O que significa dizer que a língua e um conjunto de variedades?

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Autor: Marcos Bagno,

Instituição: Universidade de Brasília-UnB,

O termo variação se aplica a uma característica das línguas humanas que faz parte de sua própria natureza: a heterogeneidade. A palavra língua nos dá uma ilusão de uniformidade, de homogeneidade, que não corresponde aos fatos. Quando nos referimos ao português, ao francês, ao chinês, ao árabe etc., usamos um rótulo único para designar uma multiplicidade de modos de falar decorrente da multiplicidade das sociedades e das culturas em que as línguas são faladas. Cada um desses modos de falar recebe o nome de variedade linguística. Por isso, muitos autores definem língua como “um conjunto de variedades” e substituem a noção da língua como um sistema pela noção da língua como um polissistema, formado por essas múltiplas variedades.

A variação linguística se manifesta desde o nível mais elevado e coletivo – quando comparamos, por exemplo, o português falado em dois países diferentes (Brasil e Angola) – até o nível mais baixo e individual, quando observamos o modo de falar de uma única pessoa, a tal ponto que é possível dizer que o número de “línguas” num país é o mesmo de habitantes de seu território. Entre esses dois níveis extremos, a variação é observada em diversos outros níveis: grandes regiões, estados, regiões dentro dos estados, classes sociais, faixas etárias, níveis de renda, graus de escolarização, profissões, acesso às tecnologias de informação, usos escritos e usos falados.

A consciência de que a língua é variável remonta à Antiguidade, quando os primeiros estudiosos da língua grega tentaram sistematizá-la para o ensino e para a crítica literária. Eles, no entanto, fizeram uma avaliação negativa da variação, que viram como um obstáculo para a unificação territorial e para a difusão da língua. Foi nessa época (século III a.C.) que surgiu a disciplina chamada gramática, dedicada explicitamente a criar um modelo de língua que se elevasse acima da variação e servisse de instrumento de controle social por meio de um instrumento linguístico. A consequência cultural desse processo histórico é que o termo língua passou a ser usado, no senso comum, para rotular exclusivamente esse modelo idealizado, literário, enquanto todos os usos reais, principalmente falados, foram lançados à categoria do erro.

Com os avanços das ciências da linguagem, essa visão foi abandonada: o exame minucioso de cada variedade linguística revela que ela tem sua própria lógica gramatical, é tão regrada quanto a língua literária idealizada, e serve perfeitamente bem como recurso de interação e integração social para seus falantes. Diante disso, um novo projeto de educação linguística vem se formando: é preciso ampliar o repertório e a competência linguística dos aprendizes, levá-los a se apoderar da escrita e dos muitos gêneros discursivos associados a ela, sem contudo desprezar suas variedades linguísticas de origem, valorizando-as, ao contrário, como elementos formadores de sua identidade individual e social e como patrimônio cultural do país.


Verbetes associados: Dialeto, Gêneros do discurso, Língua,


Referências bibliográficas:
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2013.

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Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF)
Graduação em Letras (Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira, FUNCESI)

Ouça este artigo:

A variação linguística é o conjunto de diferentes formas linguísticas, chamadas de “variantes”, que exprimem o mesmo sentido. Isso significa que, como falantes de uma mesma língua, podemos nos referir as mesmas coisas, mas de modos diferentes. É importante destacar que a variação é algo inerente ao sistema da língua, realizando-se nos níveis fonético, morfológico, sintático, etc.

Tipos de variações linguísticas

Variações diatópicas

São as variações linguísticas em espaços geográficos diferentes. Nesse contexto, entram em cena os regionalismos, que são os falares típicos de cada região do país. O modo de falar do mineiro difere do modo de falar do baiano, que difere do modo de falar do gaúcho e assim por diante. As diferenças, em termos de pronúncia e do uso de determinadas expressões, não impedem que os falantes se interajam, pois partilham o mesmo sistema linguístico, uma unidade linguística. Em outras palavras, falam a mesma língua. A língua portuguesa é uma unidade que se diversifica (as variantes) em nossa sociedade.

