Qual o foco tematico do soneto ele faz uma abordagem pessimista ou otimista do tema?

1 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANIDADES UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO A FACE OTIMISTA DA POESIA DE AUGUSTO DOS ANJOS Verucci Domingos de Almeida Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves Campina Grande - PB Fevereiro de 2012

2 1 VERUCCI DOMINGOS DE ALMEIDA A FACE OTIMISTA DA POESIA DE AUGUSTO DOS ANJOS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós - graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), como requisito para a obtenção do título de Mestre em linguagem e ensino. Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves Campina Grande - PB Fevereiro de 2012

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4 3 FOLHA DE APROVAÇÃO VERUCCI DOMINGOS DE ALMEIDA Defesa de dissertação: BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves UFCG (Orientador) Profª Drª Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega UFCG (Examinadora) Profª Drª Kalina Naro Guimarães IFPB (Examinadora)

5 A Deus que me deu esperança e perseverança para nunca desistir dos meus sonhos, e à minha família, pelo apoio, compreensão e ajuda que tem me oferecido ao longo de minha vida acadêmica, DEDICO. 4

6 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus e ao seu filho, Jesus Cristo, pelo pouco de sabedoria que tem me dado, resultado da minha súplica diária, e pela oportunidade de realizar mais uma etapa dos meus sonhos que se completa agora, graças ao Seu amor e Sua presença em minha vida. Aos meus Anjos protetores, que me guardam, orientam e inspiram. Ao meu orientador, Dr. José Hélder Pinheiro Alves, exemplo a ser seguido; por quem tenho grande admiração. Agradeço pela sua paciência e dedicação para comigo, e mais ainda por confiar na minha proposta de pesquisa. Agradeço além de tudo pelo privilégio de tê-lo como orientador. Graças a sua ajuda, concluo este trabalho. À Banca examinadora da qualificação, nas pessoas de Drª Naelza de Araújo Wanderley e Drª Kalina Naro Guimarães, pelas contribuições para o meu trabalho. Ao programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, desde a coordenação até os professores, sobretudo de literatura. A estes agradeço em especial por mais uma vez me mostrarem a beleza e a importância dessa arte, além de contribuírem muito para o meu desenvolvimento durante o curso. À CAPES, pelo incentivo à pesquisa e pelo concedimento da bolsa. À minha mãe (Verônica), que sempre me incentivou a crescer cada vez mais profissionalmente, e com todo esforço nunca me deixou faltar nada. Às minhas tias Socorro e Madalena, ao meu tio Pedro e, sobretudo, a minha avó Luiza, pessoa que mais amo nessa vida. A Tetê (Profª Ms. Terezinha Virgínio de Araújo), que, acima de tudo, é uma amiga. Alguém que acompanhou as etapas da minha vida acadêmica e sempre me incentivou a crescer cada vez mais. À professora Socorro Vieira, à direção, à vice-direção e aos alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Manuel Vieira, pelo espaço concedido para a realização da pesquisa. Às minhas colegas de turma, que mesmo com pouco tempo de convivência serão lembradas pelo resto da vida. Agradeço pela amizade sincera e verdadeira, pela ajuda, apoio e confiança de Núbia Verônica Ferreira Avelino, Luciana Maria Moura Rodrigues, Mariclécia Bezerra de Araújo, Aline Muniz Alves e Berenice da Silva Justino. Ao professor e pesquisador da poesia de Augusto dos Anjos, Chico Viana, pela atenção aos meus s e por apoiar o meu trabalho, mesmo que indiretamente, quando ainda era um simples pré-projeto.

7 6 Ao agente literário e pesquisador da poesia de Augusto dos Anjos, Andrey do Amaral, por também apoiar o meu pré-projeto e pela relevância de seus comentários para o crescimento dele. À minha ex-professora de literatura Ms. Christianne Barbosa Côelho, que sempre esteve pronta para me ajudar quando precisei, com grandes contribuições, desde quando este trabalho era um simples projeto de monografia até a sua transformação em um pré-projeto para o mestrado. À minha colega Ms. Maria Fernandes de Andrade Praxedes, que também contribuiu para o crescimento desse projeto e acreditou que eu seria capaz de ultrapassar todos os obstáculos para chegar até o mestrado. À minha amiga Adriana Vicente do Nascimento, pelo apoio em todos os momentos. Pessoa incomparável, que me incentivou e não me deixou desanimar. Ao amigo Ricardo de Souza Brasileiro, pelo apoio e orações feitas antes da minha aprovação na seleção do mestrado. Ao meu eterno amigo Érico de Sá Petit Lobão, pessoa admirável, digno dos mais honrosos adjetivos. Pessoa que me fez acreditar que esse sonho seria possível; que me ajudou, que sonhou comigo, que me trouxe do sonho à realidade. Por confiar em suas palavras e por acreditar que eu era capaz, hoje estou aqui, concluindo essa etapa. Obrigada!

8 7 O sonho, a crença e o amor, sendo a risonha Santíssima Trindade da Ventura, Pode ser venturosa a criatura Que não crê, que não ama e que não sonha?! Augusto dos Anjos

9 8 RESUMO Este trabalho tem por finalidade mostrar que há uma face otimista na poesia de Augusto dos Anjos, e, desse modo, contribuir para uma nova visão a cerca da lírica desse poeta. Sendo assim, essa pesquisa discute alguns poemas que contemplam esta face otimista da poesia de Augusto dos Anjos a partir de sua obra completa, investiga entre outros elementos, se há a inserção dessa face nos livros didáticos do 3º ano do ensino médio inseridos no catálogo do PNLEM 2009 e relata uma experiência de leitura e recepção de poemas augustianos nessa mesma série de ensino, numa escola pública da cidade de Patos - PB. As fontes que subsidiaram o estudo sobre a face otimista procederam das leituras de Nóbrega (1962), Vidal (1967) e Magalhães Jr (1978). Como principais referências que embasaram nossa fundamentação teórica sobre a leitura literária e o ensino de literatura, citamos as reflexões de Cosson (2009), Jauss (1979), Jouve (2002) e Colomer (2007). Sobre o cânone literário, muito pertinentes foram os esclarecimentos de Reis (1992) e Perrone-Moisés (1998); e sobre a utilização dos livros didáticos, as considerações de Cereja (2005), Pinheiro (2006) e Chiappini (2005) foram de fundamental importância. Para auxiliar a nossa prática de ensino, foram essenciais as Orientações Curriculares Para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) e os Referenciais Curriculares para o Ensino Médio da Paraíba (PARAÍBA, 2006). Os resultados da pesquisa revelaram o valor estético da face otimista da poesia de Augusto dos Anjos e ainda apontaram a ausência e negação dessa face nos manuais didáticos. A experiência realizada em sala de aula comprovou que os alunos sentiram-se despertados para a poesia do paraibano e se interessaram pelos poemas dessa face, pois estimulados, eles participaram de modo efetivo da leitura, fruindo os textos através da partilha de percepções e descobertas. Palavras-chave: Augusto dos Anjos; face otimista; livro didático; ensino de literatura; recepção.

