M�dulo I
Liga��o qu�mica em compostos i�nicos
Aula 1: Liga��o qu�mica, estrutura cristalina e energia reticular de compostos i�nicos
Meta
Apresentar o conceito de liga��o i�nica. |
Objetivos
Reconhecer as principais propriedades f�sicas e qu�micas de compostos i�nicos.
Reconhecer a natureza eletrost�tica das liga��es i�nicas.
Aplicar os conceitos de dist�ncia interi�nica e energia potencial.
Distinguir as etapas energ�ticas necess�rias para a forma��o dos compostos i�nicos (ciclo de Born-Haber).
�ndice
1. Defini��es e propriedades dos compostos i�nicos
2. Liga��o qu�mica e estrutura dos cristais i�nicos
2.1. Liga��o i�nica
2.2. Estrutura dos ret�culos cristalinos i�nicos
3. Energia reticular. Ciclo de Born-Haber
4. Solubilidade das subst�ncias i�nicas
1. Defini��es e propriedades dos compostos i�nicos
As liga��es qu�micas s�o intera��es entre �tomos ou �ons e est�o intimamente relacionadas �s configura��es eletr�nicas dessas esp�cies.
O que ocorre quando dois �tomos ou �ons se aproximam?
Uma liga��o qu�mica � estabelecida entre as esp�cies apenas se o arranjo final de seus n�cleos e de seus el�trons conferir ao par uma energia potencial menor que a soma das energias dos �tomos ou �ons isolados. Em outras palavras: podemos dizer que um composto qu�mico � formado apenas se proporcionar uma situa��o de estabilidade termodin�mica maior que aquela envolvendo seus constituintes isoladamente. Assim, podemos dizer que quando uma liga��o qu�mica � formada, energia � liberada!
Existem tr�s mecanismos poss�veis para alcan�ar, via forma��o de liga��es qu�micas, uma situa��o termodinamicamente mais est�vel que aquela de �tomos ou �ons isolados. A liga��o i�nica � estabelecida pela atra��o eletrost�tica entre �ons de cargas opostas [c�tions (�ons positivamente carregados) e �nions (�ons negativos)], que se arranjam no ret�culo cristalino de maneira a aumentar as for�as atrativas (entre cargas opostas) e diminuir as repulsivas (entre cargas iguais). Ou seja, a posi��o relativa (dist�ncia interi�nica m�dia) de c�tions e �nions num cristal i�nico � o resultando principalmente do balan�o de for�as eletrost�ticas. A liga��o covalente � caracterizada pelo compartilhamento de um par de el�trons entre dois �tomos vizinhos que, unidos, podem formar mol�culas ou s�lidos covalentes (diamante e da s�lica s�o exemplos de s�lidos covalentes). E a liga��o met�lica, como o pr�prio nome diz, � respons�vel por manter metais unidos atrav�s do que podemos chamar de �mar de el�trons�, que funciona como uma �cola negativamente carregada�, ligando os c�tions met�licos. A manifesta��o de cada um desses tipos de liga��o qu�mica depende exclusivamente da configura��o eletr�nica dos elementos, ou seja, da natureza dos �tomos. Pelo que voc� viu at� aqui, o �nico dos tr�s tipos de liga��o qu�mica mencionados que aparentemente n�o tem natureza eletrost�tica t�o pronunciada � a liga��o covalente.
Cada tipo de liga��o qu�mica pode levar a subst�ncias com propriedades f�sicas e qu�micas bem distintas. Subst�ncias i�nicas, como o sal de cozinha (NaCl), normalmente apresentam alto ponto de fus�o (p.f.) e dureza (embora possam ser fr�geis, quebradi�as), alta solubilidade em �gua (e em outros solventes polares com alta constante diel�trica) e baixa condutividade i�nica no estado s�lido, mas alta condutividade em solu��o. Metais t�picos exibem alta condutividade t�rmica e el�trica, densidade elevada e brilho met�lico. As mol�culas diferem muito entre si em termos de estruturas e propriedades, de maneira que as generaliza��es s�o bem mais limitadas. S�lidos covalentes, por sua vez, s�o normalmente maus condutores el�tricos e insol�veis em �gua.
Salitre (nitrato de s�dio e pot�ssio) no deserto do Atacama (Chile).
Cobre (subst�ncia met�lica).
A��car (mol�culas de sacarose, C12H22O11).
