiência primárias (mental/ visual/auditiva/física) com comprometimento que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa.

O programa TECNEP (2008) afirma que deficiência múltipla: É a deficiência auditiva ou a deficiência visual associada a outras deficiências (mental e/ou física), como também a distúrbios neurológicos, emocionais, linguagem e desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a sua autossuficiência.

Ainda no campo da definição da deficiência múltipla, o decreto federal nº 5.296 explica que é uma “ associação de duas ou mais deficiências” podendo ser de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social, podendo ser agravada por alguns aspectos, tais como a idade de aquisição, o grau das deficiências e a quantidade de associações que o indivíduo apresenta.

No entanto, não é a soma da associação de deficiências que irá caracterizar a deficiência múltipla, mas sim o “nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as
necessidades educacionais dessas pessoas” (GODÓI, 2006, p. 11).

As causas da deficiência múltipla

As causas que envolvem a deficiência múltipla podem ser várias. Elas podem ser de ordem sensorial, motora e linguística e originada de “ fatores pré-natais, perinatais ou natais e pós-natais, além de situações ambientais tais como: acidentes e traumatismos cranianos, intoxicação química, irradiações, tumores e outras” (SILVA, 2011).

As causas também podem ser por má-formação congênita, Hipotireoidismo, Síndrome de Rett , e por infecções virais como Síndrome da rubéola congênita, ou por doenças sexualmente transmissíveis.

As causas da deficiência múltipla ainda podem ser por Icterícia, infecção do ouvido, falta de oxigênio no cérebro, sarampo, glaucoma, traumatismos, tumor cerebral, toxoplasmose, catarata e casamentos consanguíneos.

O programa TECNEP (2008), também menciona algumas causas como prematuridade, a sífilis congênita e a meningite. Outros fatores também podem ser atribuídos às causas para a deficiência múltipla como doenças venéreas, gravidez de risco, falta de saneamento básico e infecções hospitalares (idem).

De acordo com a Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdo-cegos e dos Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapacem), a forma como a deficiência afetará a vida, o aprendizado de atividades simples e o desenvolvimento da comunicação do indivíduo, varia de acordo com o grau de comprometimento proporcionado pelas deficiências, associado aos estímulos que essa pessoa irá receber ao longo da vida.

Caracterização da deficiência múltipla

De acordo com a Fenapaes (2007, p.23 apud SILVA, 2011) a caracterização da deficiência múltipla deve ser levado em consideração que ela pode apresentar-se mediante a associação das seguintes categorias, dentre outras:

Física e psíquica

São exemplos dessa condição: (a) deficiência física associada à deficiência intelectual; (b) deficiência física associada a transtorno mental.

Sensorial e psíquica

Exemplificam essa condição: (a) Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência intelectual; (b) Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência intelectual; (c) Deficiência auditiva ou surdez associada a transtorno mental.

Sensorial e física 

São exemplos dessa condição: (a) Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência física; (b) Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência física.

Física, psíquica e sensorial 

São ilustrativas dessa condição:

  • a) Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência intelectual;
  • b) Deficiência física associada à deficiência auditiva ou surdez e à deficiência intelectual;
  • c) Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência auditiva ou surdez.

Características Gerais da Criança com Deficiência Múltipla

Crianças com deficiência múltipla apresentam algumas características distintas que as diferem das outras. De acordo com Nascimento (2006,p.11) essas características são:

  • dificuldade na abstração das rotinas diárias, nos gestos ou na comunicação;
  • dificuldades no reconhecimento de pessoas do seu cotidiano;
  • movimentos corporais involuntários;
  • respostas mínimas a estímulos causados por barulhos, toques, entre outros.

De acordo Sbaraini, as crianças com deficiência múltipla, também

  • Aprendem mais lentamente;
  • Tendem a esquecer o que não praticam;
  • Tem dificuldade em generalizar habilidades aprendidas separadamente;
  • Necessitam de instruções organizadas e sistematizadas;
  • Necessita de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia.