10 9 ABSTRACT This work aims at showing that there is an optimistic side in Augusto dos Anjos poetry and contributing to a new point of view about the lyric of this poet. Thus, this research discusses some poems that comprise this optimistic poetic side of Augusto dos Anjos from his complete works, investigates among other things, if there is the inclusion of such angle in the textbooks of 3rd year high school, included in the catalog of PNLEM 2009, and describes an experience of reading and reception of Augusto dos Anjos poems, in the same grade, in a public school in Patos - PB. The sources that supported the study about the optimistic expression proceeded from readings of Nobrega (1962), Vidal (1967) and Magalhães Jr (1978). As main references that supported our theoretic reasons about the reading of literature and literature teaching, we cite the reflections of Cosson (2009), Jauss (1979), Jouve (2002), and Colomer (2007). Taking into account the literary canon, the explanations of Reis (1992) and Perrone-Moisés (1998) were very relevant; and considering the use of textbooks, the reflections of Cereja (2005), Pinheiro (2006) and Chiappini (2005) have a fundamental importance. In order to help our teaching practice, the Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) and the Referenciais Curriculares para o Ensino Médio da Paraíba (PARAÍBA, 2006) were essential. The results revealed the aesthetic value of the optimistic face of Augusto dos Anjos poetry and also indicated the absence and denial of that face in textbooks. The experiment made in the classroom proved that students were awakened to the poetry of Augusto dos Anjos and were interested in the poems of that matter, as they were motivated, they participated in an effective way of reading, enjoying the texts through sharing insights and discoveries. Keywords: Augusto dos Anjos; optimistic side, textbooks, literature teaching; reception.

11 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO DA FACE COMUM À FACE OTIMISTA Os primeiros leitores de Augusto dos Anjos: a face comum Novos leitores, novos olhares: a face otimista Apreciando a face otimista da poesia de Augusto dos Anjos DO CÂNONE AO LIVRO DIDÁTICO A historiografia como eixo do ensino de literatura Os livros didáticos e sua utilização A abordagem da poesia de Augusto dos Anjos nos livros didático O dinamismo literário A poesia de Augusto dos Anjos Os exercícios propostos nos livros didáticos AUGUSTO DOS ANJOS E OS LEITORES: VIVÊNCIAS POÉTICAS As observações das aulas A aplicação do questionário Planejando os encontros e selecionando os poemas: preparando a recepção Augusto dos Anjos e os leitores: vivências poéticas Deus na poesia de Augusto dos Anjos O amor na poesia de Augusto dos Anjos A esperança na poesia de Augusto dos Anjos CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICES Apêndice A: Questionário de pesquisa Apêndice B: Planos de aula Apêndice C: Revistas-antologias Apêndice D: Transcrição das intervenções em sala de aula ANEXOS

12 Anexo A: Poemas de Augusto dos Anjos Anexo B: Bilhete original dos alunos Anexo C: Questionários respondidos

13 12 INTRODUÇÃO Há acontecimentos na vida que ou são coincidências ou são predestinados. Quando criança, morei com minha família em uma humilde casa numa rua de nome Augusto dos Anjos. Achava esse nome lindo! Várias vezes perguntei a minha mãe de quem se tratava, mas ela não sabia. Cogitava eu ser nome de um santo por causa do sobrenome. Mas santo, não era, ela sabia. Dizia-me que possivelmente devia se tratar de alguém importante, um político, um general ou algum nobre. Eu jamais pensaria que se tratava de um poeta. Aliás, naquele tempo, eu nem sabia o que era isso. Jamais pensaria eu que tempos depois, na minha juventude, seria pesquisadora da poesia desse ilustre poeta. No tempo de escola, por ocasião da eleição para o título de paraibano do século, no ano de 2001, fui apresentada à poesia melancólica, pessimista e cientificista do poeta a quem chamavam de macabro, triste, obcecado pela morte e descrente do amor e de Deus. Fui tocada profundamente pelo poema Versos íntimos e escrevi-o na agenda ao lado de um poema de amor de Vinícius de Moraes, outro poeta de cuja poesia eu gostava. Esses poemas, pra mim, tornaram-se orações, e de tanto lê-los, memorizei-os. Durante o curso de Letras na faculdade, precisava encontrar um tema para a minha monografia. De uma coisa eu tinha certeza: iria trabalhar com poesia. Certa vez, uma amiga que cursava o 1º ano do ensino médio estava estudando gênero lírico na disciplina de literatura, e me falou sobre alguns poemas que seu professor apresentou à turma. Ela, que também adorava poesia, muito empolgada, mostroume as primeiras páginas de seu caderno, dizendo-me que tinha se encantado por um dos poemas que seu professor escrevera no quadro para os alunos copiarem. Lio. Era Soneto do amor total. Minha amiga, muito desatenta, colocara como autor o nome Augusto dos Anjos. Abaixo desse poema estava O morcego, também com o nome Augusto dos Anjos. Achei estranho. O morcego, eu sabia que se tratava de um poema augustiano, mas o primeiro não. Primeiramente, indaguei-lhe se não havia copiado o nome do autor errado, e, como justificativa, disse-lhe que pelo que eu sabia Augusto dos Anjos não versava sobre o amor em sua poesia, pois era pessimista e melancólico, e não cria em tal, como haviam me dito na escola. Aconselhei-a a conferir com o seu professor o nome do autor do primeiro poema. Cheguei a apontar como autor o poeta Vinícius de Moraes, de quem sou admiradora, pois sabia que ele

