Quais são os aspectos positivos do estágio?

Tendo em vista a complexidade das experiências vivenciadas pelos participantes nos estágios, buscou-se conhecer possíveis pontos positivos e negativos deste momento da formação inicial. Como aspectos positivos, sete participantes destacaram a experiência de, com o acompanhamento do professor supervisor na escola e professor do estágio, assumir o protagonismo das funções docentes nas turmas em que se encontravam a atuar no estágio, situação que retrata a realidade que lhes é reservada como professores iniciantes na educação básica. Outro aspecto ressaltado como ponto positivo pelos entrevistados no estágio se refere à oportunidade de vivenciar diferentes contextos de intervenção docente a partir do rol de escolas disponibilizadas para a realização dos estágios nos segmentos que compõem a Educação Básica. Essa situação é destacada numa das falas:

Positivos, é... acho que o mais positivo assim, é fazer você ir pra realidade, em que os meninos estão agora... por exemplo, quando eu fiz o estágio no infantil no colégio, a realidade lá é bem diferente da realidade que estou agora, que é uma municipal. Lá eles tinham material, todo tipo de material que você pensar, eles tem... eles tem quadra, a escola agora não tem... só tem três pátios muito pequenos e o infantil não tem nem como ir pros pátios de baixo, porque se cair, rala e machuca.. então assim, a principal coisa é a realidade... Porque quando eu trabalhei no colégio, eu levei altas atividades, assim, e super diferentes porque eu tinha como trabalhar com os meninos as atividades... (n.8)

Esse resultado corrobora com a literatura que trata o estágio enquanto momento único na formação inicial, que possibilita ao acadêmico a reflexão sobre a prática pedagógica na escola, lugar onde se apresentam grandes desafios docentes, por oportunizar a compreensão do sistema de ensino, as políticas educacionais e os alunos com os quais irá desenvolver e construir processos de aprendizagem (TARDIF; LESSARD, 2005; PIMENTA, 2010; SILVA, 2010). A partir desse resultado sobre a permanência na realidade da escola, destacam-se também dois acadêmicos que acreditam ter sido indispensável a convivência com professores de Educação Física e também com os alunos dos diferentes segmentos da educação básica. Tendo em vista que a identidade de um sujeito é (re)construída a partir de sucessivas socializações (DUBAR, 2005), o estágio curricular supervisionado é um momento privilegiado para que se reconheça o contexto da realidade da escola, dos docentes e dos alunos, no sentido de vivenciar essas relações a fim construir uma identidade docente e uma prática pedagógica reflexiva (KULCSAR, 1994; ANDRADE, 2004; MARTINY; SILVA, 2011; PIMENTA; LIMA, 2012; ZOTOVICI et al. 2013; IZA; NETO, 2015).

Somando-se a essa percepção da realidade, uma entrevistada citou a grande oportunidade de aprendizado dentro da escola no momento de estágio, sempre agregada à leituras sobre a temática, como a ocasião de perder a insegurança, ganhando maturidade:

Ó, os pontos positivos foi porque eu tive oportunidade de aprender muito e aprender lendo também, pra poder fazer, entendeu? Então eu sempre tentava fazer planos de aulas diferentes em que abordar conteúdos diferentes, então acabei aprendendo bastante.. Eu tive que ler, esse foi um ponto positivo... é... outro ponto positivo foi... perder um pouco dessa insegurança. Às vezes a apreensão nossa é natural, de tá na frente de uma turma e tal então hoje em dia eu já me sinto mais madura pra poder fazer o estágio, sabe? (n.11)

Primeiramente, é preciso destacar a importância de leituras de livros e artigos da área da Educação Física que fundamentam teoricamente as ações desenvolvidas na escola enquanto professor, para que haja uma compreensão plena da realidade, sempre aliada a estas teorias, a fim de que seja dado um sentido crítico ao estágio como importante momento da formação inicial (ZOTOVICI et al., 2013). Ainda relacionado à fala da entrevistada, Caires e Almeida

(2003) e Cruz (2012) discutem o estágio enquanto um momento necessário na formação, no sentido de amadurecimento dos graduandos a fim de se formarem professores.

Uma graduanda afirmou que tudo o que vivenciou nos estágios foi uma possibilidade de crescimento, a fim de corrigir possíveis erros cometidos.

