O que o médico italiano Ramazzini perguntava aos seus pacientes que até então não era perguntado aos pacientes e por que perguntava?

Tornou-se costume, de um tempo para cá, no Brasil e em outras plagas, tomar o dia 4 de outubro, data de nascimento de Bernardino Ramazzini (1633-1714), para celebrar o “Dia do(a) Médico(a) do Trabalho”.

Não me alinho com a tese de que ele tenha sido o primeiro médico do trabalho, ou que ele deva ser considerado o “Pai da Medicina do Trabalho”, e explico porque. Para mim, Bernardino Ramazzini foi o grande médico e professor de Medicina que introduziu a valorização do ‘trabalhador’ ou da ‘trabalhadora’ que está por detrás do(a) ‘paciente’, na relação médico-paciente, e no pensamento causal sobre o adoecimento que o(a) leva ao médico ou à médica…

Foi Ramazzini quem primeiro nos ensinou que, ao atender o(a) paciente, haveria que se fazer uma pergunta básica, fundamental e obrigatória: “qual a sua profissão?”. Disse ele, no Prefácio do livro “As Doenças dos Trabalhadores”, publicado em 1700, na cidade de Modena, na Itália, que o médico (ou a médica) que assim o fizesse aumentaria a chance de acertar o diagnóstico da doença, de orientar corretamente seu manejo terapêutico, e de evitar a recidiva do mesmo quadro.

Mais tarde, Percivall Pott (1714-1788) enriqueceu a pergunta de Ramazzini, ampliando-a para o histórico profissional, ou anamnese profissional (ou ocupacional), pois, passados 75 anos da obra de Ramazzini, já estava então ocorrendo o que mais tarde foi denominado de mobilidade horizontal, ou mobilidade vertical, isto é, as profissões, os empregos, as ocupações não eram estáticos, e sim, altamente dinâmicos, ao longo da vida dos trabalhadores. O ‘flash’ instantâneo e ‘transversal’ de Ramazzini já não era suficiente, sendo necessário evoluir para um ‘filme’ retroativo, histórico e longitudinal, graças ao qual, Pott fora capaz de estabelecer o nexo causal do câncer de escroto em adultos, com as condições de trabalho dos então meninos adolescentes, limpadores de chaminé.

Voltando a Ramazzini, no livro que reunia as aulas que ministrou no curso médico da Faculdade de Medicina da Universidade de Modena, ao longo de dez anos – 1690 a 1700 – , consolidado com o ‘curso prático’ que ele mesmo fez, visitando locais de trabalho e conversando com trabalhadores, Bernardino descreveu as condições e vida, de trabalho e do adoecimento e morte, em mais de 55 profissões ou ocupações da época. Todos os médicos formados em Modena, e mais tarde, formados em Padova (Pádua) e em Veneza – cidades em que lecionou de 1700 até sua morte, em 1714, deveriam saber de que adoeciam e morriam os trabalhadores, no contexto social, econômico e político daqueles tempos, na transição entre o século XVII e o XVIII, na entrada do ‘século das luzes’, do ‘iluminismo’.

Passados mais de 300 anos, e quando a data de nascimento de Ramazzini é escolhida para se tornar em “Dia do Médico do Trabalho” (que eu chamaria: “dia de todo o médico que valoriza o trabalhador e a trabalhadora que estão por trás do(a) paciente”), pergunto se o que ele ensinou (“qual a sua profissão?”) é praticado por todos os médicos, ditos do trabalho, que eu diria, do(a) trabalhador(a)? Pergunto se o que Percivall Pott ensinou (“anamnese ocupacional”) é praticado por todos os médicos e médicas? Pergunto se os colegas médicos e médicas do trabalho sabem de quê adoecem, se incapacitam e morrem os trabalhadores e as trabalhadoras do seu entorno, da sua comunidade, ou da organização para a qual trabalham? Pergunto se os médicos e as médicas que precisam se pronunciar sobre nexo causal entre o adoecimento e trabalho praticam, de fato, e criteriosamente, os ensinamentos de ambos os mestres da Medicina, muito mais do que, apenas da Medicina do Trabalho? Pergunto, por último, se todos os(as) colegas praticam o que o Mestre Ramazzini ensinou, quanto a tratar com dignidade e respeito os trabalhadores (e as trabalhadores), escutá-los atentamente, da mesma forma como se estivessem atendendo os príncipes e magnatas que se assentam nas cadeiras de ouro, para utilizar os termos usados Ramazzini, em sua obra escrita e em sua longeva prática profissional?

Se todas as respostas forem positivas, parabéns! Você já pode celebrar o “Dia do Médico do Trabalho”! Se uma ou mais das respostas deixarem a desejar, ainda há tempo para você crescer, apropriando-se, talvez, da afirmação de Dom Quixote de la Mancha, “Eu sei quem eu sou e quem posso ser, se eu desejar”, trazida porMiguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616).

Prof. René Mendes: Médico especialista em Saúde Pública e Medicina do Trabalho. Mestre (USP), Doutor (USP), Livre-Docente (USP) e Professor Titular (UFMG).

História – Bernardino Ramazzini

Postado em 22 de junho de 2015 Atualizado em 22 de junho de 2015

Médico italiano nascido em Carpi, o pai da Medicina Ocupacional por ter escrito o primeiro tratado sobre enfermidades profissionais:

O que o médico italiano Ramazzini perguntava aos seus pacientes que até então não era perguntado aos pacientes e por que perguntava?