14 13 versava sobre o amor, e ainda o título daquele poema fez-me lembrar o que estava escrito na minha agenda, Soneto de fidelidade, que se encontrava ao lado do poema de Augusto. Na mesma semana, disse-me ela que realmente tinha escrito errado o nome do poeta, pois se tratava mesmo de um poema de Vinícius de Moraes. Essa situação me fez refletir sobre algo: eu cogitei a possibilidade de o poema não ser de Augusto dos Anjos, mas na realidade eu não tinha tanta autoridade para afirmar, pois tudo o que eu sabia sobre a sua poesia se resumia a três poemas e às lembranças das aulas do 3º ano do ensino médio, portanto, sua obra para mim era praticamente desconhecida. Então, questionei-me: Será que existe algum poema de Augusto dos Anjos que fala de amor? Essa curiosidade despertou-me a investigar a sua obra. Nesse momento pensei em pesquisar esse viés na minha monografia. Na biblioteca da faculdade tive acesso ao Eu e outras poesias, pela primeira vez. Folheei o livro. Tentei, a priori, procurar através do sumário algum título que chamasse a atenção para o tema do amor. Encontrei alguns, mas ainda pessimistas. Desanimei. Em outra ocasião, na biblioteca, procurei o mesmo livro, mas não achei. Encontrei outra edição. Essa edição continha além do Eu e Outras poesias, também a coletânea Poemas esquecidos. Dessa vez sabia que só iria encontrar um poema que talvez versasse sobre o amor de modo otimista se lesse toda a obra do poeta. Por essa razão li-a por completo, cheia de medo das imagens que os poemas suscitavam, sentindo repugnância pelos vocábulos utilizados, sem entender quase nada por causa da linguagem difícil. Pensei em desistir de ler, senti-me chocada, apavorada. Mas tinha que persistir. Finalmente encontrei o que tanto me inquietava. Além de poemas que tratavam do tema do amor romântico e erótico, encontrei poemas que tratavam de Deus e da esperança, todos com caráter otimista. Desde então passei a metade do meu curso pesquisando essa face pouco conhecida da poesia de Augusto dos Anjos. De todos os aspectos identificados na obra intitulada Eu como também em Outras poesias, Poemas esquecidos e Versos de circunstância, o lado otimista da poesia de Augusto dos Anjos abordado em alguns poemas chama-nos a atenção e nos desperta para um viés pouco estudado da poesia (e) do poeta cujo nome é, na expressão de Agripino Grieco, augustamente angelical (GRIECO, 1994, p. 81). Dessa forma, a presente dissertação nasceu do trabalho monográfico para a conclusão do Curso de Letras em 2005, intitulado O outro viés da poesia de Augusto

15 14 dos Anjos, quando foi despertada a curiosidade de procurar entre os poemas de Augusto um viés diferente do que é propagado nos livros didáticos. Sendo assim, iniciou-se a busca pela face otimista, que compreende poemas com temas de amor, Deus e esperança, cujo tratamento é realizado de modo mais leve e com vocabulário mais ameno do que aqueles que são predominantes na sua poesia. No decorrer do estudo para a monografia constatamos através da pesquisa em uma turma do 4º ano pedagógico de uma escola estadual da cidade de Patos - PB, que muitos alunos não compreendiam ou se equivocavam com a leitura de poemas do aludido poeta pela temática que o mesmo costumava escrever, bem como o vocabulário utilizado 1. De acordo com Bueno (1994, p. 45), Augusto dos Anjos é um poeta de espantosa popularidade, muitas vezes tão mal compreendido pelos seus admiradores quanto por seus detratores. Ainda de acordo com esse autor, Parte da incompreensão que se criou em torno desse uso de vocabulário científico, mais especialmente nomes de espécies e termos filosóficos, nasce, na verdade, de uma certa preguiça mental do leitor em relação a vocábulos que lhe causam estranheza e cuja utilização lhe parece despropositada e inútil (BUENO, 1994, p. 22). O uso de um vocabulário desconhecido pelo leitor, com termos retirados da ciência, assim como uma linguagem ostensivamente agressiva, causa-lhe estranheza e impacto a priori. Nesta perspectiva, muitos poemas não tiveram uma boa aceitação por parte dos alunos. A maioria dos sujeitos da pesquisa alegou não se identificar com a poesia de Augusto dos Anjos porque não fruía ler algo pessimista e obscuro. Muitos o mencionaram o poeta do mau gosto, rótulo determinado pela crítica literária (CANDIDO, 2007) e consequentemente propagado pelos livros didáticos (TERRA E NICOLA, 2004). Sobre esse mesmo mau gosto, Candido (2007, p. 82) adverte que ele toma tamanho impulso que a aparente vulgaridade torna-se grandiosa, sendo, portanto, para este autor contraditoriamente um dos atrativos da poesia augustiana. Ainda a partir da pesquisa monográfica, constatamos que os alunos apontaram o poema da face otimista como o que mais lhes tinha agradado. Dessa forma, isso 1 Na referida monografia não trabalhamos com a recepção dos poemas em sala de aula. Fizemos apenas entrevista com questionários semiabertos com os alunos para que eles registrassem o que sabiam a respeito do poeta e sua poesia, e também apontassem a partir da leitura individual de dois poemas, quais sentimentos eles suscitavam, além do que mais lhes agradou.

16 15 nos provocou a inquietação de vivenciar realmente a poesia augustiana em sala de aula, compartilhando a leitura, sem utilizar os poemas apenas como fonte de coleta de dados, mas enfatizar o processo de formação de leitores competentes, aquele que no dizer de Colomer (2007, p. 31) se define como o que sabe construir um sentido nas obras lidas. Mesmo pesquisando a face otimista da poesia de Augusto dos Anjos desde a graduação, este trabalho mostra-se pertinente porque é uma continuação que nos permitiu aprofundarmos os temas do amor, da esperança e de Deus em sua lírica, bem como investigar e ampliar a teoria sobre esse assunto, além de averiguarmos o trabalho com a poesia augustiana nos livros didáticos e a recepção desta face na escola. Portanto, nesta pesquisa tivemos como objetivo geral: investigar a face otimista da poesia de Augusto dos Anjos e observar sua recepção por alunos do 3º ano do ensino médio. Outros objetivos propostos foram: identificar nos livros didáticos do 3º ano do ensino médio, avaliados para o PNLEM 2009, a abordagem que se faz da poesia de Augusto dos Anjos; estudar parte da fortuna crítica do poeta observando se há ou não algum estudo que se volte para esta face otimista de sua poesia; e descrever a recepção dos poemas de Augusto dos Anjos a partir de um experimento em uma sala de aula com alunos do 3º ano do ensino médio. As razões que justificam nosso trabalho estão no fato de que há uma pequena quantidade ou até ausência de estudos específicos que tenham como foco a visão otimista da poesia de Augusto dos Anjos. Enfim, esta pesquisa é importante para refletir sobre visões unilaterais acerca da poesia de Augusto dos Anjos e mostrar que ele cultivou outros temas diferentes dos que o consagraram, revelando-se uma figura oposta àquela que vem sendo propagada como única pela crítica literária e pelos livros didáticos. Esta dissertação possui três momentos distintos, porém interligados. O primeiro momento está voltado para a crítica, o segundo momento está voltado para a análise dos livros didáticos, e, por fim, o terceiro momento é dirigido à prática de ensino. Em síntese, no primeiro capítulo, a partir de um levantamento de toda a produção lírica de Augusto dos Anjos, atentando principalmente para a face otimista de sua poesia, contemplamos a leitura de alguns poemas e ainda buscamos argumentos da crítica a respeito dessa face. No segundo capítulo fizemos a análise de livros didáticos inclusos no programa do PNLEM 2009 que continham poemas de