Ligue-se!
Voc� sabia que os s�lidos podem ser classificados de acordo com o tipo de liga��o qu�mica predominante em sua estrutura?
S�lidos i�nicos: formados por c�tions e �nions. Exemplos: NaCl, KNO3 etc. |
S�lidos met�licos: formados exclusivamente por metais. Exemplos: ferro, platina, ouro etc. |
S�lidos moleculares: formados por mol�culas org�nicas e/ou inorg�nicas. As mol�culas podem interagir entre si atrav�s de liga��es de hidrog�nio, intera��o do tipo dipolo-dipolo e for�as de dispers�o. O tipo de liga��o intermolecular depende da estrutura qu�mica das mol�culas. Exemplos de s�lidos moleculares: sacarose, gelo, pol�meros (s�lidos macromoleculares!), carv�o, grafita, fulerenos, nanotubos etc. Alguns al�tropos de carbono podem ser considerados s�lidos moleculares e covalentes simultaneamente. � o caso da grafita, fulerenos e nanotubos. |
S�lidos covalentes: formados por �tomos ligados covalentemente ao longo de todo o ret�culo cristalino. N�o h� forma��o de unidades moleculares discretas, e sim de um tipo de pol�mero inorg�nico. Exemplos: diamante, s�licas (SiO2), ze�litas (alumino-silicatos) etc. |
S�lido | Tipo predominante de liga��o | Propriedades f�sicas |
I�nico | I�nica | Duro, fr�gil, p.f. elevado, mau condutor |
Met�lico | Met�lica | Macio ou duro, p.f. m�dio-elevado, bom condutor |
Molecular | Covalente e for�as intermoleculares | Macio, p.f. baixo-m�dio |
Covalente | Covalente | Duro, p.f. elevado, mau condutor |
Ze�lita tipo faujasita
Fulereno.
Cristal de quartzo (s�lica mais est�vel).
Diamante (a) e grafita (b).
Voc� pode observar na Tabela 1 algumas propriedades de sais, metais, s�lidos moleculares e covalentes.
Tabela 1: Algumas subst�ncias e suas propriedades.S�lido | Tipo de liga��o predominante | Ponto de fus�o | Solubilidade em �gua |
Cobre | Met�lica | 1083oC | Insol�vel |
Platina | Met�lica | 1769oC | Insol�vel |
S�dio | Met�lica | 98oC | Insol�vel |
NaCl | I�nica | 801oC | Sol�vel |
LiCl | I�nica | 605oC | Sol�vel |
Na2CO3 | I�nica | 851oC | Sol�vel |
NaNO3 | I�nica | 307oC | Sol�vel |
Sacarose | Covalente | 186oC | Sol�vel |
Naftalina | Covalente | 80oC | Insol�vel |
Grafita | Covalente | - | Insol�vel |
Diamante | Covalente | - | Insol�vel |
Quartzo | Covalente | 1830oC | Insol�vel |
O diamante pode ser convertido em grafita em alta temperatura e press�o. O inverso tamb�m pode ocorrer. Veja o diagrama de fase do carbono visitando os sites:
2. Liga��o qu�mica e estrutura dos cristais i�nicos
2.1. Liga��o i�nica
Os compostos i�nicos podem ser formados por duas rotas distintas:
(a) Rea��o de met�tese (comumente chamada de dupla troca):
Ex.: Ba(NO3)2(aq) + Na2SO4(aq) � BaSO4(s) + 2 NaNO3(aq)
(b) Rea��o heterog�nea:
Ex.: K(s) + � Cl2(g) � KCl(s)
Em ambos os casos, c�tions e �nions, quando formados, aproximam-se para formar o sal. A natureza da liga��o i�nica � essencialmente eletrost�tica. C�tions e �nions s�o atra�dos eletrostaticamente e os �ons de mesma carga s�o repelidos. O balan�o das for�as de atra��o e repuls�o define a disposi��o final dos �ons no ret�culo cristalino e, conseq�entemente, as dist�ncias interi�nicas.
Relembre as express�es matem�ticas para a for�a de atra��o eletrost�tica (
onde r � a dist�ncia entre as cargas (q) (ou �ons) e 1/4πε � uma constante. Para a situa��o de repuls�o eletrost�tica, na qual ter�amos
Como a energia � uma propriedade escalar, se as cargas forem opostas (sinais trocados), a energia � negativa; logo, Eatr< 0; mas se as cargas forem iguais (mesmos sinais) (++ ou --), a energia � positiva, isto �, Erep > 0.
