O Vendedor de sonhos - O chamado pdf

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Publicado em: 2021-06-30

O Vendedor de sonhos - O chamado pdf
O Vendedor de Sonhos
Augusto Cury
Romance
Editora: Academia de Inteligência
ISBN: 9788560096275
Ano: 2009
Edição: 1
Digitalizado por: Artemio Pril a
Reeditado por SusanaCap
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Semeadores da Palavra e-books
evangélicos
Dedico este romance aos queridos
leitores de todos os países onde meus
livros têm sido publicados. Em
especial aos que de alguma forma
vendem sonhos por meio da sua
inteligência, crítica, sensibilidade,
generosidade, amabilidade. Os
vendedores de sonhos são
freqüentemente estranhos no ninho
social. São anormais. Pois o normal é
chafurdar na lama do individualismo,
do egocentrismo, do personalismo. O
seu legado será inesquecível. Prefácio
Este é meu quarto livro de ficção e meu
vigésimo segundo livro. Meus
romances, como O futuro da
humanidade e A ditadura da beleza,
não objetivam criar tramas que apenas
entretêm, divertem, excitam a emoção.
Todos eles envolvem teses
psicológicas, psiquiátricas,
sociológicas e filosóficas. Têm a
intenção de provocar o debate, viajar
no mundo das idéias e ultrapassar as
fronteiras do preconceito.
Escrevo continuamente há mais de
vinte e cinco anos e publico há pouco
mais de oito anos. Tenho mais de 3 mil
páginas ainda inéditas, não publicadas.
Muitos não entendem por que meus
livros são tão procurados, já que não
tenho atração por propagandas e,
dentro do possível, possuo uma vida
social um tanto reclusa. Talvez seja-
por causa das viagens pelo território do
insondável mundo da mente humana.
Sinceramente, não mereço esse
sucesso. Não sou um autor capaz de
produzir textos com agilidade. Sou,
sim, um escritor determinado. Costumo
brincar que sou um grande teimoso.
Procuro ser um artesão das palavras.
Escrevo e reescrevo continuamente
cada parágrafo, dia e noite, como se
fosse um escultor compulsivo. Você
vai ver neste romance diversos
pensamentos que foram esculpidos
depois de terem sido reescritos,
forjados em minha psique dez ou vinte
vezes. Há livros que saem do cerne do
intelecto; outros saem das entranhas da
emoção. O vendedor de sonhos saiu dos
recônditos desses dois espaços. Há
muitos anos o venho elaborando, até
que chegou o momento de escrevê-lo.
Enquanto o escrevia, fui bombardeado
com inumeráveis questionamentos,
sorri muito e ao mesmo tempo repensei
nossas loucuras, pelo menos as minhas.
Este romance passeia pelos vales do
drama e da sátira, pela tragédia dos que
perderam e pela ingenuidade dos que
fizeram da existência o picadeiro de
um circo.
O personagem principal é dotado de
uma ousadia sem precedente. Ele
esconde muitos segredos. Nada,
ninguém consegue controlar seus
gestos e palavras, a não ser sua própria
consciência. Sai bradando aos quatro
ventos que as sociedades modernas se
tornaram um grande manicômio global,
onde o normal é ser ansioso,
estressado, e o anormal é ser saudável,
tranqüilo, sereno. Ele instiga a mente
de todos os que passam por ele, seja
nas ruas, nas empresas, nos shoppings,
nas escolas, com o método socrático.
Torpedeia as pessoas com inumeráveis
perguntas.
Sonho que este livro possa ser lido não
apenas pelos adultos, mas também
pelos jovens, pois penso que muitos
deles estão se tornando servos passivos
do sistema social. Não são arrebatados
pelos sonhos e pelas aventuras.
Tornaram-se, apesar das exceções,
consumidores de produtos e serviços e
não de idéias. Entretanto, consciente ou
inconscientemente, todos querem uma
vida regada a emoções borbulhantes,
até bebês quando se arriscam a sair do
berço. Mas onde encontrá-las em
abundância? Em que espaço da
sociedade tais emoções se encontram?
Alguns pagam muito dinheiro para
consegui-las, mas vivem angustiados.
Outros se desesperam em busca de
fama e reputação, mas morrem
entediados. Outros ainda escalam
íngremes montanhas para ter algumas
doses de aventura, mas elas se
