Romantismo foi uma escola estética manifesta no início do século XIX nas mais variadas formas — literatura, pintura, música, dramaturgia e filosofia. Suas características, movidas pela inconformidade, pela busca da individualidade e pela idealização sentimental, consolidaram um imaginário próprio e tiveram grande difusão ao redor do mundo. Show
Leia também: Quinhentismo, um movimento histórico e literário Contexto histórico do Romantismo no BrasilNão pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Um dos mais importantes movimentos artísticos do século XIX, o Romantismo está diretamente relacionado com a ascensão da burguesia a partir do fim do Antigo Regime e com as novas relações de trabalho e a urbanização que surgiam a partir da Revolução Industrial. No Brasil, a chegada do Romantismo coincide com a vinda da família real, fugida dos ideais revolucionários que tomavam a Europa na época, reconfigurando as terras brasileiras, antes tidas apenas como colônia de exploração, agora sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A vinda do rei e da corte portuguesa trouxe consigo a criação da imprensa brasileira e do Banco do Brasil, entre outras modernizações, semeando terreno fértil para o desenvolvimento cultural, propulsionado pela vanguarda europeia da época — o Romantismo. Características do Romantismo no Brasil
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Gerações do Romantismo no BrasilO Romantismo no Brasil divide-se principalmente em três gerações: o nacionalismo, o ultrarromantismo e o condoreirismo.
Fruto de um desejo de emancipação e autonomia, o Romantismo brasileiro tem fortes traços nacionalistas. A empreitada romântica envolve o desejo de construir uma identidade nacional. Muitas vezes essa vontade manifesta-se com certa lusofobia, ou seja, uma rejeição à herança cultural portuguesa, em prol da criação de uma tradição cultural brasileira e de uma idealização da pátria, de modo a promover apenas as suas qualidades. A primeira geração dos românticos brasileiros, portanto, é marcadamente nacionalista, expressando-se notadamente com base no ufanismo e no indianismo. Gonçalves de Magalhães (1811-1882) é tido como o autor que introduz o movimento romântico à literatura nacional. Seu livro Suspiros poéticos e saudades, de 1836, é a primeira publicação brasileira que segue as características estéticas do Romantismo. É parte integrante dela o poema O Dia 7 de Setembro, em Paris, um exemplo de poema nacionalista e que evoca a importância da Independência, para o florescimento dos ideais românticos em terras brasileiras, enquanto símbolo de uma identidade nacional: O Dia 7 de Setembro, em Paris Longe do belo céu da Pátria minha, Ausente do saudoso, pátrio ninho, [...] Dia da Liberdade! Mas rápidos os dias se devolvem; (Gonçalves de Magalhães) Embora Gonçalves de Magalhães tenha sido considerado o primeiro romântico brasileiro, Gonçalves Dias (1823-1864) é um dos principais expoentes da primeira geração romântica, consolidando o movimento no Brasil. Um de seus poemas mais famosos, Canção do exílio, expressa a idealização da pátria e tornou-se icônico na cultura brasileira por emprestar dois versos ao Hino Nacional: Canção do exílio Minha terra
tem palmeiras, Nosso céu tem mais estrelas, Em cismar, sozinho, à noite, Minha terra tem primores, Não permita Deus que eu morra, (Gonçalves Dias) Em ambos os poemas, pode-se perceber a hipervalorização da pátria, o enaltecimento da natureza como símbolo nacional e o desejo de consolidar uma identidade brasileira. Gonçalves Dias é ainda autor de inúmeros poemas indianistas. Um desdobramento do nacionalismo do Romantismo brasileiro, o indianismo elege o indígena como imagem ideal da identidade nacional. Os poetas românticos europeus voltam-se ao passado como ferramenta de escape da realidade, e como recurso para construir também as identidades nacionais que surgiam quando do fim do Antigo Regime, evocando figuras de cavaleiros medievais. Enquanto isso, os poetas brasileiros evocam o índio romântico como representante da originalidade do povo brasileiro, que remete a um passado glorioso e reforça o sentimento de unidade nacional. I-Juca Pirama No meio das tabas de amenos verdores, São rudos, severos, sedentos de glória, As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, [...] IV Meu canto de morte, Da tribo pujante, [...] (Gonçalves Dias) Os poemas indianistas são geralmente épicos, estruturados em formas longas, com muitas estrofes e um pano de fundo narrativo que evoca elementos da cosmologia indígena e fragmentos da história da colonização, como A confederação dos tamoios, poema de Gonçalves de Magalhães, que reconta o episódio histórico da revolta dos Tupinambás contra a invasão portuguesa: A confederação dos Tamoios [...] Vós, solitários Gênios dos desertos [...] Apenas há três sóis que uns Emboabas [...] (Gonçalves de Magalhães) No formato da prosa, José de Alencar (1829-1877) é um dos principais autores indianistas, principalmente pela publicação de três romances: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874), conhecidos também como trilogia indianista. Leia também: Dos românticos aos modernos: o essencial da poesia brasileira
