Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Um dos mais frequentes tumores na população feminina brasileira, atrás somente do câncer de mama e do colorretal. Afeta cerca de a cada ano no país, com a maior parte ocorrendo antes dos 50 anos

ANATOMIA

O colo uterino é a parte inferior do útero localizada junto à cúpula da vagina, com a qual se comunica por meio de um conduto, o canal cervical, por onde penetram os espermatozoides e sai o sangue menstrual. A parte externa do colo, que fica em contato com a vagina, chama-se ectocérvice; sua parte interna é a endocérvice. O local em que o canal cervical se abre para a vagina recebe o nome de zona de transformação, área em que se desenvolve a maioria dos tumores do colo uterino.

Os cânceres do colo uterino se originam nas células que forram essa área: o epitélio. A parte que está em contato com a vagina (a ectocérvice) é revestida por um epitélio escamoso (semelhante ao da vagina), que pode dar origem ao câncer de células escamosas. O epitélio da parte interna do colo de útero (endocérvice) é um epitélio glandular e pode dar origem a outro tipo de câncer do colo uterino: o adenocarcinoma.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Localização do colo uterino.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Anatomia do colo uterino com visão do órgão ampliada.

 

HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

O tumor uterino tem início como uma lesão pré-maligna, chamada neoplasia intraepitelial cervical, sendo lesões causadas pelo HPV. De acordo com o grau de comprometimento, são classificadas em graus 1, 2 e 3 (em ordem crescente de agressividade).

O último estágio das lesões pré-malignas é a neoplasia intraepitelial cervical grau 3, previamente também chamada de carcinoma in situ. Nessa fase, as células malignas atingiram pelo menos dois terços da espessura do epitélio cervical, porém ainda não têm a capacidade de invadir os tecidos e causar metástases, por estarem limitadas por uma barreira natural do órgão, chamada membrana basal.

Quando o tumor consegue ultrapassar a membrana basal, pode invadir progressivamente os tecidos vizinhos. Inicialmente as células malignas irão se infiltrar superficialmente em direção à vagina e profundamente em direção às lâminas de tecido conjuntivo que mantêm o útero fixo em sua posição na bacia: os paramétrios.

A partir daí, as células tumorais podem invadir órgãos vizinhos, como bexiga, ureteres, reto, cavidade pélvica, os linfonodos da região e penetrar os vasos linfáticos e sanguíneos para ter acesso a órgãos distantes, como pulmões, fígado e ossos.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Crescimento local do câncer de colo uterino. Note que o câncer, ao crescer, passa a infiltrar o tecido próximo ao epitélio do colo em direção à vagina e profundamente em direção aos ligamentos que mantêm o útero fixo em sua posição na bacia: os paramétrios.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Crescimento à distância do câncer de colo uterino. Note que o câncer pode atingir os linfonodos próximos e, a seguir, órgãos distantes, como pulmões, fígado e ossos.

Felizmente, tumores avançados de colo uterino são cada vez menos frequentes, porque os exames preventivos permitem diagnosticar lesões pré-malignas ou malignas em fase precoce.

 

TIPOS DO CÂNCER DE CÓLO UTERINO

Existem diferentes tipos de câncer do colo uterino, dependendo do tipo de célula que lhes dá origem:

Carcinoma epidermoide ou escamoso

É responsável por 70% a 80% dos casos e se origina nas células da ectocérvice. Está associado à infecção pelo HPV.

Adenocarcinoma

É o segundo tipo mais comum, correspondente a cerca de 20% dos casos, e se origina a partir das células da endocérvice. Também está associado a infecções pelo HPV.

Requer a combinação de procedimentos como cirurgia, radioterapia e quimioterapia, dependendo do estágio em que a doença se apresenta:

No estádio, em que o câncer está confinado ao colo de útero, podemos separar os tumores que apresentam pequenas áreas de invasão (tumores com milímetros de tamanho e microinvasivos – Estádio IA) daqueles maiores, com tamanho acima de 7 mm (Estádio IB).

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Câncer confinado ao colo uterino e o tratamento específico para estas fases da doença

Estádio IA

Nos tumores microinvasivos (Estádio IA), a cirurgia poderá ser conservadora, com retirada de apenas uma porção do colo uterino, permitindo a preservação do órgão para gestações futuras. As duas técnicas mais empregadas são a conização e a traquelectomia, mas também há a técnica da histerectomia, conforme descrito a seguir.

Conização

O cirurgião retira o canal do colo de útero, desde sua abertura na vagina até a parte que penetra a extremidade inferior do útero. Para que a cirurgia seja considerada radical, todo o material deve ser examinado pelo patologista, para confirmar se o tumor realmente era microinvasor e se as margens cirúrgicas estão livres. Caso se constate que o tumor era maior do que o esperado ou que as margens estão comprometidas, haverá necessidade de cirurgias mais amplas.

Traquelectomia radical

É uma técnica relativamente nova, realizada com o objetivo de retirar todo o colo de útero, o tecido em seu redor e os linfonodos da bacia, para ter certeza de que o câncer não os atingiu. Como o corpo do útero é preservado, em cerca de 50% dos casos há possibilidade de nova gravidez. É indicada principalmente nas pacientes que tem a intenção de uma gestação no futuro

Histerectomia simples

É importante mencionar que em mulheres não desejosas de futuras gravidezes é possível realizar a remoção de todo o útero.

 

Estádio IB

Esses casos podem ser tratados pela cirurgia ou por radioterapia.