dissipam no calor do dia seguinte. Na
contramão da massacrante rotina social
estão os personagens deste romance.
Eles viverão altas doses de adrenalina
diariamente. Entretanto, o "negócio" de
vender sonhos tem um alto preço. Por
isso, riscos e vendavais os
acompanharão.
O Encontro
No mais inspirador dos dias, sexta-
feira, cinco da tarde, pessoas
apressadas — como de costume —
paravam e se aglomeravam num
entroncamento central da grande
metrópole. Olhavam para o alto,
aflitas, no cruzamento da Rua América
com a Avenida Europa. O som
estridente de um carro de bombeiros
invadia os cérebros, anunciando perigo.
Uma ambulância procurava furar o
trânsito engarrafado para se aproximar
do local. Os bombeiros chegaram com
rapidez e isolaram a área, impedindo os
espectadores de se aproximar do
imponente Edifício San Pablo,
pertencente ao grupo Alfa, um dos
maiores conglomerados empresariais
do mundo. Os cidadãos se
entreolhavam, e os transeuntes que
chegavam pouco a pouco traziam no
semblante uma interrogação. O que
estaria acontecendo? Que movimento
era aquele? As pessoas apontavam para
o alto. No vigésimo andar, num
parapeito do belo edifício de vidro
espelhado, debruçava-se um suicida.
Mais um ser humano queria abreviar a
já brevíssima existência. Mais uma
pessoa planejava desistir de viver. Era
um tempo saturado de tristeza.
Morriam mais pessoas interrompendo a
própria vida do que nas guerras e nos
homicídios. Os números deixavam
atônitos os que refletiam sobre eles. A
experiência do prazer havia se tornado
larga como um oceano, mas tão rasa
quanto um espelho d’água. Muitos
privilegiados financeira e
intelectualmente viviam vazios,
entediados, ilhados em seu mundo. O
sistema social assolava não apenas os
miseráveis, mas também os abastados.
O suicida do San Pablo era um homem
de quarenta anos, face bem torneada,
sobrancelhas fortes, pele de poucas
rugas, cabelos grisalhos semilongos e
bem-tratados. Sua erudição, esculpida
por muitos anos de instrução, agora se
resumia a pó. Das cinco línguas que
falava, nenhuma lhe fora útil para falar
consigo mesmo; nenhuma lhe dera
condições de compreender o idioma de
seus fantasmas interiores. Fora
asfixiado por uma crise depressiva.
Vivia sem sentido. Nada o encantava.
Naquele momento, apenas o último
instante parecia atraí-lo. Esse
fenômeno monstruoso que costumam
chamar de morte parecia tão
aterrador... mas era, também, uma
solução mágica para aliviar os
transtornos humanos. Nada parecia
demover aquele homem da idéia de
acabar com a própria vida. Ele olhou
para cima, como se quisesse se redimir
do seu último ato, olhou para baixo e
deu dois passos apressados, sem se
importar em despencar. A multidão
sussurrou de pavor, pensando que ele
saltaria.
Alguns observadores mordiam os
dedos em grande tensão. Outros nem
piscavam os olhos, para não perder
detalhes da cena
— o ser humano detesta a dor, mas tem
uma fortíssima atração por ela; rejeita
os acidentes, as mazelas e misérias,
mas eles seduzem sua retina. O
desfecho daquele ato traria angústia e
insônia aos espectadores, mas eles
resistiam a abandonar a cena de terror.
Em contraste com a platéia ansiosa, os
motoristas parados no trânsito estavam
impacientes, buzinavam sem parar.
Alguns colocavam a cabeça janela
afora e vociferavam: ”Pula logo e
acaba com esse show!”.
Os bombeiros e o chefe de polícia
subiram até o topo do edifício para
tentar dissuadir o suicida. Não tiveram
êxito. Diante do fracasso, um
renomado psiquiatra foi chamado às
pressas para realizar a empreitada. O
médico tentou conquistar a confiança
do homem, estimulou-o a pensar nas
conseqüências daquele ato... mas nada.
O suicida estava farto de técnicas, já
havia feito quatro tratamentos
psiquiátricos malsucedidos. Aos
berros, ameaçava:
”Mais um passo e eu pulo!”. Tinha uma
única certeza, ”a morte o silenciaria”,
pelo menos acreditava que sim. Sua
decisão estava tomada, com ou sem
platéia. Sua mente se fixava em suas
frustrações, remoia suas mazelas,