Variações diastráticas

Essas variações linguísticas estão relacionadas à estratificação social, isto é, às condições socioeconômicas dos falantes. No geral, aqueles com pouca ou nenhuma escolaridade costumam, por exemplo, empregar o singular no lugar do plural (“As árvore” no lugar de “As árvores”). É válido ressaltar que estamos exprimindo um fato em termos gerais, já que é no decorrer dos anos escolares que o indivíduo aprende a norma culta por excelência. Mas, mesmo um falante com nível de escolaridade maior pode deixar de usar o plural em determinado momento.

Variações diafásicas

Trata-se das variações ocorridas em função da situação em que se encontra o falante. A que situação estamos nos referindo? A situação comunicativa de informalidade ou formalidade. Expressamos informalmente quando empregamos uma linguagem despreocupada com a norma culta. No dia a dia, por exemplo, é comum usarmos “a gente” no lugar de “nós”; o verbo “ter” com o sentido de “haver” (“Tem uma loja aqui.”); reduções de palavras (“Ele tá feliz!), etc. Há situações em que a linguagem formal – aquela que segue as regras gramaticais – precisa ser utilizada. Isso acontece, sobretudo, no âmbito da escrita, em textos das esferas acadêmica, científica, religiosa, jurídica, etc. Na oralidade, podemos citar textos como aulas, palestras, missas ou cultos, etc. É o contexto comunicativo, ou seja, a situação comunicativa é que determina as condições da linguagem.

Desafio: você sabe o que significa?

Imagine a seguinte situação: você está no Rio Grande do Norte e um potiguar lhe diz: “Você é tampa!”. O que ele quer dizer, hein?

(   ) Ele quer dizer que você é inteligente.

(   ) Ele quer dizer que você é esquisito (a).

(   ) Ele quer dizer que você é mal-educado (a).

Bom, você pode ficar muito feliz se um potiguar lhe disser que “você é tampa!”. Isso porque ele quer dizer que você é inteligente!

Para concluir

As variações linguísticas são legítimas, uma vez que representam a identidade de determinado grupo social. Desse modo, precisamos romper com todos os preconceitos relativos à linguagem, que privilegiam uma variante (a norma culta) em detrimento das outras. As variações são inerentes ao sistema linguístico e, por isso, não prejudicam o seu funcionamento.

Referências:

BELINE, Ronald. A variação linguística. In: FIORIN, José Luiz. (org.) et al. Introdução à Linguística. 6.ed. 7ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2019. p.121-140.

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

PÉCHY, Amanda. Bê-á-bá potiguar. In: Revista Todos – A vida é feita de histórias. Qual é a sua? São Paulo: Editora Mol, out/nov 2019. p.36.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/linguistica/variacao-linguistica/

O que significa dizer que a língua é um conjunto de variedades?

Dizer que a língua é um conjunto de variedades significa que a língua é composta por diversas variações de si mesmas e das palavras que a compõe, tal como as suas classificações.

O que significa pensar a língua em termos de adequação?

A adequação linguística é a habilidade que os falantes possuem de adaptar a linguagem de acordo com a necessidade do momento. Podemos optar por dois diferentes registros da língua portuguesa: a variedade padrão ou a variedade popular, também conhecida como linguagem coloquial.

O que é uma variação linguística Brainly?

variação linguística são os vários falares entre falantes de uma língua. Toda língua natural tem suas variações. Dentro de uma mesma região,cidade ou cisa assim as pessoas formam pequenas comunidades que acabam criando, por repetição de hábitos e tendências, suas características e etc!;)

Quais são as palavras que são consideradas variações de linguagem?

As variações de linguagem se tratam das variantes que são criadas pelos falantes..
aipim, macaxeira, mandioca;.
vina, salsichão, salsicha;.
penal, estojo;.
sacolé, geladinho;.
celular, telemóvel;.
entre outras..