Bem... Aqui surge uma quest�o importante que precisa ser esclarecida!
Qual a rela��o entre energia eletrost�tica, dist�ncia entre os �ons e estrutura do cristal i�nico?
Como voc� j� estudou, para que um composto i�nico seja formado, o arranjo final de seus �ons precisa configurar uma situa��o de menor energia (maior estabilidade) que aquela para os �ons isolados. Se considerarmos que a energia potencial total do composto salino � dada pela soma Eatr + Erep, quanto mais pr�ximos estiverem os �ons de cargas opostas e mais distantes estiverem os �ons de mesma carga, menor ser� a energia total. Como?! � simples: para c�tions bem pr�ximos de �nions, temos um valor pequeno de r (chamado aqui de dist�ncia interi�nica) na equa��o para Eatr (veja acima), fazendo com que o valor da energia de atra��o seja mais negativo (mais positivo em m�dulo). Para o caso da repuls�o, quanto maior for a dist�ncia c�tion-c�tion ou �nion-�nion, menor (menos positivo) ser� o valor de Erep. Assim, temos uma situa��o de menor energia. � comum imaginar que, na forma��o do s�lido i�nico, os �ons v�o se aproximando e se arranjando de maneira a minimizar a energia de atra��o e de repuls�o.
Na forma��o de um ret�culo i�nico, � poss�vel pensar que, quando o primeiro par i�nico [M+X-] � gerado, o campo el�trico atrativo (para o campo gerado por q+ atuando sobre q- a uma dist�ncia r:
Normalmente se pensa que o crescimento de um ret�culo i�nico ocorre de maneira anisotr�pica, ou seja, sem direcionamento no espa�o. Pensa-se assim porque o campo el�trico gerado pelos �ons n�o tem orienta��o espacial. Com isso, a liga��o i�nica seria igual em todas as dire��es do espa�o. O �nico crit�rio estrutural que �ons devem adotar � que as dist�ncias interi�nicas favore�am a atra��o e desfavore�am a repuls�o. Por essas raz�es, a liga��o i�nica � dita n�o-direcional. Voc� concorda? D� uma olhada na se��o 2.2 e tire suas pr�prias conclus�es.
Examinando a natureza dos elementos formadores das subst�ncias i�nicas e dos �ons originados por eles, algumas particularidades se evidenciam:
os metais alcalinos (grupo 1) e alcalinos terrosos (grupo 2) originam �ons positivamente carregados com carga +1 e +2, respectivamente; | |
os elementos representativos do grupo 17 (halog�nios) originam �ons de carga -1; | |
os elementos que pertencem ao grupo 16 (calcog�nios) originam compostos em que se apresentam na forma de �ons com duas unidades de carga negativa (�nions divalentes). Exemplos: O2- e S2-. |
Ap�s a an�lise desses fatos e considerando a pronunciada in�rcia qu�mica dos gases nobres, que apresentam oito el�trons em seu �ltimo n�vel de energia (exceto o h�lio, que tem dois el�trons), Walter Kossel, em 1916, formulou uma nova teoria. Kossel admitiu que os elementos seriam quimicamente ativos por terem, em seu �ltimo n�vel de energia, um n�mero de el�trons menor que oito. Por esse motivo, tais elementos tenderiam a ajustar o n�mero de el�trons nos seus n�veis exteriores, capturando-os ou cedendo-os.
Prof. Walter Kossel (1888-1956)
As id�ias de Kossel originaram a teoria da eletroval�ncia, que passou a ser incorporada no modelo ou regra do octeto (discutido com mais detalhe nas pr�ximas aulas). Para atingir a estabilidade, segundo o modelo do octeto, os �tomos dos metais representativos (grupos 1 e 2) perdem seus el�trons de val�ncia, transformando-se em c�tions, e os �tomos dos n�o-metais (grupos 16 e 17) recebem el�trons e formam �nions. Em outras palavras, podemos dizer que a facilidade dos metais em perder el�trons se traduz em potenciais de ioniza��o (1o P.I.s) relativamente baixos (menores que 800 kJ/mol, enquanto para n�o-metais � sempre maior que 1,0 MJ/mol). Conseq�entemente, as afinidades eletr�nicas (1a A.E.s) dos n�o-metais s�o sempre bem maiores que aquelas para os alcalinos e alcalinos terrosos. Para que esse conjunto de �ons permane�a coeso, as part�culas i�nicas de cargas contr�rias se atraem e se mant�m atra�das ao m�ximo, ao passo que a repuls�o deve permanecer t�o baixa quanto poss�vel. O resultado imediato dessas intera��es � que o conjunto de �ons deve ser extremamente organizado e est�vel, de forma a estabelecer o melhor compromisso entre a atra��o e a repuls�o.