17 16 Augusto dos Anjos. No terceiro capítulo, descrevemos a observação de aulas nas quais os poemas de Augusto dos Anjos foram abordados, a intervenção e a utilização de questionários. O foco do primeiro capítulo são os poemas otimistas de Augusto dos Anjos, dentro de uma perspectiva interpretativa, centrada em alguns temas. Primeiramente refletimos sobre a ideia de um poeta tomado inteiramente pela melancolia e o pessimismo, apresentando algumas considerações de seus principais biógrafos, tais como Humberto Nóbrega (1962), Ademar Vidal (1967) e Raimundo Magalhães Júnior (1978), que mostraram o oposto dessas características do poeta. Depois disso, apresentamos a interpretação e alguns comentários de determinados poemas em que o eu lírico se mostra otimista. Os biógrafos, apesar de não utilizarem a expressão poemas otimistas, mostram esse lado diferente da poesia de Augusto dos Anjos, revelado em alguns poemas, sobretudo, escritos durante a sua adolescência. Como o nosso trabalho também se trata de leitores e recepção, comentamos resumidamente a trajetória de recepção dos poemas de Augusto através do julgamento de seus primeiros leitores-críticos após o lançamento do Eu. O segundo capítulo, por sua vez, consiste no estudo analítico do tipo de abordagem que os autores dos livros didáticos fazem da poesia de Augusto dos Anjos. Nesta perspectiva, avaliamos um corpus composto por onze livros didáticos referentes ao 3º ano do ensino médio contidos no catálogo do PNLEM 2009 para as escolas públicas brasileiras. Mesmo tendo em vista que o nosso foco é o trabalho com a poesia de Augusto dos Anjos, além de avaliar os livros didáticos, este capítulo apresenta reflexões acerca da utilização dos manuais em sala de aula, sobretudo na disciplina de literatura, através de estudos significativos como os de Chiappini (2005), Cereja (2005) e Pinheiro (2006), entre outros. Discorremos ainda de forma breve sobre o cânone literário e o ensino de literatura tendo como eixo a história literária. Associadas aos estudos analíticos dos manuais didáticos, destacamos algumas referências que foram fundamentais para nos nortearem quanto à presença dos textos consagrados pelo cânone (REIS, 1992; MARTINS, 2006), e o ensino de literatura tendo a historiografia como eixo (SILVA, 1973; CEREJA, 2005; PINHEIRO, 2006; MARTINS, 2006; NÓBREGA, 2008). Muito pertinentes para as nossas reflexões sobre o ensino de literatura e o uso do livro didático foram os documentos das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) e Referenciais

18 17 Curriculares para o Ensino Médio da Paraíba (PARAÍBA, 2006). A maior contribuição desses documentos foi permitir uma nova visão sobre o ensino de literatura no nível médio. O terceiro capítulo aborda a parte prática de nossa pesquisa, as observações de aulas sobre Augusto dos Anjos numa turma de 3º ano do ensino médio de uma escola estadual da cidade de Patos, Paraíba; a aplicação do questionário de sondagem com os alunos da referida turma; e os relatos da experiência que fizemos com os poemas da face otimista de Augusto dos Anjos também com os jovens leitores dessa turma, proporcionando aos alunos o contato com essa outra face da poesia augustiana, ao passo que observávamos a recepção. Relatamos ainda o que nos motivou escolher a escola e a turma referidas, os desafios enfrentados, as reflexões e as soluções, os impactos e efeitos da leitura dos alunos. Enfim, nas considerações finais buscamos apresentar nossas conclusões sobre as impressões dos poemas com a face otimista; a utilização dos livros didáticos para o conhecimento da poesia augustiana e para a formação do leitor de sua poesia; além da recepção de uma parte dos poemas com a face estudada. Sobre esses poemas, registramos sua importância para o leitor e sua qualidade estética. Sobre os livros didáticos, destacamos os elementos que em nossa concepção favorecem positivamente um trabalho efetivo com a poesia de Augusto dos Anjos para os alunos do ensino médio. Já sobre a realização da experiência, refletimos sobre a prática docente que envolveu as aulas de literatura da turma e o que a nossa prática proporcionou para a formação desses alunos-leitores. Procuramos além de tudo, registrar pontos que tenham motivado uma boa recepção dos poemas otimistas.

19 18 1 DA FACE COMUM À FACE OTIMISTA A poesia de Augusto dos Anjos é conhecida e cultuada nacionalmente, entre outros aspectos, pelo valor estético de sua linguagem rebuscada, sobretudo o vocabulário cientificista, e por ostentar um tom pessimista e melancólico. Embora estas tônicas que se consagraram estejam corretas, a leitura integral da obra completa do poeta nos chama a atenção para outras dimensões desta poesia. Desde a publicação do Eu Augusto dos Anjos foi conceituado como o poeta do mau gosto, obscuro, entre outros adjetivos. Sabemos que o poeta tem se destacado até hoje na literatura brasileira principalmente por apresentar uma poesia distinta dos padrões comuns, tecidos de uma linguagem suave, de um tom aprazível e de temas cobertos de lirismo amoroso, no entanto, mesmo tendo se destacado numa vertente oposta a esses padrões poéticos, ele também cultivou um estilo diferente da lírica irreverente que o dominou, revelando-se uma figura contrária àquela que vem sendo propagada como única. Para o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2001, p. 504), otimismo é o sistema de julgar tudo o melhor possível, de achar que tudo vai bem, logo contrário ao pessimismo, que é a disposição do indivíduo para encarar tudo pelo lado negativo, esperando de tudo o pior (FERREIRA, 2001). O Dicionário básico de filosofia (2006), por sua vez, apresenta um conceito semelhante para otimismo. Segundo ele, 1. O otimismo representa a concepção segundo a qual a realidade é intrinsecamente boa, sendo que, em última análise, o bem sempre prevalece sobre o mal. [...]. 2. O pessimismo opõe-se ao otimismo e designa uma atitude ou visão negativa das coisas, esperando sempre que o pior aconteça, ou considerando a realidade adversa, sendo impossível mudar as coisas para melhor (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2006, p. 209). Nesta mesma perspectiva, O dicionário de filosofia (2001) define otimismo como simples reconhecimento da otimidade do mundo. [...]. Dado que o pessimismo é o contrário de otimismo (MORA, 2001, p. 543). Os principais defensores do otimismo foram Espinoza e Leibniz. Este último é considerado um dos principais representantes do otimismo filosófico, devido à sua ideia de que este mundo é o melhor dos mundos possíveis (JIAPASSÚ e MARCONDES, 2006). Já os