alimentava a fervura da sua angústia.
Enquanto se desenrolavam esses
acontecimentos no alto do edifício,
apareceu sorrateiramente um homem
no meio da multidão, pedindo
passagem. Aparentemente era mais um
caminhante, só que malvestido. Trajava
uma camisa azul de mangas compridas
desbotada, com algumas manchas
pretas. E
um blazer preto amassado. Não usava
gravata. A calça preta também estava
amassada, parecia que não via água há
uma semana. Cabelos grisalhos ao
redor da orelha, um pouco compridos e
despenteados. Barba relativamente
longa, sem cortar há algum tempo. Pele
seca e com rugas sobressaltadas no
contorno dos olhos e nos vincos do
rosto, evidenciando que às vezes
dormia ao relento. Tinha entre trinta e
quarenta anos, mas aparentava mais
idade. Não expressava ser uma
autoridade política nem espiritual, e
muito menos intelectual. Sua figura
estava mais próxima de um
desprivilegiado social do que de um
ícone do sistema.
Sua aparência sem magnetismo
contrastava com os movimentos
delicados dos seus gestos. Tocava
suavemente os ombros das pessoas,
abria um sorriso e passava por elas. As
pessoas não sabiam descrever a
sensação que tinham ao ser tocadas por
ele, mas eram estimuladas a abrir-lhe
espaço. O caminhante aproximou-se do
cordão de isolamento dos bombeiros.
Foi impedido de entrar. Mas,
desrespeitando o bloqueio, fitou os
olhos dos que o barravam e expressou
categoricamente:
— Eu preciso entrar. Ele está me
esperando. — Os bombeiros o olharam
de cima a baixo e menearam a cabeça.
Parecia mais alguém que precisava de
assistência do que uma pessoa útil
numa situação tão tensa.
— Qual o seu nome? — indagaram
sem pestanejar.
— Não importa neste momento! —
respondeu firmemente o
misterioso homem..
— Quem o chamou? — questionaram
os bombeiros.
— Você saberá! E se demorarem me
interrogando, terão de preparar mais
um funeral — disse, elevando os olhos.
Os bombeiros começaram a suar. Um
tinha síndrome do pânico, outro era
insone. A última frase do misterioso
homem os perturbou. Ousadamente ele
passou por eles. Afinal de contas,
pensaram, ”talvez seja um psiquiatra
excêntrico ou um parente do suicida”.
Chegando ao topo do edifício, foi
barrado novamente. O chefe de polícia
foi grosseiro.
— Parado aí. Você não devia estar
aqui. — Disse que ele deveria descer
imediatamente. Mas o enigmático
homem fitou-lhe os olhos e retrucou:
— Como não posso entrar, se fui
chamado?
O chefe de polícia olhou para o
psiquiatra, que olhou para o chefe dos
bombeiros. Faziam sinais um para o
outro para saber quem o chamara.
Bastaram alguns segundos de distração
para que o misterioso malvestido saísse
da zona de segurança e se aproximasse
perigosamente do homem que estava
próximo de seu último fôlego.
Quando o viram, não dava mais tempo
para interrompê-lo. Qualquer
advertência que fizessem contra ele
poderia desencadear o acidente,
levando o suicida a executar sua
intenção. Tensos, preferiram aguardar
o desenrolar dos fatos.
O homem chegou sem pedir licença e
sem se perturbar com a possibilidade
de o suicida se atirar do edifício.
Pegou-o de surpresa, ficando a três
metros dele. Ao perceber o invasor, o
outro gritou imediatamente:
— Vá embora, senão vou me matar!
O forasteiro ficou indiferente a essa
ameaça. Com a maior naturalidade do
mundo, sentou-se no parapeito do
edifício, tirou um sanduíche do bolso
do paletó e começou a comê-lo
prazerosamente. Entre uma mordida e
outra, assoviava uma música, feliz da
vida.
O suicida ficou abalado. Sentiu-se
desprestigiado, afrontado,
desrespeitado em seus sentimentos.
Aos berros, clamou:
— Pare com essa música. Eu vou me
jogar. Intrépido, o estranho homem
reagiu:
— Você quer fazer o favor de não
perturbar meu jantar?!
- disse com veemência. E deu mais
umas boas mordidas, mexendo as
pernas com prazer. Em seguida, olhou
para o suicida e fez um gesto,
oferecendo-lhe um pedaço.
Ao ver esse gesto, o chefe de polícia
tremulou os lábios, o psiquiatra
estatelou os olhos e o chefe dos