2.2. Estrutura dos ret�culos cristalinos i�nicos
Uma boa aproxima��o para estimar o tipo de estrutura cristalina de um composto i�nico se d� ao conhecer os raios i�nicos dos �ons. Quanto maiores as dist�ncias internucleares r, maiores os raios i�nicos. A Tabela 2 mostra alguns valores de raios i�nicos determinados experimentalmente e valores de n�meros de coordena��o (N.C.s) para os �ons. N.C. � uma quantidade importante e significa o n�mero de vizinhos mais pr�ximos ligados a um �on central. � interessante observar que o raio i�nico efetivo aumenta com o aumento do N.C. para um determinado �on. Para c�tions e �nions, como o N.C. aumenta, a repuls�o entre os contra-�ons (�ons de mesma carga, mas oposta �quela do �on central) aumenta (tem mais �ons de mesma carga pr�ximos de um �nico �on de carga oposta), fazendo com que os raios i�nicos aumentem, ou seja, as dist�ncias interi�nicas c�tion-�nion aumentem. Isso deve se refletir numa menor estabilidade do ret�culo. Alternativamente, para um N.C. baixo, os contra-�ons t�m mais facilidade de se aproximar do �on central, ocasionando uma diminui��o de r e, conseq�entemente, dos raios i�nicos. � importante mencionar que os N.C.s tamb�m s�o obtidos experimentalmente.
Tabela 2. Raios i�nicos (10-12 m) e n�meros de coordena��o (N.C.).�on | Raio i�nico | N.C. | �on | Raio i�nico | N.C. | |
Li+ | 73 | 4 | F- | 114,5 | 2 | |
90 | 6 | 116 | 3 | |||
106 | 8 | 117 | 4 | |||
Na+ | 113 | 4 | 119 | 6 | ||
116 | 6 | Cl- | 167 | 6 | ||
132 | 8 | Br- | 182 | 6 | ||
K+ | 151 | 4 | I- | 206 | 6 | |
152 | 6 | O2- | 121 | 2 | ||
165 | 8 | 122 | 3 | |||
Cs+ | 181 | 6 | 124 | 4 | ||
188 | 8 | 126 | 6 | |||
Mg2+ | 71 | 4 | 128 | 8 | ||
80 | 5 | S2- | 170 | 6 | ||
86 | 6 | NO3- | 165 | a | ||
Ca2+ | 114 | 6 | CO32- | 164 | a | |
126 | 8 | OH- | 118 | 2 | ||
Ba2+ | 149 | 6 | 120 | 3 | ||
156 | 8 | 121 | 4 | |||
NH4+ | 151 | a | 123 | 6 | ||
CN- | 177 | a | SO42- | 244 | a | |
a Raio termodin�mico.Fonte: J.E. Huheey et al., Inorganic Chemistry, 4th. ed., 1993, pg. 114-118. |
Na Tabela 2, voc� pode facilmente perceber que o raio cati�nico � sempre menor que o ani�nico para dois elementos num mesmo per�odo (veja os casos dos �ons Na+ e Cl- ou K+ e Br-, por exemplo). � importante relembrar que os valores dos raios i�nicos dependem da estrutura (do n�mero de coordena��o), e n�o o inverso.
A Figura 1 mostra o ret�culo cristalino do cloreto de s�dio (NaCl) determinado experimentalmente. � poss�vel observar que cada �on cloreto est� circundado por seis �ons Na+ e cada �on s�dio est� ligado a seis �ons cloreto. Assim, ambos os �ons t�m N.C. = 6. A estequimetria do cristal � 1:1 (composto do tipo MX). Chamamos a estrutura cristalina do NaCl de c�bica de face centrada. A estrutura cristalina e todos os par�metros geom�tricos (dist�ncias internucleares e �ngulos interi�nicos) s�o determinados experimentalmente por uma t�cnica chamada difra��o de raios X.
