Quem fica é quem sofre

Tendemos sempre a achar que quem “é deixado” é a grande vítima num relacionamento. O que ocorre é que quem é deixado está numa situação completamente passiva e é obrigado a lidar com todo o sentimento de impotência.

Não há o que fazer. Como lutar contra uma certeza do parceiro?

Quem fica é arrebatado por um sentimento de traição, mesmo sem ter havido “traição”, propriamente.

Quem fica se sente à deriva, abandonado, rejeitado, desamado… sem chão. O que resta para quem é deixado são as lágrimas.

Às vezes, dependendo do despreparo ou da surpresa com a notícia, tem-se o impulso de fazer malabarismos para que o outro volte atrás. Mas é inútil.

Existe vilão e vítima?

Comete-se o engano de acreditar que quem saiu da relação “está numa boa”. Este é visto como o vilão da história, aquele que provoca o sofrimento. Mas não é bem assim que acontece…

Numa relação estável, que começou com a intenção de que fosse o mais duradoura possível, é claro que ambos caminham na direção de solidificar o casal.

Espera-se que o amor seja para todo o sempre e por mais que se fique atento à evolução do relacionamento, o amor, o tesão, o interesse por perpetuar o vínculo pode acabar de um dos lados.

Às vezes acontece de ambos irem perdendo o interesse gradualmente e quase ao mesmo tempo. Mas na maioria dos casos esse desinteresse é unilateral.

Quem deixou de amar também se frustra. Quem deixou de amar não gostaria de ter deixado de amar, mas não se trata de uma decisão, isso simplesmente acontece.

Ele vasculha dentro de si por longo tempo para reencontrar o desejo, a paixão dos primeiros tempos mas nada encontra. Vive um grande conflito e entra em estado de luto.

Culpa e frustração

Quem deixou de amar também perdeu um amor e passa um longo tempo muitas vezes se culpando, antevendo a dor de seu parceiro, desejando evitar que ele se magoe.

E muitas vezes, na tentativa de negar que os sentimentos apenas se esvaíram, na crença de que é preciso haver um motivo mais contundente para a separação, que não basta que o amor e o desejo tenham se esgotado, cometem-se equívocos.

Se você se encontra nessa situação, preste atenção para não tornar a separação desnecessariamente mais dolorida do que naturalmente é, evitando as seguintes situações:

  • Provocar discussões estéreis
  • Buscar um relacionamento fora como forma de se punir pela culpa por ter deixado de amar seu parceiro
  • Buscar uma proximidade forçada para “disfarçar” seus reais sentimentos e intenções
  • Desprezar seu parceiro ou tratá-lo com indiferença, imaginando que assim fará com que ele também deixe de lhe amar, facilitando sua decisão

Essas atitudes apenas vão prolongar e acentuar a inevitável dor da tomada de decisão.

Ninguém acorda pela manhã com a descoberta de que deseja se separar. Isso é um processo, vamos nos percebendo aos poucos.

Quem passa por essa experiência se submete a um recolhimento reflexivo aflitivo porque muitas vezes não consegue aceitar facilmente a realidade de seus sentimentos.

E até que perceba a impossibilidade da continuidade da convivência, vai-se vivendo o luto da perda de um amor, dos planos, dos projetos em comum.

É um engano acreditar que quem deseja se separar “está numa boa”. A diferença entre quem sai e quem fica é que quem sai vive o luto antes da efetivação da separação.

E acrescente-se aí toda a coragem necessária para comunicar ao parceiro e administrar com equilíbrio os desdobramentos dessa decisão.

Pequenos lutos

O ditado que diz que “quando um não quer dois não brigam” aplica-se perfeitamente nos casos em que o desejo de separar-se é unilateral. Quando um dos dois lados chega a comunicar essa decisão, isso já foi longamente maturado – e sofrido.

A sensação de alívio experimentada por quem sai e a aparente simplicidade com que pode lidar com a questão são muitas vezes vistas como insensibilidade, e isso é outro engano.

Cada qual à sua forma e nos seus tempos, vive a dor da perda, e passado o primeiro impacto é sempre bom ter consigo que nas relações de afeto não existe certificado de garantia e muito menos prazo de validade.

Começo, meio e fim. Mesmo as relações que duram “até que a morte nos separe” sofrem pequenos lutos no meio do caminho.

Quem fica é quem sofre
Veja.com Veja.com/VEJA.com

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu a solidariedade de amigos, parentes, companheiros de partido e adversários políticos durante o enterro de sua mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, que morreu na noite de terça-feira. No velório, realizado na quarta, na Sala São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e oito ministros se mostraram solidários a FHC e ao PSDB, que perdeu uma de suas fundadoras. O sepultamento ocorreu às 10h40 desta quinta, no cemitério da Consolação, em São Paulo.

O cortejo deixou a Sala São Paulo por volta das 10 horas. O sepultamento aconteceu ao som das trompas do Regimento da Cavalaria Nove de Julho. O ex-presidente, que estava cercado dos filhos e netos, colocou um cesto de rosas brancas sobre o túmulo. O governador de São Paulo, José Serra, também ficou junto de FHC durante todo o tempo. Compareceram ao enterro o ex-governador Geraldo Alckmin, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e os amigos e colegas de Ruth em suas atividades sociais.

“Leva tempo, leva muito tempo, mas chegará o dia em que irá doer menos”, afirmou Lula a FHC no velório, conforme reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. O ex-presidente dizia que “quem sofre é quem fica” e que “para a morte não há consolo”. FHC, que permaneceu perto do caixão durante quase todo o velório, lembrava a sua longa relação com a mulher. “Conheci Ruth em 1948. São 60 anos.” Lula ficou no velório por cerca de 40 minutos. “Tudo o que você precisar de mim, peça”, disse a FHC.

A homenagem a Ruth aproximou petistas e tucanos, que trocaram cumprimentos e gestos cordiais. “Os laços do PSDB com o PT são tantos que, quando fomos perguntar aos ministros quem gostaria de vir, quase não teve lugar no avião”, disse Lula ao presidente tucano, Sérgio Guerra, e ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Além de oito ministros, outros petistas, como o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e a candidata do partido à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, também compareceram.

Autoridades, empresários, acadêmicos e simpatizantes também passaram pelo velório. Depois das 21 horas, a cerimônia foi fechada aos familiares. Antes da saída para o cemitério da Consolação, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, realizou uma celebração ecumênica em memória de dona Ruth. Também foi reservada aos parentes. Os governos federal e estadual declararam luto oficial de três dias pela morte da ex-primeira-dama, que tinha 77 anos e foi vitimada por problemas cardíacos.

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