20 19 principais representantes do pessimismo são Schopenhauer, Eduard Von Hartmann e Oswald Spengler. Diante desses conceitos, se Augusto dos Anjos é reconhecido como pessimista e melancólico pelo tom exibido em seus versos, pelo uso de um vocabulário que a alguns repugna e assusta, bem como pela preferência por temas inquietantes como a morte, entendemos a poesia de caráter otimista como sendo aquela que apresenta vocabulário mais ameno e temas cujo tratamento é realizado de modo mais leve. Rastreando a poesia completa de Augusto dos Anjos, percebemos que há inúmeros poemas dotados de otimismo e que contemplam temas como o amor, a esperança e Deus. Entretanto, a crítica literária esteve pouco atenta a esse viés, ou deixando de investigá-lo em sua poesia por acreditar que este não existia, ou simplesmente não se interessou em relatar sobre tal, talvez por julgar desnecessário ou considerá-lo uma face inferior e pouco importante. Os poemas que fazem parte do viés otimista de Augusto dos Anjos concentram-se em especial nas composições escritas em sua adolescência, antes de sua maturidade literária 2, os quais foram publicados postumamente em Outras poesias, Poemas esquecidos e Versos de circunstância. Embora para alguns críticos estes poemas, em sua grandíssima maioria, se revelam categoricamente como obra imatura (BUENO, 1994, p. 13), se comparados com as do Eu, para nós não deveriam ser tachados como inferiores e indignos de atenção da crítica e do leitor, pois muitos seguem o estilo do poeta, a predominância de sonetos, versos bem metrificados, com rimas e ritmos bem elaborados, e o vocabulário esdrúxulo. A riqueza de imagens, a elaboração das metáforas e a sonoridade acentuada tornam alguns desses poemas da face otimista tão atrativos e fruitivos quanto os poemas da face comum e mais conhecida do poeta. Sobre estes poemas excluídos por Augusto dos Anjos durante a seleção para a edição do Eu, Cunha (1994, p. 166) considera-os extremamente ruins, que o poeta não incluiu no seu livro e que ninguém tem o direito de ressuscitar. Para Nóbrega (1962), dessa primeira fase de sua poesia, o poeta pouco deixou de apreciável. Segundo este autor, os poemas dessa primeira fase representam o pipilar da ave antes de atingir a plenitude do gorgeio (sic) (NÓBREGA, 1962, p. 284). Ele 2 Paes (1997) considera maduros em Augusto dos Anjos os poemas inclusos no Eu, nos quais há a predominância do vocabulário cientificista, assim como um trabalho mais requintado com a linguagem e a forma.

21 20 apresenta como justificativa para o seu posicionamento o fato de o próprio Augusto ter feito a crítica dessas produções iniciais, deixando-as fora do Eu. Nessa questão da crítica, Magalhães Jr (1978, p. 59) comunga com o pensamento de Nóbrega (1962), pois para esse autor, nenhuma das páginas que até então publicara resistiria à sua exigente autocrítica, ao selecionar seus versos com vistas à publicação em volume. Acreditamos que para a edição da obra possivelmente o espaço dedicado aos poemas devia ser limitado, até mesmo por questões financeiras, e, dessa forma, escolher os poemas que iriam compor a sua primeira obra deve ter sido para o poeta uma tarefa árdua. Tendo ele o propósito de lançar uma concepção diferente de poesia, é óbvio que os poemas da face otimista, não tendo o mesmo estilo dos outros, ficassem de fora. Na opinião de Nóbrega (1962, p. 49), o poeta da angústia, da dor, do pessimismo e da poesia científica seria insincero se, em sua arte desse gasalhado a sentimentos reveladores de euforia e contentamento. Contudo, sobre os poemas relegados do Eu, Magalhães Jr. (1978, p. 310) julga que em alguns casos eles são superiores aos poemas inclusos na obra. Em concordância com o pensamento deste autor, consideramos que nas coletâneas lançadas com poemas excluídos do Eu há composições dignas de apreciação e muito bem trabalhadas esteticamente, porém, não vamos discutir aqui uma questão pessoal de gosto, antes iremos discutir a repercussão desses versos pela crítica. Ainda sobre essas composições poéticas, Magalhães Jr (1978, p. 11) afirma que para uns, estas, nada acrescentando de valioso à obra do poeta, antes a depreciam. Para outros, mesmo as mais imperfeitas, vacilantes e indecisas, explicam a evolução do artista do verso e as influências que atuaram sobre ele. Paes (1997, p. 200), por sua vez, a respeito desses poemas afirma que Isto não quer dizer que sejam destituídos de interesse para o crítico ou o historiador literário empenhado em rastrear a evolução da arte do poeta, desde os seus primórdios parnasiano-simbolistas até a conquista da dicção pessoal, inconfundível e originalíssima dos maduros poemas do Eu. Com o pensamento quase semelhante ao de Paes, Magalhães Jr. (1978, p. 48) garante que vale a pena conhecer as composições líricas excluídas por Augusto dos Anjos, porque através delas podemos acompanhar sua evolução poética, desde as primeiras tentativas, ainda trôpegas e hesitantes, até a cristalização de sua forma,