Não, eu acredito que não teve ponto negativo, só teve positivo porque tudo foi pro crescimento, tanto as coisas boas, quanto as coisas ruins que aconteceram... aconteceu isso de bom, ah, ótimo, posso levar isso comigo... aconteceu isso de ruim, aí então eu posso corrigir quando eu estiver trabalhando como professor. (n.4).

Nesse aspecto, é possível observar que durante o estágio, o acadêmico vai se deparar com desafios e dificuldades da profissão, aspectos esses que, se bem trabalhados e problematizados na universidade e na escola durante esse momento da formação, são essenciais para situar o futuro professor acerca da profissão (PIMENTA, 2010; SILVA, 2010). Outra entrevistada destacou dificuldade em resolver problemas e imprevistos que surgiram no momento do estágio, além de problemas relacionados às discrepâncias entre a teoria e a prática. Essa reflexão sobre as dificuldades e possibilidades da prática estimula a melhora da qualidade da ação dos profissionais.

Além das narrativas sobre os aspectos positivos, os entrevistados também discorreram sobre os elementos negativos de seus estágios. Um resultado se destacou entre as respostas: a falta de estrutura das escolas para a Educação Física. Sete entrevistados apontaram situações em que era complicado ministrar as aulas planejadas por não terem espaços para as práticas corporais de movimento, ou mesmo os espaços disponíveis não serem adequados para as aulas, como no relato de dois entrevistados:

Eu fiz um estágio em uma escola que o top da escola era queimada, e eu fui ver o porquê da queimada, e era devido a estrutura da escola, e eles eram proibidos de chutar bola pesada pra não quebrar os vidros, e eles só podiam jogar queimada, e foi fácil quando fui fazer o estágio introduzir o handebol, eles nunca tinham visto uma bola de handebol, eles queriam chutar a bola de handebol, e eu falei que era parecido com a queimada, quando eu coloquei o handebol na aula de Educação Física com as regras todas certinhas, eles passaram a jogar handebol na hora do recreio. Você tem que chegar no estágio e aproveitar a cultura dali. (n.7)

(...) as duas escolas não tinham um espaço específico da Educação Física, eram pátios, onde eram as aulas, então teve problema de professor reclamar de barulho, teve um estágio que o professor teve que sair de dentro da escola pra ir em uma quadra alternativa da comunidade por causa do barulho, porque não tinha como, porque era muito perto. (n.1)

Junto às reclamações sobre a infraestrutura, cinco estagiários alegaram a inexistência de materiais para as aulas de Educação Física. Esse fato gerou um questionamento pertinente de um entrevistado:

Então é isso, não tem material, não tem estrutura mesmo, mas agora eu me questiono assim, se vem determinadas verbas, e a gente sabe que tem a verba pra Educação Física, pra onde que ela vai? Existe a verba da Educação Física, por mais que seja a prefeitura e que vai ter aquele material mediano, existe um material, uma bola com material mediano que vai ser distribuído. O que é feito com isso? Se não tiver livro de matemática o professor vai dar aula? Então pronto, o professor de Educação Física também demorou 4 anos pra formar, ele também precisa de ter o material, ele tem o conteúdo, ele também tem que ter material. (n.3)

Mesmo com a grande necessidade de materiais e infraestrutura para o desenvolvimento de uma Educação Física de qualidade, alguns autores corroboram com os resultados do presente estudo ao encontrarem em suas pesquisas que, em inúmeras escolas, os professores de Educação Física constantemente reclamam quanto à falta de material pedagógico e estrutura física para desenvolver as suas práticas pedagógicas (SOMARIVA; VASCONCELLOS; JESUS, 2013; CAMPOS, et al. 2015; CARVALHO; OLIVEIRA, 2013; SILVA; JUNIOR, 2015). Com a série de dificuldades e desafios, segundo Carvalho e Oliveira (2013), a precária infraestrutura para as aulas de Educação Física é um fator que compromete o desenvolvimento de boas práticas da disciplina, pois quando o professor não tem instrumentos como quadras e materiais, é provável que apenas venha a ser desenvolvido o conteúdo esporte, retornando, assim, para o “rola bola”.