bombeiros franziu a testa, perplexo.
O suicida ficou sem reação. Pensou
consigo: ”Não é possível!
Achei alguém mais maluco do que eu”.
Ver alguém comer um sanduíche com
eloqüente prazer diante de quem estava
para se matar era um cena surreal.
Parecia extraída de um filme. O suicida
fechou parcialmente os olhos,
aumentou um pouco a freqüência
respiratória e contraiu ainda mais os
músculos da face. Não sabia se atirava,
se gritava, se bronqueava com o
estranho. Ofegante, bradou,
altissonante:
— Se manda! Eu vou me atirar. — E
ficou a um fio de cair. Parecia que
dessa vez ele realmente se
esborracharia no chão. A multidão
sussurrou, apavorada, e o chefe de
polícia colocou as mãos nos olhos para
não ver a desgraça.
Todos esperavam que, para evitar o
acidente, o estranho homem se
retirasse imediatamente de cena. Ele
poderia dizer, como fizeram o
psiquiatra e o policial: ”Não faça isso!
Eu vou embora”, ou dar um conselho
do tipo: ”A vida é bela. Você pode
superar seus problemas. Você tem
muitos anos pela frente”. Entretanto,
num sobressalto, colocou-se
rapidamente em pé e, para assombro de
todos e em especial do suicida, bradou
um poema filosófico em voz alta.
Declamava-o para os céus e apontava
as mãos na direção daquele que queria
exterminar seu fôlego de vida:
Seja anulado no parêntese do tempo o
dia em que
este homem nasceu!
Que na manhã desse dia seja dissipado
o orvalho
que
Umedece a relva!
Que seja retida a claridade da tarde que
trouxe júbilo
aos caminhantes!
Que a noite em que este homem foi
concebido seja
usurpada pela angústia!
Resgate-se dessa noite o brilho das
estrelas que pontilhavam o céu!
Recolham-se da sua infância seus
sorrisos e seus
medos!
Anulem-se da sua meninice suas
peripécias e suas
aventuras!
Risquem-se da sua maturidade seus
sonhos e pesadelos,
sua lucidez e suas loucuras!
Após ter recitado o poema a plenos
pulmões, o estranho expressou um ar
de tristeza e, abaixando o tom de voz,
disse o número um, sem dar qualquer
explicação da contagem. A multidão,
atônita, perguntava-se se aquilo não era
uma peça de teatro a céu aberto.
Tampouco o policial sabia como
reagir: seria melhor intervir ou
continuar acompanhando o desenrolar
dos fatos? O chefe dos bombeiros
olhou para o psiquiatra, pedindo
explicações. Confuso, ele disse:
— Não conheço nada na literatura
sobre anular a existência, recolher
sorrisos. Não entendo de poesia... Deve
ser mais um maluco!
O suicida ficou pasmado, quase em
estado de choque. As palavras do
forasteiro ecoaram em sua mente sem
que ele lhes desse permissão.
Indignado, reagiu com violência:
— Quem é você para querer assassinar
o meu passado?! Que direito tem de
destruir minha infância? Que ousadia é
essa? —
Após agredir o invasor com essas
frases, caiu em si e pensou:
”Será que não sou eu o autor desse
assassinato?”. Mas lutava para dissipar
qualquer ponderação.
Vendo-o circunspecto, o misterioso
homem teve o atrevimento de provocá-
lo ainda mais:
— Cuidado! Pensar é perigoso,
principalmente para quem quer morrer.
Se quiser se matar, não pense.
O suicida ficou embaraçado; fora
fisgado pelo invasor. Pensou consigo:
”Esse sujeito está me encorajando a
morrer ou o quê?
Será que estou diante de um sádico?
Será que ele quer ver sangue?”.
Sacudiu a cabeça, como se assim
pudesse interromper seus devaneios,
mas os pensamentos sempre traem os
desejos impulsivos. Percebendo a
confusão mental do suicida, o estranho
homem falou com suavidade, mas com
não menos contundência:
— Não pense! Porque, se você pensar,
vai perceber que quem se mata comete
homicídios múltiplos: mata primeiro a
si, e depois, aos poucos, os que ficam.
Se pensar, entenderá que a culpa, os
erros, as decepções e as desgraças são
privilégios de uma vida consciente. A
morte não tem esses privilégios! — Em
seguida, o forasteiro saiu do estado de
segurança e passou para o de angústia.
Disse o número quatro e movimentou
indignadamente a cabeça.
O suicida ficou paralisado. Queria
rejeitar as idéias do forasteiro, mas elas