Percebe-se assim, que as crianças com deficiência múltipla podem apresentar movimentos estereotipados e repetitivos, não demonstrar conhecer as funções dos objetos, não se comunicar da forma convencional, apresentar resistência ao contato físico, não reter informações entre outros.

Portanto, trabalhar com pessoas com deficiências múltiplas requer um compromisso no que se refere à autonomia da criança ou adolescente, seja na escola, na vida diária ou para a inserção no mundo do trabalho.

A criança com deficiência múltipla e a escola

Ao longo da história, é possível perceber como é difícil a convivência em sociedade, principalmente para as pessoas que não se enquadram nas expectativas de normalidade estabelecidas como padrões sociais, como por exemplo, ser capaz de andar, falar ou desenvolver algum tipo de trabalho.

A sociedade valoriza o que culturalmente se convencionou como belo, sadio, forte, eficiente e produtivo. Dentro desta perspectiva, quem possui estas características é um ser normal.

Todavia, os indivíduos que não se enquadram nesses padrões e que apresentam algum tipo de anomalia, seja ela congênita ou adquirida, são pessoas que trazem consigo o estigma da diferença, maior ainda se essa diferença for expressa na forma de uma deficiência.

Na história da deficiência, as pessoas que não apresentavam os padrões de comportamento ou de desenvolvimento, ou seja, os padrões da normalidade, eram totalmente excluídas do contexto social e da convivência com os demais, inclusive da família.

As pessoas com deficiência não tinham direito a participarem do mercado de trabalho e dos processos educacionais. Portanto, não eram considerados cidadãos. Dessa forma, as pessoas com deficiência carregam consigo a marca do defeito, da degeneração humana devendo ser isolados e castrados para que não procriassem, gerando assim mais pessoas defeituosas.

Em uma rápida análise da trajetória da Educação especial, é possível identificar que o período que antecede o século XX é marcado por atitudes sociais de exclusão educacional de pessoas com deficiência, uma vez que eram consideradas indignas ou incapazes de receberem educação escolar.

Na década de 50, de acordo com a SILVA (2006, p.11), “começaram a surgir as primeiras escolas especializadas e as classes especiais. A Educação Especial se consolidava como um subsistema da Educação comum”.

Essa época, foi um período no qual predominou a concepção científica da deficiência, acompanhada ainda, pela atitude social do assistencialismo, no qual a pessoa com deficiência recebia atendimentos médicos a era preparada de maneira resignada, a uma posição social de submissão.

Nesta época os deficientes são considerados cidadãos, com direitos e deveres, mas de forma assistencialista. Ainda neste mesmo período, as pessoas com deficiência, começam a ter acesso às salas regulares de ensino desde que se adaptassem e não causassem nenhum transtorno ao contexto escolar.

No início da década de 80, quando houve um considerável número de alunos com deficiência começando a frequentar classes regulares de ensino, começou-se a projetar a fase da inclusão.

Dessa forma, intensificou-se a atenção à necessidade de educar os alunos com deficiência no ensino regular, como consequência do aumento de matrículas e insatisfações existentes em relação às modalidades de atendimento em Educação Especial, que para muitos não atendia as necessidades educacionais e sociais dos alunos.

A inclusão de alunos com deficiências múltiplas na escola comum requer não apenas a aceitação da diversidade humana, mas implica em transformação significativa de atitudes e posturas, principalmente em relação à prática pedagógica.

Ao trabalhar com pessoas com deficiência múltipla espera-se que o educador, tenha conhecimentos adequados sobre o que pretende ensinar e que tenha uma metodologia de ensino adequada para que seus alunos assimilem os conteúdos ministrados.

Para que haja um eficaz aprendizado escolar do aluno com necessidades educacionais especiais, é necessário ainda, que o projeto político pedagógico e o currículo da escola estejam em consonância com as necessidades educativas dos alunos, sendo na metodologia de trabalho e formas de avaliação.