Figura 1. Estrutura cristalina do NaCl.
A estrutura cristalina do cloreto de c�sio (CsCl) � do tipo c�bica de corpo centrado (Figura 2). No CsCl, o N.C. do cloreto � igual a oito, assim como � o do c�sio (� s� imaginar que cada v�rtice de um cubo na verdade faz simultaneamente parte de oito cubos ligados). Na estrutura do NaCl, cada �on est� no centro de um octaedro, ou seja, tem geometria octa�drica. No CsCl, cada �on tem geometria c�bica.
Figura 2. Compara��o entre as estruturas do NaCl e CsCl.
O sulfeto de zinco (ZnS) tamb�m � um considerado um composto i�nico do tipo MX, embora muitos o considerem um composto com caracter�sticas de s�lido covalente (eu diria que est� no meio do caminho!). Ele apresenta dimorfismo, ou seja, pode cristalizar sob a forma de dois ret�culos distintos: (a) wurtzita hexagonal e (b) blenda de zinco c�bica (esfarelita). Em ambos os casos, o N.C. do Zn e do S � igual a quatro, e os dois apresentam geometria tetra�drica. Veja na Figura 3. S� por curiosidade: muitas televis�es t�m blenda de zinco em seus tubos de imagem.
Wurtzita hexagonal
Figura 3. Formas cristalinas do sulfeto de zinco.
Por curiosidade, veja nas fotos abaixo os minerais wurtzita e esfarelita (blenda de zinco).
Wurtzita com quartzo e fluoroapatita
Esfarelita com um cristal de quartzo
Dependendo da raz�o entre os raios i�nicos de c�tions (M+) e �nions (X-), rM/rX (ou rX/rM se rM>rX), � poss�vel ter uma id�ia da estrutura cristalina para sais do tipo MX. Veja a seguir:
rM/rX | N.C. / poliedro | Tipo de estrutura |
> 0,732 | 8 / cubo | CsCl |
0,414 a 0,732 | 6 / octaedro | NaCl |
< 0,414 | 4 / tetraedro | Esfarelita (ZnS) |
Fonte: U. M�ller, Inorganic Structural Chemistry, 1993, p�g. 39. |
Por exemplo, no LiCl, independentemente do valor de rLi usado (veja na Tabela 2), o valor de rLi/rCl fica entre 0,44 e 0,63. Ou seja, LiCl tem a estrutura do NaCl. No CsI, rCs/rI = 0,88 ou 0,91 (dependendo do rCs usado). Neste caso, a estrutura � do tipo CsCl. Fa�a um exerc�cio: calcule a raz�o rM/rX para todos os haletos de metais alcalinos e fa�a uma previs�o do tipo de estrutura dos sais.
Para compostos i�nicos do tipo MX2 (como CaF2, BaCl2, SnO2), pode ser feita uma an�lise an�loga � que acabamos de fazer para MX. Nesse caso, as estruturas s�o do tipo fluorita (CaF2) ou rutilo (TiO2). D� uma olhada na Figura 4. Como foi ressaltado no caso do sulfeto de zinco, a estrutura do rutilo lembra bastante a de um s�lido covalente usual. Mas, mesmo assim, podemos consider�-la como sendo i�nica. De uma maneira geral, � poss�vel destacar que �xidos, sulfetos, nitretos de metais de transi��o formam compostos com alto car�ter covalente. O que isto quer dizer? Isto quer dizer que os materiais formados muitas vezes exibem propriedades de s�lidos covalentes, tais como insolubilidade em �gua e baixa condutividade i�nica quando fundidos.
Fluorita (N.C. Ca2+ = 8 e N.C. F- = 4)
Rutilo (TiO2) (N.C. Ti4+ = 6 e N.C. O2- = 3)
Figura 4. Fluorita e rutilo (MX2).
As seguintes generaliza��es podem ser feitas para compostos do tipo MX2:
N.C. / poliedro | ||||
rM/rX | C�tion | �nion | Tipo de estrutura | Exemplos |
> 0,732 | 8 / cubo | 4 / tetraedro | Fluorita | SrF2, BaF2, SrCl2 |
0,414 a 0,732 | 6 / octaedro | 3 / tri�ngulo | Rutilo | ZnF2, SnO2 |
Fonte: U. M�ller, Inorganic Structural Chemistry, 1993, p�g. 40. |
Tamb�m podemos ter estruturas do tipo "antifluorita". � o caso, por exemplo, dos �xidos de metais alcalinos: Li2O,..., Rb2O. Nesses casos, o N.C. do c�tion � quatro e do �nion � oito.