22 21 após a escolha do caminho definitivo, quando já aluno da Faculdade de Direito de Recife. Levando para a questão biográfica, Vidal (1967) comenta que os poemas excluídos do Eu são capazes de apresentar maiores dimensões à personalidade emocional do poeta e ajudar num julgamento mais preciso. Quanto à dimensão artística, para o autor, esses poemas apresentam um aspecto muito diferente do Eu. Vidal (1967) afirma que através das composições escritas na sua primeira fase (poemas que compõem as coletâneas Outras poesias, Poemas esquecidos e Versos de circunstância), Augusto dos Anjos revela uma personalidade (lírica) bem diferente daquela que compõem os poemas de seu livro, escritos durante a sua segunda ou derradeira fase, expressão utilizada pelo autor para se referir aos poemas que compõem o Eu. Na primeira fase, de um lado, mostra tendências para a poesia então na moda, ou seja, o Parnasianismo, cânticos à natureza se confundindo com o amor, os eternos temas de que ordinariamente se servem os poetas de passados tempos (VIDAL, 1967, p. 23). Na segunda fase, ainda de acordo com Vidal (op. cit, p. 23), vamos depará-lo inteiramente contrário ao que era antes, ou melhor: não admite o amor na forma comum, material, sem acreditar em nada. A diferença, sobretudo temática, apontada por Vidal, entre os poemas das duas fases é que os poemas do Eu giram em tôrno (sic) de temas eternos, em que a Dor figura como razão central. Há nêles (sic) aquilo que se pode levar à conta de erudição, tornando-os tanto científicos na escolha de têrmos (sic) como na configuração do pensamento (VIDAL, 1967, p. 16). Em síntese, Augusto dos Anjos teve duas quadras definidas em sua existência. A primeira em que a gente depara a sua libertação de preconceitos, produzindo sôbre (sic) temas com inteira despreocupação filosófica e científica, falando das doçuras do amor e da mulher, enquanto que, na segunda fase, se mostra dono de outro estilo, entregando-se à elaboração do que se encontra enfeixado no Eu (VIDAL, 1967, p. 39). Acredita-se que inúmeros foram os motivos que levaram Augusto dos Anjos a mudar a sua forma de versar. Os pensamentos propagados na Faculdade do Recife, por Tobias Barreto e outros pensadores contemporâneos seus, fizeram com que o poeta começasse a intensificar em seus versos o cientificismo e o pessimismo ceticista, reflexo de sua época, caracterizada por Bosi (1969) de positivista, agnóstica e liberal. Sobre essa mudança, Magalhães Jr. (1978, p. 80) assegura que

23 22 a convivência, com professores e alunos, num centro cultural fervilhante de ideias, causaria poderoso impacto em sua inteligência moça, dando nova feição à sua poesia, sendo influenciadora de sua nova fase de composição poética e transformação filosófica. Na Faculdade de Direito do Recife, Augusto dos Anjos conheceu o professor José Izidoro Martins Júnior, que também era poeta com grande influência do positivismo e cientificismo, autor do livro A poesia científica. Sobre a influência dessa nova amizade na adoção do cientificismo, Magalhães Jr (1978, p. 131) comenta que o poeta alcançava a sua feição definitiva, entre os vinte e um e os vinte e dois anos, só lhe acrescentando, a partir daí o vocabulário cientificista, que o aproximaria, cada vez mais, de Martins Júnior, à medida que o ia afastando de suas fontes iniciais e da visível influência de Cruz e Sousa. Depois de algumas reflexões sobre as duas fases da poesia de Augusto dos Anjos das quais se depreendem suas diversas faces, acreditamos que os críticos andaram apressados em ater-se a limites aceitos como definitivos (VIDAL, 1967, p ), ao disseminarem a poesia de Augusto dos Anjos quase exclusivamente pelos vieses pessimista, melancólico e cientificista 3, desprezando suas outras composições. Consideramos imprescindível o conhecimento dos poemas da primeira fase da poesia augustiana, sobretudo do viés otimista, não só pelos historiadores e críticos, mas especialmente pelo leitor iniciante, visto os temas menos inquietantes e a linguagem mais aprazível. Nessa questão evolutiva, consideramos como ponto positivo o fato de o leitor em formação ter a possibilidade de acompanhar as mudanças pelas quais a poesia do poeta passou a fim de melhor compreendê-la no ápice de sua criação. À medida que esse leitor conhece poemas de cunho diferenciado, além de ampliar seu horizonte de leitura em relação à poesia augustiana, tem a oportunidade de escolher quais estilos lhe agradam. Por isso reputamos essencial a experiência estética entre o leitor e esses poemas, visando à fruição dos textos e à formação de leitores da poesia augustiana. 3 Os vieses expressionista e impressionista, que são comumente associados à poesia de Augusto dos Anjos, são utilizados como forma comparativa entre os versos augustianos e essas tendências de vanguardas.

24 23 Na atualidade, grandes críticos literários têm prestigiado na organização de suas antologias ou livros de historiografia literária os poemas canônicos do Eu em detrimento dos poemas relegados. Alfredo Bosi, no livro História concisa da literatura brasileira (2006), preocupa-se em mostrar, como a maioria dos críticos, poemas que ressaltam o lado pessimista, cientificista e melancólico de Augusto dos Anjos. Em seu livro, Bosi apresenta um (1) poema na íntegra e fragmentos de seis (6) poemas para demonstrar a dimensão cósmica da poesia augustiana, o evolucionismo, a miséria da carne tendo o verme como um deus, o prosaísmo, o descaso do poeta pelo amor, entre outros 4. Outro crítico literário, Massaud Moisés, cujo livro A literatura brasileira através dos textos (2007) é grande referência em antologia de textos literários ordenados à luz da historiografia, apresenta quatorze (14) poemas que ilustram o pessimismo, cientificismo e a melancolia da poesia de Augusto dos Anjos, com exceção de um (1), que consideramos fazer parte da face otimista em nosso trabalho, chamado Ultima Visio 5. Não queremos criticar o trabalho de Bosi e Moisés, mas sim destacar que os temas ou os poemas da face otimista ainda não ganharam espaço nos estudos desses grandes críticos. Essa referência pode refletir na seleção do corpus de leitura atribuído pelos autores dos livros didáticos, junto das primeiras leituras acerca da obra de Augusto dos Anjos, naquilo que constitui as primeiras recepções de seus poemas, bem como as primeiras críticas atribuídas à sua obra, que prestigiam as composições do Eu e enfatizam o pessimismo, cientificismo e a melancolia presentes na maioria dos poemas. Apesar de a ação de explorar os mesmos temas não ocasionar necessariamente uma repetição crítica, em certo sentido, o livro didático, por exemplo, pode refletir as leituras que o precederam por serem legitimadas por críticos renomados. Sendo assim, a face otimista ainda continua sendo esquecida por uma parcela de pesquisadores, críticos e autores de livros didáticos talvez porque suas leituras não tenham tanta força quanto a que é comumente disseminada, e dessa forma não tomaram grandes proporções. 4 Há no livro de Bosi (2006) o poema O lamento das coisas, e os fragmentos de Psicologia de um vencido, A ideia, O deus-verme, Queixas noturnas, O martírio do artista, e Monólogo de uma sombra. 5 No livro de Moisés (2007) há os poemas Psicologia de um vencido, Budismo moderno, Vandalismo, Versos íntimos, Eterna mágoa, O lamento das coisas, O meu nirvana, Homo infimus, Vítima do dualismo, Ao luar, Apóstrofe à carne, Ultima visio, O poeta do hediondo e Revelação.