É imprescindível que o currículo seja adaptado às necessidades e realidade dos alunos.
As adaptações de acesso ao currículo

  • mobiliário adequado (mesas, cadeiras, triângulo para atividades no solo, equipamentos para atividades em pé e locomoção independente);
  • equipamentos específicos e tecnologia assistida;
  • sistemas alternativos e ampliados de comunicação;
  • adaptação do espaço e eliminação de barreiras arquitetônicas, ambientais, play ground;
  • recursos materiais e didáticos adaptados;
  • recursos humanos especializados ou de apoio;
  • situações diversificadas de aprendizagem e apoio para participação em todas as atividades pedagógicas e recreativas;
  • adaptações de atividades, jogos e brinquedos.

Necessidades Educacionais da criança com Deficiência Múltipla

Para que haja um desenvolvimento e aprendizado significativo das crianças com deficiência múltipla, não basta somente as adaptações no currículo, é também necessário, de acordo com Sbaraini, observar algumas necessidades educacionais dos alunos tais como:

  • Posicionamento e manejo apropriado: evitará dores e complicações posturais, o posicionamento adequado do aluno permitirá que ele veja, ouça, alcance objetos e movimente-se nas diversas atividades;
  • Oportunidades de escolha: oportunizar o aluno a fazer escolhas, para a sua maior e melhor autonomia;
  • Métodos apropriados de comunicação; todas as formas de comunicação devem ser usadas;
  • Estimulação constante, de pessoas que se comuniquem de forma adequada e que proporcionem situações de interação;
  • Planejamento de toda a aprendizagem, incluindo aspectos simples e básicos de vida diária;
  • Interação em ambientes naturais, incluindo pessoas e objetos;
  • Oportunidades de aprendizagem centradas em experiências de vida real;
  • Organização e estruturação dos ambientes para lhes trazer segurança.

Esses são fatores essenciais e capazes de atender à necessidades específicas de aprendizagem dos alunos com deficiência múltipla.

Todavia, para que a criança com deficiência múltipla participe das atividades pedagógicas relevantes para o processo do desenvolvimento e aprendizagem, é necessário um professor atento, capacitado, disponível para dialogar e efetuar a mediação, tanto em termos de comunicação, quanto de ajuda física, na realização das brincadeiras e atividades escolares.

Portanto…

A deficiência múltipla mais do que a soma de várias deficiências, traz diversas consequências no desenvolvimento da criança tanto na sua maneira de conhecer o mundo quanto no desenvolvimento das habilidades adaptativas.

No âmbito escolar, é imprescindível o educador estar atento às competências e necessidades do aluno com deficiência múltipla. É necessário ainda propiciar um ambiente lúdico, buscar atividades adaptadas e funcionais que favoreçam o desenvolvimento da comunicação e das interações sociais dos alunos, respeitando os limites é o tempo de cada educando.

Esses fatores podem determinar o sucesso na aprendizagem dos alunos com deficiência múltipla.

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O que é deficiência física e intelectual?

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Quais os tipos de deficiências físicas e intelectuais?

As várias deficiências podem agrupar-se em quatro conjuntos distintos, sendo eles:.
Deficiência visual..
Deficiência motora..
Deficiência mental..
Deficiência auditiva..
Paralisia cerebral..

Quais são as doenças que são consideradas deficiência física?

Guia Trabalhista.
Tuberculose ativa;.
Hanseníase;.
Alienação mental;.
Esclerose múltipla;.
Hepatopatia grave;.
Neoplasia maligna;.
Cegueira;.
Paralisia irreversível e incapacitante;.

O que é considerado pessoa com deficiência física?

São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem ter obstruída sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.

Quais são os direitos da pessoa com deficiência intelectual?

​A pessoa com deficiência intelectual tem os mesmos direitos que todos os outros cidadãos. Ela tem direito a frequentar a escola regular e deve receber apoio da escola para superar as suas dificuldades/necessidades. Tem direito aos serviços de saúde, aos recursos da comunidade e a oportunidades de trabalho.

Quando é considerado deficiência múltipla?

A deficiência múltipla é a ocorrência de duas ou mais deficiências simultaneamente - sejam deficiências intelectuais, físicas ou ambas combinadas. Não existem estudos que comprovem quais são as mais recorrentes.