pareciam um vírus penetrando nos
circuitos de sua mente. Que palavras
eram aquelas? Perturbado e tentando
resistir às reflexões, enfrentou o
forasteiro:
— Quem é você que, em vez de me
poupar, me confronta? Por que não me
trata como um miserável doente
mental, digno de pena? — e,
aumentando o tom de voz, decretou: —
Cai fora! Sou um homem
completamente acabado.
Em vez de se intimidar, o estranho
homem perdeu a paciência e censurou
seu interlocutor perturbado:
— Quem disse que você é uma pessoa
frágil ou um pobre deprimido que
esgotou o prazer de viver? Ou um
desprivilegiado... um frustrado? Ou um
moribundo que não consegue carregai o
peso das suas perdas? Para mim, você
não é nada disso. Para mim, você é
apenas um homem orgulhoso, preso na
sua gaiola emocional, alienado de
misérias maiores que a sua.
O suicida colocou as duas mãos para
trás e se afastou, assustado, da linha de
tiro em que se encontrava. Com raiva e
a voz já embargada, indagou:
— Quem é você para me chamar de
orgulhoso, um prisioneiro em minha
gaiola emocional? Quem é você para
dizer que estou alienado de sofrimentos
maiores que os meus?!
Ele sentia-se alvejado no peito, sem ar.
O intruso acertara na mosca. Seus
pensamentos penetraram como um raio
nos recônditos da sua psique. Naquele
momento, o triste homem pensou no
pai, que lhe esmagara a infância, lhe
causara muita dor. Seu pai
emocionalmente distante, alienado,
enclausurado em si mesmo. Mas o
suicida não tocava nesse assunto com
ninguém; era-lhe extremamente difícil
lidar com as cicatrizes do passado.
Atingido por essas recordações
angustiantes, disse em tom mais
ameno, com lágrimas nos olhos:
—Cale-se. Não fale mais nada. Deixe-
me morrer em paz. Ao perceber que
havia tocado numa ferida profunda, o
homem que o questionava diminuiu
também o tom de voz.
— Eu respeito a sua dor e não posso
elaborar nenhuma tese sobre ela. Sua
dor é única, e é a única que você
consegue realmente sentir. Ela te
pertence e a mais ninguém.
Essas palavras iluminaram os
pensamentos do homem quase em
prantos. Ele entendeu que ninguém
pode julgar a dor dos outros.
Compreendeu que a dor de seu pai era
única e, portanto, não poderia ser
sentida ou avaliada por mais ninguém a
não ser por ele mesmo. Sempre
condenara veementemente seu pai, mas
começou a vê-lo, pela primeira vez,
com outros olhos. Nesse instante, para
sua surpresa, o intruso lhe teceu
algumas palavras que era difícil dizer
se eram elogios ou críticas:
— Para mim, você é também um ser
humano corajoso, pois tenciona
esmagar seu corpo em troca de uma
longa noite de sono no claustro de um
túmulo! É, sem dúvida, uma bela ilusão
— e interrompeu seu discurso, para que
o suicida se desse conta das
conseqüências imprevisíveis do seu
ato.
Mais uma vez, o homem deprimido
interrogou-se sobre aquela estranha
figura que havia surgido para
atrapalhar seus planos. Que homem era
esse? Que palavras! Uma noite de sono
eterno no claustro de um túmulo... essa
idéia lhe causava repugnância. Porém,
insistindo em levar seu projeto adiante,
rebateu:
— Não vejo motivo para continuar esta
merda de vida! —
resmungou veementemente, e franziu a
testa, atormentado pelas idéias que
vinham sem pedir licença. O forasteiro
calibrou a potente voz e o confrontou
energicamente:
— Merda de vida? Mas que ingratidão!
Seu coração, nesse instante, deve estar
querendo rasgar seu tórax e protestar
com lágrimas de sangue o extermínio
da vida! — e, com rara eloqüência,
mudou o timbre, tentando traduzir a
voz do coração do suicida: — ”Não!
Não! Tenha compaixão de mim! Eu
bombeei seu sangue incansavelmente,
milhões de vezes. Supri suas
necessidades... fui seu servo sem
reclamar. E agora você quer me calar,
sem nem me dar direito de defesa?
Ora... eu fui o mais fiel dos escravos. E
qual é o meu prêmio? Qual a minha
recompensa?
Uma morte estúpida! Você quer
interromper minha pulsação só
para estancar seu sofrimento. Ah! Mas
que tremendo egoísta você
é! Quem me dera eu lhe pudesse
bombe...