25 Os primeiros leitores de Augusto dos Anjos: a face comum Augusto dos Anjos foi um poeta que em vida lançou unicamente um livro, intitulado Eu, e foi o bastante para o seu nome ser consagrado como um dos poetas mais autênticos da literatura brasileira, quiçá o mais original, como aponta Bosi (2006), destacando-o entre Cruz e Sousa e os modernistas. O Eu foi publicado no ano de 1912, compondo 58 poemas, tendo sido, em sua maioria, anteriormente divulgados nos jornais paraibanos A união ou O Comércio. A sua única obra não poderia ter um título melhor para demonstrar a inquietação de um poeta que, embora tenha versejado a dor universal e as misérias humanas, também deixa transparecer, em alguns de seus poemas, traços de otimismo gerados das suas primeiras composições. Porém, essa tensão na sua poesia não foi visualizada pelos primeiros críticos da obra, passando a ser explorada a partir dos poemas relegados desta. A princípio, a recepção dos primeiros leitores e críticos do Eu foi calorosa e fervilhante, pois seus poemas repercutiram de modo que por um lado conquistaram admiradores, e por outro chocaram aqueles que eram acostumados com a poesia da belle époque ainda com resquícios do modelo de arte enaltecido pelos parnasianos e simbolistas. Partindo da reflexão de Zilberman (1989, p. 114), quando postula que a recepção refere-se à acolhida alcançada por uma obra à época de seu aparecimento e ao longo da história, faremos um breve percurso sobre as primeiras críticas lançadas ao Eu logo após sua primeira edição, destacando depoimentos que se opõem à face otimista da poesia do poeta. Paradoxalmente, o Eu foi recebido com muito elogio por uns e com muita crítica por outros. Umas das primeiras notícias sobre o Eu foi escrita por Oscar Lopes, publicada em O país, em 9 de junho de O Sr. Augusto dos Anjos, autor de um livro de versos intitulado Eu, fez barulho logo à chegada. A muita gente ele parecerá apenas um desequilibrado. O título escolhido para suas poesias é de uma ousadia rara. Algumas das composições são perfeitamente estranhas e caracterizadas por tudo quanto constitui a moeda corrente nas letras da nossa terra. Entretanto, passada a primeira impressão, o leitor verifica que dentro daquelas páginas palpita o espírito original, que tanto verseja e sempre com um singular poder

26 25 musical sobre temas exclusivamente bizarros (LOPES apud MAGALHÃES JR, 1994, p. 58). Em 13 de junho de 1912, Eurícles de Matos escreveu em A Tribuna um texto sobre o Eu do qual destacaremos apenas um fragmento. Após o autor elogiar Augusto dos Anjos e considerar a poesia dele reveladora de um espírito culto, com qualidades poéticas pouco comuns, finaliza com um comentário que sintetiza sua empatia para com os poemas augustianos. A estréia de Augusto dos Anjos, posso adiantar, fica como o acontecimento do ano. Que livro saído até este momento poderá ser apontado para derribar essa minha afirmativa? Que poeta de nota é esperado em alguma obra prometida? (MATOS apud MAGALHÃES JR, 1994, p ). No dia 16 de julho de 1912, saía no Diário de Notícias um artigo de Hermes Fontes sobre o poeta paraibano, entre outros autores. Após tecer alguns elogios quanto ao talento do poeta, o autor faz uma confissão: No livro Eu, de Augusto dos Anjos, há muitas coisas que me desagradam, já pela monotonia das idéias e de módulos, já pela insistência em certos assuntos que perdem o condão de agradar e surpreender quando insistentes e crebros, já porque o ilustre poeta forceja por unificar os pontos de vista e os processos de sua arte, o que, aliás, consegue, mas sem sutileza... (FONTES apud MAGALHÃES JR, 1978, p. 265). De acordo com Viana (2001, p. 42), a respeito da publicação do Eu, os que não perceberam a novidade limitaram-se a manifestar o seu desprezo ou espanto, pois não compreenderam que mesmo tendo gerado outro tipo de expectativa, o livro abriu um novo horizonte temático-estilístico para a poesia brasileira. De acordo com Melo Filho (1994, p. 15), incompreendido, foi desprezado por um vasto segmento de intelectualidade brasileira, que não entendia o gosto macabro dos seus temas ou o linguajar pretensioso das suas estrofes, tidas como pseudocientíficas e mais apropriadas a um livro de medicina legal. Sobre a incompreensão da crítica, Melo Filho (1994) ainda notifica que o fato de Augusto dos Anjos ter-se revoltado contra o tradicionalismo da poesia brasileira

27 26 daquela época foi a causa da não-aceitação de sua obra por uma parcela dos intelectuais. Lins (1994) afirma que grande parte do pouco êxito da obra de Augusto no momento em que foi publicado deveu-se ao fato de ela ser estranha aos padrões correntes. Contudo, Viana (2001) assegura que apesar de muita incompreensão ao julgamento do valor estético do Eu, nunca houve indiferença para com os méritos do seu autor. Deste modo, o reconhecimento foi lento e somente aí, depois de morto, passou a ser um poeta respeitado, conhecido e admirado (MELO FILHO, 1994, p. 18). Logo, os intelectuais da época o aceitaram e o reconheceram como o maior precursor e o melhor representante da poesia cientificista no Brasil, logrando assim mérito ímpar. A reedição do Eu foi preparada depois da morte de Augusto dos Anjos por iniciativa de seu amigo, Órris Soares, com ajuda da viúva, Dona Éster de Fialho. A segunda edição trouxe além dos 58 poemas já presentes na obra inicial, outros 48 poemas formando o Eu e Outras poesias, custeada pelo Governo do Estado da Paraíba, em Depois de Órris Soares, outros estudiosos pesquisaram alguns outros poemas que não foram divulgados nas duas obras iniciais e publicaram uma terceira edição, agora apresentada como Eu, Outras poesias e Poemas esquecidos, em Durante muito tempo a atenção da crítica esteve voltada quase exclusivamente para os poemas do Eu ou Eu e outras poesias, e, por conseguinte os estudos sobre esses poemas contemplaram os vieses cientificista, pessimista e melancólico da poesia augustiana. À medida que se priorizou essa concepção de interpretação da poesia de Augusto dos Anjos, desprezaram-se outras, no que se refere à face otimista. Alguns críticos e ensaístas não só notaram a ausência dos temas de Deus, amor e esperança, como também alegaram que o poeta sequer tinha escrito algo sobre eles. Ainda quando esses temas foram notados, foram vistos de acordo com o pessimismo ou a melancolia do poeta. Órris Soares afirma que na poesia de Augusto dos Anjos nota-se a ausência de uma clave: - a do amor. (SOARES, 1994, 71). Contudo, essa ausência não foi notada somente por Soares, visto que muitos críticos comentaram a falta desse assunto na poesia augustiana. Kopke (1994, p. 151), por exemplo, também destaca a ausência de adesão e de amor na maioria de seus poemas e sonetos.