Por curiosidade, veja nas fotos abaixo os minerais fluorita e rutilo.
Fluorita
Cristais amarelos de rutilo crescidos em hematita (Fe2O3).
Quest�es para voc� pensar!
Voltamos agora a dar uma olhada na quest�o da n�o-direcionalidade das liga��es i�nicas. Voc� viu que, para um determinado n�mero de coordena��o, � poss�vel definir um poliedro, chamado poliedro de coordena��o. Assim, no cloreto de s�dio, ambos os �ons t�m N.C. = 6 e apresentam geometria octa�drica no estado s�lido. No caso das estruturas do tipo fluorita, o metal tem N.C. = 8 (geometria c�bica) e o �nion, N.C. = 4 (geometria tetra�drica).
Por que normalmente um poliedro � preferencialmente associado a cada n�mero de coordena��o? Quero dizer, por exemplo, para N.C. = 6, por que a maior parte das estruturas � octa�drica e n�o trigonal prism�tica? Ambos os poliedros t�m seis v�rtices, n�o t�m?! Para N.C. = 4, a prefer�ncia � por um tetraedro, e n�o por uma geometria quadr�tica. Para N.C. = 3, � rara a geometria piramidal, e a prefer�ncia � pela trigonal plana. Ser� que essas prefer�ncias t�m uma raz�o apenas eletrost�tica ou existe algum tipo de direcionalidade? Se houver algum car�ter direcional, de onde ele vem? Sabemos que a principal caracter�stica da liga��o covalente � o seu car�ter direcional (voc� ver� isso um pouco mais � frente). Ent�o, ser� que as liga��es i�nicas exibem algum car�ter covalente? Leia tamb�m sobre as regras de Fajans.
Regras de Fajans
Alguns aspectos importantes
Fuga do car�ter i�nico
Coval�ncia parcial resulta em maior energia da liga��o i�nica.
Regras de Fajans:
Car�ter covalente aumenta ao diminuir o tamanho do c�tion ou aumentar sua carga. | |
Car�ter covalente aumenta ao aumentar o tamanho do �nion ou aumentar sua carga. | |
O car�ter covalente � maior para uma configura��o distinta de g�s nobre. |
Reflita sobre estas quest�es; discuta-as no nosso F�RUM.
ATIVIDADE I
1. Considere os raios i�nicos abaixo [1pm = 10-12m]:
Mg2+ (rMg = 86 pm)
F- (rF = 119 pm)
O2- (rO = 126 ppm)
Calcule a raz�o rM/rX e estime o tipo de estrutura para os compostos i�nicos MgO e MgF2. Fa�a uma pesquisa para confirmar sua estimativa. Qual o n�mero de coordena��o de cada �on em ambos os compostos?
3. Energia reticular. Ciclo de Born-Haber
Qual a energia de uma liga��o i�nica?
Para os compostos i�nicos, a quantidade chamada de energia do ret�culo cristalino, ou energia reticular, � uma medida da energia da liga��o i�nica.
Existem duas defini��es para a energia reticular: A IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) n�o faz qualquer men��o acerca da defini��o de energia reticular. Uma defini��o considera a energia reticular como a energia necess�ria para separar, a uma dist�ncia infinita, os �ons, como �ons em fase gasosa, de 1 mol de um composto i�nico. Seria um valor positivo de energia e corresponderia a uma esp�cie de energia de quebra (ou dissocia��o) do ret�culo. A outra defini��o, que � adotada nesta disciplina, � a seguinte: energia reticular, ΔEret, � a energia associada ao processo de forma��o de 1 mol de um composto i�nico s�lido a partir da combina��o de seus �ons em fase gasosa. Nesta defini��o, o valor de energia reticular � negativo. Nas duas defini��es, o valor num�rico da energia de ret�culo � o mesmo, s� muda o seu sinal, que depende do referencial utilizado.
A energia reticular pode ser obtida experimentalmente ou pode ser apenas calculada?
Infelizmente a energia reticular n�o pode ser obtida experimentalmente. Ela pode apenas ser estimada, atrav�s do Ciclo de Born-Haber.