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Comentários para: O Vendedor de Sonhos - O Chamado - Augusto Cury

O que aprendemos com o livro O vendedor de sonhos?

Tirar lições das frases do livro Entre elas podemos destacar: "O ser humano não morre quando o coração para de bater, morre de alguma forma quando deixa de se sentir importante". "O ontem passou, temos o hoje na nossa frente e você pode fazer dele o que quiser". "Não tenha medo do caminho, tenha medo de não caminhar".

Qual a mensagem do filme O Vendedor de Sonhos?

No filme, aprendemos o quanto manter em nós um sentimento ruim por alguém pode acabar sendo corrosivo. Aprendemos também a importância de nunca se esquecer, mas sempre tentar aplicar compreensão a situações que muitas vezes parecem impossíveis de entender plenamente.

O que representa o vendedor de sonhos?

Sendo assim, o “vendedor de sonhos” – aquele que promete tudo que pode só pra concretizar a venda, que oculta informações dos clientes e muitas vezes mente para vender, não tem mais espaço.

Quem é o mestre do vendedor de sonhos?

A trama conta a história do personagem Júlio César (Mateus Carrieri), que tenta o suicídio e é impedido de cometer o ato por intermédio de um mendigo, o Mestre (Luiz Amorim), que lhe vende uma vírgula, para que continue a escrever a sua história.