Apesar dessa falta de infraestrutura e de materiais denunciada pelos participantes, um dos dados ressaltado por um entrevistado chamou atenção pela observação feita de que os professores conseguiram se adequar à falta de recursos, conseguindo improvisar. Esse fato foi visto enquanto um ponto positivo:

(...) o professores conseguir adequar a falta de recurso. Um exemplo claro foi desse mesmo professor. O (professor), ele foi na rua e tinha um, tinha um tinha um barranco lá, jogou uma corda e fez um, uma escalada pros meninos, no meio do local, usava o portão com grade da escola também.. Improvisava muito. (n.5)

Na literatura, muito se encontra sobre a improvisação nas aulas de Educação Física, onde a criatividade do professor é vista como uma qualidade positiva e necessária para que os alunos não sejam privados de vivenciar determinadas práticas corporais (RIVADENEYRA, 2001; REGO; FREITAS; MAIA, 2011; SILVA; JUNIOR, 2015). Os professores devem ser capazes de atuar nas escolas, procurando sempre otimizar o alcance de seus objetivos pedagógicos com seus alunos, mas resta perguntar se apenas a improvisação é o suficiente. Nesse caminho, outro entrevistado se coloca contrário à improvisação nas aulas:

Eu discordo muito quando as pessoas falam que o professor de Educação Física tem que improvisar, e como somos muito proativos, elétricos, acaba que a gente não dá conta de ter aquela turma e não fazer nada, então acaba que improvisamos muito, improvisamos tudo. (n.3)

Segundo Mattos e Neira (2000):

(...) para inserir a Educação Física dentro do currículo escolar e colocá-la no mesmo grau de importância das outras áreas conhecimento é através da fundamentação teórica, da vinculação das aulas com os objetivos do trabalho, da não improvisação e, principalmente, da elaboração de um plano que atenda às necessidades, interesses e motivação dos alunos (p.25).

Sendo assim, ressalta-se que o plano de aula é extremamente importante na prática pedagógica do professor para organizar e nortear seu trabalho (CASTRO; TUCUNDUVA; ARNS, 2008), então a falta de planejamento acaba fazendo com que o professor seja comparado a um recreador, que está ali apenas para divertir as crianças (NASCIMENTO; SILVA; SANTOS, 2013). De acordo com os autores, essa falta de planejamento que gera a improvisação, traz, como consequência, a desarticulação entre os objetivos e sua execução com o trabalho do professor na escola.

Ainda sobre a atuação dos professores supervisores dos estagiários, como ponto negativo encontrado, está a falta de entusiasmo dos professores para ministrarem suas aulas, citada por dois entrevistados. No cotidiano de trabalho do professor estão presentes aspectos geradores de estresse que estão relacionados à natureza de sua função e ao contexto institucional e social (SILVEIRA; ENUMO; BATISTA, 2014). A desmotivação dos docentes apontada pelos participantes não se encontra nos objetivos da presente investigação e, por conseguinte, os dados coletados não permitem estabelecer as causas relacionadas. No entanto, por se tratar de uma situação que emergiu dos relatos dos participantes, observa-se que a literatura disponível que trata dessa temática apresenta possíveis fatores da desmotivação docente, como a conhecida síndrome de Burnout. Burnout é um tipo de estresse ocupacional que acomete profissionais envolvidos com cuidado a outras pessoas e é constituído de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho (MASLACH; LEITER, 1999). Ainda de acordo com os referidos autores, as profissões envolvidas com a educação, como os docentes, supervisores, diretores, etc, são mais vulneráveis a essa síndrome. O processo da síndrome é individual e pode evoluir por anos (RUDOW, 1999).

Além desse fator, ainda há outras questões para se analisar a motivação do professor. É preciso considerar desafios que depreciam a profissão docente, como o desprestigio social, a desvalorização salarial, as parcas condições de trabalho, a falta de formação pedagógica, a pouca vivência do aluno no trato da ciência e as dificuldades inerentes ao trabalho (CUNHA, 2012; SOUZA; PAIXÃO, 2015). O desânimo dos professores de Educação Física na Educação Básica também pode estar relacionado à falta de motivação dos próprios alunos das escolas. A motivação é essencial para a aprendizagem e o desempenho de habilidades motoras, por ter um

papel importante na iniciação, manutenção e intensidade do comportamento (MAGGIL, 1984). Sem motivação é difícil que os alunos façam as atividades nas aulas de Educação Física.