28 27 De acordo com Bandeira (1994, p. 114), os primeiros críticos de Augusto dos Anjos notaram logo a completa ausência de poemas de amor em toda a sua obra. Porém o autor adverte que essa ausência é para o amor carnal. Segundo ele, Augusto dos Anjos considerava este tipo de sentimento uma mentira, não era amor, não passava de comércio físico nefando (idem, ibdem). Bandeira, ao atentar para a ausência do amor carnal na poesia de Augusto dos Anjos, mostra uma visão limitada em assegurar que a ausência desse tema refere-se demasiadamente à totalidade da criação poética do paraibano. Provavelmente no período em que Bandeira escreveu seu ensaio a obra completa do poeta se resumia ao Eu ou Eu e outras poesias, e é possível que ele não tenha tido conhecimento dos Poemas esquecidos, em que o poeta versa sobre o amor, sobretudo, numa concepção um pouco erotizada. Sobre o amor na concepção erótica, Freyre (1994, p. 28) assegura que para o poeta o amor carnal era considerado motivo de pecado, pois em seus poemas, o sexo aparece sempre manchado de culpa. Esse comentário afigura-se oportuno porque provavelmente se refere unicamente aos poemas do Eu, em que o poeta, sem dúvida, assume uma postura sobre o amor diferente da que expunha nos poemas de sua primeira fase. Entretanto, a crítica literária teceu comentários não somente sobre a ausência do amor na concepção destacada por Bandeira e Freyre, como também sobre o amor idealista e espiritualista. Para justificar essa aparente lacuna na poesia augustiana, alguns críticos guiaram-se pela mera impressão e algumas vezes pela subjetividade, a exemplo de Torres (1994, p 54), que afirmou que Augusto dos Anjos não cria no amor. Por isso não o decantava. Para o autor é pelo amor que se perpetua a Vida; logo, deve detestar o primeiro, que é um meio, quem detesta a segunda, que é um fim (TORRES, 1994, p. 57). Esta reflexão insinua que Augusto dos Anjos detestava o amor porque detestava a vida, e por isso não versejou sobre ele. Mas como pode Torres atestar uma afirmação tão íntima ao poeta sem ao menos ter tido algum tipo de contato direto com ele? Supostamente Torres deve ter tirado essa conclusão a partir dos poemas pessimistas e melancólicos de Augusto dos Anjos, porém, se tivesse tido conhecimento sobre a face otimista do poeta, talvez sua afirmação fosse diferente. Pensamento quase semelhante tem o crítico Órris Soares, ao proferir que o amor, seiva e fonte da vida, não lhe tirou uma lágrima, nem no peito lhe fez bater

29 28 contentamentos (SOARES, 1994, p. 71). Essa afirmação atribuída ao próprio poeta é citada para referir-se ao fato de Augusto dos Anjos não ter sido motivado a poetar sobre o amor porque não teve experiências satisfatórias com ele. Apesar de Soares ter tido contato direto com Augusto dos Anjos no período da faculdade, revela-se desconhecedor da intimidade do colega, pois adiante veremos que outros críticos mais próximos da realidade do poeta desvendaram fatos que contrariam esse mito e as suposições feitas sobre a face mais conhecida de sua poesia. A partir desses dois últimos comentários vemos que se tenta utilizar a biografia do poeta para justificar uma mera impressão observada sobre sua criação artística. A ausência do tema do amor na sua poesia é constantemente atribuída a fatos ocorridos na sua vida particular. Medeiros e Albuquerque (1994, p. 96) assevera que após uma vida que foi antes uma prolongada agonia, não deixou versos de amor, e acrescenta que o que ele teve foi vergonha de cantar certos sentimentos íntimos (MEDEIROS E ALBUQUERQUE, 1994, p. 97). Visto unicamente como pessimista e melancólico, a crítica revelava cada vez mais a figura do poeta sob o prisma do eu lírico. Sendo assim, a sua descrença no amor, em Deus, a falta de esperança na vida e a obsessão pela morte, constantemente vistas no eu poético, eram aplicadas ao poeta do Eu. A prática de interpretação de cunho biográfico é constante na poesia de Augusto dos Anjos. O que se vê com frequencia é a associação das características da pessoa lírica à pessoa do poeta, sendo comum confundirem a pessoa de Augusto dos Anjos com o eu lírico dos seus poemas e misturarem a sua criação poética com a sua biografia. A respeito dessa apelação biográfica, Oliveira (2008, p.12) alega que O biografismo com que sua obra costuma ser abordada é tão exacerbado que chegou a criar um verdadeiro mito, suposta chave de interpretação da sua poesia. [...] O apelo à vida concreta do autor como estratégia de leitura da obra atinge aqui seu ápice ridículo, ao eleger, como gênese de um determinado temperamento lírico, um dado biográfico que nem sequer existiu. Tal é o tipo de precariedade analítica de que Augusto dos Anjos tem sido vítima. Como observamos, vários críticos literários e até estudiosos da poesia de Augusto dos Anjos durante décadas fizeram estudos vinculados às faces que costumam ser mais comuns em sua poesia, alguns sem muita observação na totalidade dos poemas do paraibano. De acordo com Helena (1983, p. 51),

Qual o foco temático do soneto ele faz uma abordagem pessimista ou otimista do tema?

O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte.

Como o eu lírico caracteriza a razão?

O eu lírico usa os adjetivos “importuna” e “ríspida” para caracterizar a Razão. Essa visão depreciativa contrasta com o apreço árcade pelo racionalismo.

Como o eu lírico caracteriza seu estado de espírito e qual o recurso utilizado no soneto para simbolizar o estado em que se encontra o eu lírico justifique?

Resposta. O eu lírico encontra-se em estado de agitação e também confuso. Por isso, a constante presença da antítese para figurar esse estado de alma, como podemos ver em: "justamente choro e rio" / "Agora espero, agora desconfio," / "Agora desvario, agora acerto".

Como o eu lírico vê o amor explique?

3) a) O eu lírico vê o amor como algo maior que a própria vida e a morte, idealiza tanto o sentimento que clama pela morte, como um escapismo para o sofrimento terreno: “Quero viver um momento,/ Morrer contigo de amor!”. Temos uma visão típica do mal-do-século.