Histerectomia ampliada (Wertheim-Meigs)

O tratamento tradicional para os tumores com mais de 7 mm, porém ainda localizados no colo, consiste na remoção do colo e do corpo uterinos, acompanhada da retirada da parte superior da vagina, dos tecidos e ao redor do colo (paramétrios) e dos linfonodos no interior da bacia. A retirada dos ovários será necessária em alguns casos, mas na maioria das vezes eles podem ser preservados.

É uma cirurgia relativamente grande e pode apresentar algumas complicações transitórias, como retenção e incontinência urinária ou obstipação intestinal. A preservação da vagina e da função ovariana auxilia a manter a libido e a vida sexual.

Radioterapia

Nas pacientes que não desejam cirurgias mais amplas, ou naquelas com idade avançada ou com problemas de saúde que contraindiquem a cirurgia, podemos optar pela aplicação de radioterapia direcionada ao colo de útero, como alternativa, sem prejuízo do resultado final. Existem duas formas de administrar radioterapia: externa e interna.

Na radioterapia externa, o equipamento libera os raios ao redor da bacia para que eles atinjam o colo de útero e os tecidos ao seu redor. Para isso, são utilizados exames de tomografia, que calculam o trajeto da radiação até o colo uterino, com prejuízo mínimo para os órgãos sadios da bacia. O procedimento é indolor e dura cerca de 15 a 20 minutos diariamente, de segunda a sexta-feira, no total aproximado de cinco semanas.

Na radioterapia interna, também chamada de braquiterapia, a fonte de radiação é colocada o mais próximo possível das células tumorais. A técnica reduz a quantidade de radiação para os tecidos normais e, ao mesmo tempo, permite que se possa utilizar uma dose mais alta de radiação por período mais curto do que o da radiação externa. Para tanto, são introduzidas no interior do colo de útero pequenas “sementes” de material radioativo. O procedimento exige sedação.

Em alguns casos de adenocarcinomas ou de tumores maiores, mas ainda limitados ao colo, a radioterapia poderá ser utilizada previamente à cirurgia. A radioterapia com ou sem quimioterapia também é indicada quando o exame anatomopatológico (biópsia) revela características mais agressivas ou quando a lesão está mais avançada do que se esperava.

Embora as técnicas de radioterapia tenham evoluído bastante na última década, ainda pode ocorrer inflamação secundária das estruturas vizinhas ao colo uterino, surgir secura vaginal, dor na relação sexual, estreitamento da vagina, ardor no reto, sangramento retal, diarreia, urgência para evacuar ou urinar, sensação de ardor ao urinar e osteoporose dos ossos da bacia.

 

Estádios II, III e IVA

Nestas situações, em que o tumor já cresceu além do colo e invadiu outras estruturas, a cirurgia não consegue ser radical e pode lesar os órgãos das proximidades, portanto não é realizada de rotina. O tratamento nesta fase é realizado com radioterapia na pelve associado ao tratamento com quimioterapia, seguida de uma fase de braquiterapia.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Câncer que invade estruturas bem próximas, como a vagina e o paramétrio, e o tratamento específico para esta fase da doença.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Câncer que invade estruturas vizinhas, porém mais distantes da pelve, e o tratamento específico para esta fase da doença.

 

Câncer no colo do útero estágio 3 tem cura

Câncer que invade os órgãos adjacentes, mostrando crescimento do tumor por proximidade (Estádio IVA) e metástases para órgãos distantes, como pulmões, fígado e ossos (Estádio IVB), e o tratamento específico para esta fase da doença.

 

Estádio IVB

Nesta fase da doença, em que as células tumorais se espalharam para órgãos distantes, como pulmões, fígado e ossos, através da corrente sanguínea e/ou linfática, a estratégia é atacar as células malignas onde quer que elas estejam.

O tratamento de escolha nesta situação é a quimioterapia, administrada com o objetivo de reduzir os tumores, possibilitando controlar a doença pelo maior tempo possível.

Há também benefício da associação da quimioterapia com drogas que inibem a formação de vasos sanguíneos no tumor, sendo a medicação mais conhecida chamada bevacizumabe.

A imunoterapia tem sido incorporada no tratamento do câncer de colo uterino metastático. Recentemente o FDA (agência regulatória americana) aprovou a adição da imunoterapia chamada pembrolizumabe ao tratamento com quimioterapia e bevacizumabe para as pacientes com câncer de colo de uterino metastático. Ainda não há aprovação brasileira para essa combinação. Também há dados para o uso de imunoterapia para as pacientes que fizeram uso de quimioterapia com platina sem resposta ao tratamento. As imunoterapias utilizadas nesse contexto são o pembrolizumabe e o cemiplimabe, que ainda não foram aprovadas no Brasil nessa situação.

O que é câncer de útero grau 3?

O câncer de colo do útero em estágio III é aquele que afeta o colo uterino e se estende em direção à vagina ou as paredes laterais pélvicas. Nesse grau, o câncer pode bloquear os ureteres. Normalmente é recomendado o tratamento com quimioterapia e radioterapia.

Quando o câncer do colo do útero está avançado?

Em casos avançados observa-se lesão tumoral ou área de destruição do colo do útero, com presença de sangramento quando é manipulado. O mesmo pode já ter se espalhado pela vagina. Nesta situação realiza-se a retirada de um fragmento (pequeno pedaço ou biopsia) do tumor para análise e confirmação exata do diagnóstico.

Qual o câncer de útero mais perigoso?

Os tipos 16 e 18 são os mais perigosos e estão relacionados com 70% dos casos de câncer do colo do útero.

Quais as chances de cura do câncer de colo de útero avançado?

Câncer de colo de útero avançado tem cura? O câncer de colo do útero quando diagnosticado em fase não invasiva ou em estágio I tem altas chances de cura (entre 80 e 90%).