Max Born (1882-1970)
Fritz Haber (1868-1934)
Ciclo de Born-Haber
Em 1917, Born e Haber propuseram um ciclo termodin�mico para o c�lculo da energia de ret�culo de subst�ncias i�nicas (ΔEret). O c�lculo � feito segundo a Lei de Hess. Nesse ciclo, � levada em considera��o a rea��o heterog�nea para a s�ntese do sal.
a) Para compostos do tipo MX (por exemplo: NaCl, KBr, CsI etc.):
b) Para compostos do tipo MX2 (por exemplo: CaF2, MgBr2 etc.):
Com exce��o do ΔEret, todos os outros valores s�o tabelados ou podem ser obtidos experimentalmente. As entalpias mostradas indicam:
ΔHof = entalpia padr�o de forma��o do s�lido i�nico. A entalpia padr�o de forma��o de uma subst�ncia � o calor (� press�o constante) liberado ou consumido na forma��o de 1 mol da subst�ncia a partir de subst�ncias simples no estado padr�o (estado f�sico e alotr�pico mais est�vel a 298 K e 1 atm). Por conven��o, subst�ncias elementares t�m entalpia padr�o igual a zero. | |
ΔHosub = entalpia de sublima��o (ou vaporiza��o) do metal. | |
Edis = energia de dissocia��o - energia necess�ria pra dissociar (X2 � 2X) 1 mol de mol�culas de g�s. Tamb�m chamada energia de atomiza��o. | |
ΔHPI = potencial de ioniza��o. | |
ΔHAE = varia��o de entalpia associada ao processo de afinidade eletr�nica (A.E.) (energia de eletroafinidade). |
Para que haja forma��o do cloreto de s�dio, deve ocorrer transfer�ncia de el�trons (rea��o redox). O ciclo de Born-Haber tenta mostrar a energ�tica das etapas envolvidas na rea��o entre as subst�ncias em suas formas elementares. No caso espec�fico do cloreto de s�dio, a transfer�ncia de el�trons se d� do s�dio para o cloro.
As etapas indicadas no ciclo de Born-Haber para o NaCl s�o as seguintes:
Rea��o heterog�nea de forma��o do sal a partir das subst�ncias simples.
Na (s) + � Cl2 (g) � NaCl (s) (ΔHof = -411,1 kJ/mol).
Vaporiza��o (sublima��o) do s�dio met�lico, que � s�lido � temperatura ambiente.
Na (s) � Na (g) (ΔHosub = +107,8 kJ/mol).
Dissocia��o (quebra homog�nea) da mol�cula diat�mica de Cl2, gerando �tomos de cloro.
Cl-Cl (g) � 2 Cl (g) (Edis = +121 kJ/mol). Ent�o, 1/2 Edis = 119,9 kj/mol.
Ioniza��o do s�dio em fase gasosa
Na (g) � Na+ (g) + 1e (ΔHPI = +495,4 kJ/mol).
Forma��o de Cl- em fase gasosa. Afinidade eletr�nica � a energia liberada pela adi��o de um el�tron a um �tomo no estado gasoso.
Cl (g) + 1e � Cl- (g) (ΔHAE = -348,8 kJ/mol).
Forma��o dos pares i�nicos em fase gasosa [Na+Cl-], em virtude da atra��o eletrost�tica. O balanceamento entre a atra��o e a repuls�o eletrost�tica provoca o estabelecimento de uma dist�ncia interi�nica de equil�brio, tornando o sistema mais est�vel que os �ons isolados. Esses pares est�o na forma gasosa, mas, sob a atra��o eletrost�tica que � exercida sobre todos os �ons, o conjunto de pares vai aumentando. Dessa forma, come�a a ocorrer a reuni�o e a superposi��o dos pares, at� que seja formado um �nico grupo que constituir� um s�lido cristalino macrosc�pico, tridimensional, de geometria definida e est�vel. A estabilidade � atingida devido ao abaixamento da energia do sistema ligado, provocado pela libera��o de energia: a energia reticular (ΔEret). Assim, ΔEret pode ser considerada uma medida da energia (ou for�a) da liga��o i�nica. Logo, quanto menor o valor de ΔEret, maior � a energia liberada nesta etapa - mais est�vel � o ret�culo cristalino. No caso do NaCl, usando a Lei de Hess, temos ΔEret = -785,4 kj/mol. A forma��o de outros compostos i�nicos ocorre de maneira an�loga �quela proposta para o NaCl, respeitando, � claro, as peculiaridades de cada ciclo e a estequimetria dos sais.