Seguindo a falta de motivação dos professores e, possivelmente, dos alunos, dois dos entrevistados acredita ser problemático o fato das aulas de Educação Física serem um “refúgio” para outras aulas ou reuniões escolares. Um dos entrevistados faz uma análise da própria relação do professor com a sua disciplina, destacando a falta de compromisso:

(...) os professores de Educação Física são os professores que ficam com os alunos na hora das reuniões. Os professores de Educação Física ele não querem ter compromisso, sem generalização, eles não querem ter compromisso, assim como outros professores tem, tá todo mundo ali, mas o professor de Educação Física é tido como um professor que brinca, que é o momento da alegria, que é unicamente pra isso, e aí ele se coloca nesse nível também, e aí faz com que a profissão de Educação Física fique sucateada (n.3)

O ideal seria que todos os professores da escola participassem das reuniões pedagógicas, pois quem se envolve com educação precisa sempre reconstruir os saberes necessários à sua prática educativa (TARDIF; RAYMOND, 2000). Em algumas escolas os professores de Educação Física são designados a ficar com as turmas na quadra para que os professores das demais disciplinas possam participar das reuniões pedagógicas. Em muitos casos, pela falta de criticidade e de que a Educação Física é um componente curricular na escola, os professores dessa área de formação o fazem como sendo algo necessário e natural. Mas negar o espaço das reuniões pedagógicas aos professores de Educação Física contribui para o desperdício da cultura pedagógica desenvolvida e para a permanência da dicotomia teoria-prática, além de negar o saber do professor (VASCONCELLOS, 2002). Sendo assim, um dos fatores que influencia a valorização da área de forma mais impactante está nas escolas, pois um trabalho coletivo em que se discute, estude e socialize possibilidades de se construir um Projeto Pedagógico coerente que seja assumido por todos é fundamental para se começar a pensar em mudanças nas concepções sobre a Educação Física (BERTINI JR; TASSONI, 2013).

Por fim, uma estagiária fez uma crítica à carga horária, acreditando que seja excessiva, o que apontou enquanto ponto negativo. De acordo com ela, são muitas horas dentro da escola, ao se considerar que os conteúdos das aulas são muito semelhantes.

(...) cê passa muito tempo observando e coparticipando na escola, por exemplo, no estágio do fundamental tem que passar noventa horas na escola.. então assim, a carga horária dentro da escola é muito puxada, sendo que praticamente o ensino fundamental, os anos finais e o ensino médio, o conteúdo praticamente se assimila muito. (n.10)

Tendo em vista a legislação que prevê 400 horas de estágios para as licenciaturas, realmente se observa uma grande carga horária dentro das escolas. No caso da UFOP, os

estagiários devem permanecer, em média, 72 horas/aula na escola em cada Estágio Curricular Supervisionado, desenvolvendo as atividades de Observação, Coparticipação e Intervenção. Apesar do cumprimento da carga horária completa ser importante, a situação citada pela entrevistada deve ser discutida, pois com a repetição das aulas, no sentido de professores “rola bola”, não há muito que se difere de uma hora a outra de aula, excluindo-se as relações sociais entre os próprios alunos, já que os professores se afastam desse momento de aula. Mas a entrevistada afirmou que conseguiu ministrar as aulas. A partir desse ponto, foi questionado o que os participantes fariam diferente em seus estágios.

Quais os pontos positivos e negativos do estágio?

Os resultados revelaram que as contribuições mais citadas foram: a elaboração de planos de aulas e a vivência no contexto escolar. Quanto aos pontos negativos, os licenciandos destacaram: excesso de burocracia, rejeição ao estagiário no campo de estágio e dificuldades em conciliar horário do estágio.

O que escrever sobre a importância do estágio?

O estágio é o primeiro contato do estudante com o mercado de trabalho dentro da sua área de atuação escolhida. Essa experiência é uma importante aliada ao curso de graduação, auxiliando no processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno, fazendo com que ele confira a rotina que provavelmente terá após sua formação.

Quais são as vantagens do estágio supervisionado?

Assim, uma das vantagens do estágio supervisionado é justamente o aprendizado prático em diferentes áreas do mundo do trabalho. Além disso, ao lidar com problemas reais, o aluno também melhora a aptidão intelectual. Assim, estágio é uma etapa essencial do seu desenvolvimento profissional.

Qual a aprendizagem adquirida durante o estágio?

Profissionais que passam por experiências de estágio têm a oportunidade de construir uma carreira mais flexibilizada, adquirem conhecimento prático em setores e áreas diferentes e aprendem cedo a lidar com dificuldades que não podem ser previstas por nenhuma teoria.