Texto quem é por quê aonde

A partir da concepção de linguagem como discurso ou enunciação, o texto escrito pode ser definido como uma atividade de linguagem, sempre contextualizada, produto da enunciação humana, no qual se inscreve o contexto histórico, social e cultural.

A perspectiva interacionista sócio-discursiva de Bernard Schneuwly considera que a atividade de linguagem, na produção de textos, se desenvolve por meio de um conjunto de operações mentais, que são realizadas em três níveis ou instâncias: a) a criação de uma base de orientação; b) o planejamento do texto; c) a linearização. Esses três conjuntos de operação não ocorrem de modo linear nem estanque; no processo de produção espontâneo, eles podem ocorrer simultaneamente, um influenciando e modificando o outro. No ensino da escrita na escola, pode-se chamar atenção para cada um deles em especial, para levar o aprendiz a ter consciência das decisões que deve tomar e de como elas repercutem em seu texto.

A criação da base de orientação diz respeito às condições de produção. Nessa instância, o enunciador busca responder: que tipo de interação é essa? E, então, considerando o seu lugar social e o dos interlocutores, a finalidade e o conteúdo do discurso, define os parâmetros que vão orientá-lo no processo de escrita (o que tenho para dizer? para quem vou escrever? com que objetivo? em que circunstâncias? em que condições meu texto será lido?). Pode acontecer que a base criada inicialmente se modifique no decorrer do processo, se elementos novos vierem modificar a maneira de compreender a situação comunicativa.

A partir da compreensão das condições de produção, o enunciador planeja globalmente o seu texto, perguntando-se “como dizer?”. Nessa instância, define como organizar e inter-relacionar os conteúdos (o que tem a dizer) e que modelo de texto é adequado para a situação: que gênero discursivo e que tipo textual atendem seus objetivos e funcionam melhor naquela interação. 

A terceira instância é a da elaboração do texto propriamente dita. Trata-se de um conjunto de operações chamado por Bernard Schneuwly de linearização, porque se destinam a transformar em texto o que foi pensado. Ou seja, o que o enunciador tem para dizer (o tema e seus desdobramentos), sua compreensão da situação de interlocução, a decisão sobre o gênero e o tipo adequados devem ser “traduzidos” em texto. No entanto, a linguagem, falada e escrita, se manifesta linearmente: falamos e escrevemos uma palavra de cada vez, uma frase depois de outra frase, embora as ideias nos venham de maneira global. Assim, “botar o texto no papel” significa linearizar as decisões tomadas na criação da base de orientação e no planejamento global do texto. O enunciador se pergunta: como colocar em palavras, frases, parágrafos? E, ao mesmo tempo em que “lineariza”, não pode perder de vista o que planejou dizer, nem se esquecer de seu objetivo, seu interlocutor, das condições em que seu texto será lido. Na instância da linearização, o enunciador vai formular frases e parágrafos que devem estar conectados e articulados entre si, compondo um todo coeso e coerente, que é o texto.

Para o ensino, uma dificuldade é fazer as crianças perceberem as diferentes lógicas de funcionamento da enunciação oral e da enunciação escrita. A linguagem oral, em situações coloquiais, funciona em constante interação com os interlocutores e as condições de produção, possibilita o controle exterior e contínuo dos participantes do diálogo. Já a escrita, embora sempre dirigida a um leitor, exige um controle interior e global do enunciador, uma visão antecipativa do texto. O enunciador é o responsável pelo planejamento e pela elaboração do texto.

Mas o processo de produção não termina aí. Se o texto se vincula a uma base de orientação e a um planejamento, essas duas instâncias devem ser retomadas quando o produto está finalizado, para o enunciador avaliar a adequação de seu texto à situação comunicativa, a seus objetivos, ao gênero e ao tipo escolhidos, aos conteúdos planejados e sua organização. Essa avaliação vai orientar a reescrita. E, reescrito o texto, concluída sua versão final, ele deve ser encaminhado ao leitor previsto.

Cada uma das instâncias da produção – da criação da base de orientação até o envio do texto pronto para o leitor pretendido – pode ser destacada e trabalhada na sala de aula, para que o aluno entenda e domine o processo de escrita.


Verbetes associados: Coerência textual, Coesão textual, Condições de produção do texto, Enunciação / enunciado, Gêneros do discurso, Gêneros e tipos textuais, Oralidade e escrita , Reescrita, Situação comunicativa, Texto, Produção de textos

Existem quatro formas de escrever “porque” e somente uma delas vai para o plural (como você vai ver 4ª dica). Para facilitar a memorização, vamos dividir essas formas em dois grupos. Há dois “por que” que são escritos separadamente, ou seja, são formados pela preposição “por” e pelo pronome “que”. Um deles recebe acento circunflexo (por quê) e o outro não (por que). Há dois “porques” que são escritos juntos: um deles tem acento (porquê) e o outro não (porque).

2ª dica: 2 grupos – perguntas e respostas

Esses dois grupos de “porques” são usados para duas situações diferentes: perguntas e respostas. Uma forma muito simples de memorizar os dois tipos é saber que: o “por que” separado é usado em perguntas e o “porque” junto é usado em respostas.

3ª dica: Ponto de interrogação

O ponto de interrogação “atrai” o acento (essa é só uma forma de memorização, tá?). Se o ponto de interrogação é usado em perguntas, você já sabe que só pode usar o “por que” separado em perguntas. Logo, se o ponto de interrogação vem logo depois do “por que”, ele é escrito separado e com acento. Por exemplo:

Você ainda tem dúvidas por quê?

4ª dica: Artigo definido “o”

O artigo definido “O” também funciona como um atrativo para o acento circunflexo. Se “porque” tiver o sentido de “o motivo, a razão”, ele já é uma resposta, uma explicação, então é escrito junto. Se couber um “o” antes dele, por exemplo, “não entendo o porquê da sua dúvida”, você deve usar o acento!
Como foi dito no início desse post, esse é o único caso de “porquê” que vai para o plural, no sentido de “os motivos, as razões”, ou seja, “os porquês”.

5ª dica: Início de frase

No início de frase, o “porque” nunca tem acento, não importa o teor da frase. Se a frase for uma pergunta e o “por que” vier no início, você vai usar o “por que” separado e sem acento. Por exemplo:

Por que você ainda tem dúvidas de gramática?

Se a frase for uma resposta e o “porque” vier no início, você vai usar o “porque” junto e sem acento. Por exemplo:

Porque acho muito difícil…

Espero que essas dicas tenham te ajudado a entender melhor o uso dos porquês.
Se ficou alguma dúvida, deixe seu comentário que logo iremos te responder!

Fernanda Massi é Mestra e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP/Araraquara e Pós-doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP. Foi professora de Leitura e Produção de Textos na UNESP/Araraquara e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tendo orientado trabalhos de conclusão de curso e de iniciação científica. Trabalha com revisão de texto desde o início da sua graduação em Letras, em 2004, e já revisou inúmeros trabalhos de diversas áreas. É também a responsável pela equipe de revisão da Letraria.