A energia potencial total � a soma de todas as energias envolvidas nas etapas. Portanto, a energia reticular expressa a for�a com que est�o unidas as part�culas de um s�lido cristalino e depende da intensidade da for�a de intera��o entre os �ons e da geometria do ret�culo. Quanto menor a dist�ncia interi�nica c�tion-�nion, maior a atra��o entre as cargas opostas, como voc� j� viu na se��o 2.1. A Tabela 3 lista alguns valores de ΔEret.
Tabela 3. ΔEret para sais do tipo MX.Sal | ΔEret (kJ/mol) | Sal | ΔEret (kJ/mol) | |
LiF | -1049 | KF | -826 | |
LiCl | -862 | KCl | -717 | |
LiBr | -819 | KBr | -689 | |
LiI | -763 | KI | -647 | |
NaF | -928 | CsF | -758 | |
NaCl | -787 | CsCl | -668 | |
NaBr | -752 | CsBr | -635 | |
NaI | -703 | CsI | -602 | |
Fonte: B. Douglas et al., Concepts and Models of inorganic Chemistry, 3� ed., 1994, p�g. 231. |
Em suma:
A forma��o de �ons gasosos a partir de subst�ncias simples implica um acr�scimo resultantena energia potencial; | |
A condensa��o dos �ons para formar o s�lido i�nico leva a uma diminui��ona energia potencial correspondente � energia de ret�culo; | |
Quanto menor a dist�ncia interi�nica c�tion-�nion, maior a atra��o; conseq�entemente, menor (ou maior em m�dulo) � o valor de ΔEret. Logo, maior � a estabilidade do ret�culo cristalino. |
A possibilidade de forma��o do composto i�nico a partir de seus elementos ocorre quando a diminui��o da energia potencial for maior que o aumento. Em outras palavras, o sal s� cristalizar� se houver libera��o de energia em sua forma��o. Sendo assim, a energia da rede exot�rmica precisa ser maior que a combina��o endot�rmica dos fatores envolvidos na forma��o dos �ons em fase gasosa. Caso contr�rio, o composto i�nico n�o se forma ou forma uma rede cristalina inst�vel.
ATIVIDADE II
Considere os dados termodin�micos abaixo e calcule, usando o ciclo de Born-Haber, o valor de ΔEret para o cloreto de prata (AgCl) a 298 K.
ΔHof (AgCl) = -127 kJ/mol
ΔHosub (Ag) = +285 kJ/mol
Edis (Cl2) = +240 kJ/mol
ΔHPI (Ag) = +731 kJ/mol
ΔHAE (Cl) = -349 kJ/mol
Sabendo que o ΔEret para o sal AgBr � igual a -981 kJ/mol, diga qual composto i�nico forma o ret�culo mais est�vel, AgCl ou AgBr?
4. Solubilidade das subst�ncias i�nicas
As for�as de atra��o e repuls�o entre os �ons e o seu arranjo geom�trico s�o respons�veis pelas propriedades dos s�lidos i�nicos, bem como por seus altos pontos de fus�o. Quando s�o fundidos, ocorre o afastamento entre os �ons, as for�as de intera��o s�o enfraquecidas e o ret�culo cristalino � destru�do, permitindo a movimenta��o dos �ons, de forma que, sob a��o de um campo el�trico, eles se orientam e se movimentam de modo a estabelecer condutividade i�nica por meio do l�quido (material fundido).
Os cristais i�nicos oferecem resist�ncia consider�vel ao rompimento do ret�culo, mas s�o sol�veis em �gua. A solubilidade em �gua � justificada pelo fato de a mol�cula de �gua ser um dipolo el�trico (apresentar alta constante diel�trica), que, por atra��o eletrost�tica, separa os �ons e destr�i a rede cristalina. Assim, a �gua se caracteriza como um �timo solvente para as subst�ncias i�nicas. Leia um pouco mais sobre esse tema num excelente artigo publicado em 2004 em Qu�mica Nova, uma revista da Sociedade Brasileira de Qu�mica. Leia tamb�m sobre a diferen�a entre solubiliza��o e solvata��o.
Dissolu��o e solvata��o de um s�lido i�nico.
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Este site foi atualizado em 21/01/11