Em oposição à primeira, a segunda geração é marcada pelo pessimismo e descrédito aos ideais patrióticos, bem como pela ênfase no sentimentalismo e na forma da literatura confessional. Sua característica maior é a evasão da realidade — seja por meio da arte, do sonho, da lembrança ou da morte. São os chamados byronianos pela influência da obra de Lord Byron (1788-1824), poeta romântico inglês que inspirou diversos autores ultrarromânticos. Estes são também influenciados por Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Alphonse de Lamartine (1790-1869), entre outros. São temas da segunda geração do Romantismo brasileiro o tédio, a melancolia, o mistério, a noite, a desilusão, a frustração, o isolamento, a perda de sentido da vida, a idealização do amor e da mulher, e a solidão, expressos na forma de um individualismo exacerbado. Essa crise de cunho pessimista foi batizada de“mal do século” por expressar um descontentamento com os valores em voga. Álvares de Azevedo (1831-1852), Casimiro de Abreu (1839-1860), Junqueira Freire (1832-1855) e Fagundes Varela (1841-1875) são os principais expoentes do ultrarromantismo no Brasil. Confira um exemplo de poema dessa fase: Adeus, meus sonhos! Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! (Álvares de Azevedo) Álvares de Azevedo escreveu ainda a peça teatral Macário (1855) e o compilado de contos Noite na taverna (1855), obras publicadas postumamente. Veja mais: Literatura de cordel - um grande representante da literatura popular
Influenciados pelo momento histórico do movimento republicano que ganhava forma no Brasil, principalmente pelo surgimento de uma intelectualidade abolicionista, os autores da terceira geração do Romantismo voltam-se para os problemas sociais brasileiros, especialmente a escravidão, propondo a recuperação do negro como símbolo nacional literário. Os ideais de liberdade e igualdade são centrais para os condoreiros, que ganham esse nome em referência ao condor, ave de voo muito alto, com a qual os românticos da terceira geração identificam-se, por representar os desejos também elevados de liberdade. Os condoreiros são também chamados hugoanos, graças à influência da poesia de Victor Hugo (1802-1855), cuja ênfase é transferida do mundo subjetivo, individualista e egocêntrico das primeiras fases do Romantismo para o mundo objetivo, para o outro, para os problemas da sociedade. Os principais temas dos autores condoreiros são o abolicionismo, o fim da idealização do amor e do amor platônico e sua substituição por vivências amorosas reais, e a liberdade como horizonte, em razão das revoltas ante as desigualdades e problemas sociais. Castro Alves (1847-1871) é o grande expoente da terceira geração do Romantismo brasileiro, ao lado de Tobias Barreto (1839-1889), Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902) e Victoriano Palhares (1840-1890). Navio negreiro [...] Senhor Deus dos desgraçados! [...] (Castro Alves) Publicado por Luiza Brandino Qual foi o papel do Romantismo na construção de uma identidade nacional?Na Europa, o Romantismo foi a tendência que dominou a produção artística de boa parte do século XIX. No Brasil, essa mesma estética teve o papel de orientar a produção das obras nacionais regradas a uma visão paradisíaca que os autores dão à nossa terra local.
O que é identidade nacional no Romantismo?Romantismo e Modernismo podem ser considerados dois momentos significativos no processo de delimitação e definição da nossa identidade nacional, o primeiro por marcar o rompimento entre Brasil e Portugal, estabelecendo uma oposição entre os caracteres brasileiros e os estrangeiros, garantindo, assim, um reconhecimento ...
Qual a proposta do o projeto romântico de construção da identidade nacional?Era um dos objetivos dos românticos brasileiros representar a pátria como perfeita, para que o mundo, no caso a Europa, a visse assim. A valorização do nacional também foi muito importante para criar um sentimento de orgulho e patriotismo entre os brasileiros.
Como se dá a construção de uma identidade nacional?A identidade nacional é construída, dialogicamente, a partir de uma autodescrição da cultura. Dois grandes princípios regem as culturas: o da exclusão e o da participação. Com base neles, elas autodescrevem-se como culturas da mistura ou da triagem. A cultura brasileira considera- se uma cultura da mistura.
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