De morbis artificum diatriba (1700), traduzida e editada para vários idiomas e, certamente, sua mais importante contribuição à medicina. Formado em filosofia e medicina em Parma, deslocou-se para Roma junto com Antonio Maria Rossi.

O que o médico italiano Ramazzini perguntava aos seus pacientes que até então não era perguntado aos pacientes e por que perguntava?

Depois exerceu a medicina em Canino y Marta, no Ducado de Castro, até que contraiu malária (1663), voltou para sua cidade natal e permaneceu até a década seguinte (1676). Quase vinte anos depois (1682), convidado pelo Duque Francesco d’Esta, foi contratado como professor da Facultade de Medicina de Módena.

Mudou-se para Pádua (1700) para ser professor de Prática médica, e nesta cidade veio a falecer vítima de apoplexia (1714), já octagenário. Durante sua vida escreveu largamente sobre medicina geral, clínica médica, epidemiologia, sanitarismo, meteorologia, ciências, filosofia, história, letras, poesia, literatura e artes e foi membro de várias sociedades e academias. Ao todo são conhecidos 16 conferências e 42 trabalhos científicos, incluindo sua obra prima De morbis artificum diatriba.

Antes de escrever e editar sua obra-mor, ele visitou muitos centros de trabalho, onde observou os procedimentos e técnicas empregados, como também os materiais e as substâncias que se utilizavam nos processos produtivos.

Além disso, também entrevistava e perguntava aos trabalhadores acerca das moléstias e enfermidades que lhes atacavam, como evoluíam etc. e relacionou os riscos à saúde dos trabalhadores ocasionados por produtos químicos, poeira, metais e outros agentes.

Também elaborou uma grande pesquisa na literatura da época e exemplos do passado, fato notório pela grande quantidade de referências citadas em sua obra. Ao todo descreveu sobre 54 tipos de ocupações, especialmente dedicando-se às intoxicações químicas e aos desconfortos do ambiente de trabalho.

Outros assuntos também preocupantes para ele eram a postura, sedentarismo e excesso de esforços.

Assim, como clínico geral ele adentrou por diversas especialidades como Oftalmologia, Estomatologia, Dermatologia, Gastroenterologia, Hematologia, Neurologia, Pneumologia, Cancerologia, Ginecologia, Obstetrícia, além de Ergonomia, Biorritmo e os agentes físicos como Ruído, Calor etc. Para ele, porém, a pior enfermidade era a pobreza.

Em Pádua lançou uma segunda edição ampliada com o título De morbis artificum diatriba / Nunc accedit supplementum … ac dissertatio de sacrarum virginum valetudine tuenda (1713).

Este foi um dos trabalhos pioneiros e base da medicina ocupacional, que desempenhou um papel fundamental em seu desenvolvimento.

Como médico foi um precursor no uso de cinchona, do qual o alcalóide quinino é derivado, no tratamento de malária durante suas pesquisas sobre a doença (1690-1695). Também desenvolveu importantes pesquisas em substâncias venenosas em determinados alimentos humanos e animais.

RESUMO

Bernardino Ramazzini (3 de outubro de 1633, Carpi – 5 de novembro de 1714, Pádua) foi um médico italiano.

Ramazzini foi um precursor no uso de um derivado do quinino no tratamento de malária. Porém sua mais importante contribuição à medicina foi o trabalho sobre doenças ocupacionais chamado De Morbis Artificum Diatriba (Doenças do Trabalho) que relacionava os riscos à saúde ocasionados por produtos químicos, poeira, metais e outros agentes encontrados por trabalhadores em 52 ocupações.

Este foi um dos trabalhos pioneiros e base da medicina ocupacional, que desempenhou um papel fundamental em seu desenvolvimento. Ele trabalhou como professor de medicina na Universidade de Pádua desde 1700 até sua morte.

FONTE1: 
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/BernRamz.html

FONTE2 Resumo:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardino_Ramazzini

Qual a contribuição do médico italiano Bernardino Ramazzini à saúde e segurança do trabalho?

Bernardino Ramazzini, médico italiano nascido em Carpi, em 1633, é considerado o pai da Medicina do Trabalho (MT) pela contribuição do livro As Doenças dos Trabalhadores, publicado em 1700 e traduzido para o português pelo Dr. Raimundo Estrela.

O que levou o Ramazzini a ser considerado o pai da Medicina do Trabalho?

Em sua clássica obra, o autor relacionou riscos químicos, físicos e biológicos a 52 tipos de trabalhos diferentes e, por esta publicação, foi considerado o pai da Medicina do Trabalho.

Qual o grande feito realizado por Bernardino Ramazzini?

Formado em filosofia e medicina em Parma, deslocou-se para Roma junto com Antonio Maria Rossi. Depois exerceu a medicina em Canino y Marta, no Ducado de Castro, até que contraiu malária (1663), voltou para sua cidade natal e permaneceu até a década seguinte (1676).

Qual era a frase proferida aos trabalhadores feita por Bernardino Ramazzini?

"Notei padeiros com as mãos inchadas e dolorosos, também; De fato, as mãos de todos os trabalhadores se tornam muito espessantes pela constante pressão de amassar a massa."