A formação das Treze Colônias dos EUA se efetivou com a chegada dos puritanos do navio Mayflower, em 1620. Os puritanos, conhecidos mais tarde como os “pais peregrinos”, constituíram-se numa dissidência da Igreja Anglicana, influenciada por princípios calvinistas.
Perseguidos devido a isso pelo governo inglês, os puritanos conseguiram uma permissão para se instalarem nas terras da companhia Plymonth, em Massachusetts. Começava, assim, a história das Treze Colônias inglesas na América do Norte.
Diferentemente da colonização luso-espanhola, não foi a Coroa inglesa a articuladora do processo colonizador, mas sim a iniciativa privada (particular), através de expedições ou companhias de comércio. Seguindo os puritanos, vieram pessoas geralmente perseguidas por fatores religiosos ou políticos ou, ainda, expulsas da terra pela política inglesa dos cercamentos.
Pode-se perceber que as Treze Colônias dos EUA são divididas em três blocos: as colônias do norte, as do centro e as do sul.
Colônias do norte e central
As colônias que surgiram ao norte, formando aquilo que na época era conhecido como Nova Inglaterra, assim como as colônias do centro, tiveram sua economia baseada em pequenas e médias propriedades, geridas pela própria família e produzindo para o mercado interno, pois as condições geo-gráficas, semelhantes às da Europa Ocidental, nada tinham a oferecer de produtos tropicais.
Formaram, portanto, colônias de povoamento muito marcadas pela ideia dos puritanos de que eles tinham a missão de implantar, nas novas terras, uma espécie de extensão da Inglaterra.
Nessas colônias de povoamento, quando a família precisava de mão de obra para auxiliar nos trabalhos, utilizava o trabalhador assalariado ou o servo por contrato. Neste último caso, o inglês que desejasse vir para a América e não tivesse os recursos financeiros para isso, seria bancado por uma família de colonos, para quem ele trabalharia por certo período a fim de pagar as despesas de sua viagem.
Depois de trabalhar o suficiente para pagar essas despesas, o novo colono estava livre para conseguir um pedaço de terra e prosseguir sua vida nas novas terras.
O período da servidão por contrato podia durar de quatro a sete anos. O mais importante é que o candidato a colono já vinha para a América sabendo das condições do seu contrato, previamente estabelecido.
No século XVIII, com o desenvolvimento da produção de rum, do índigo e de outros produtos, foi possível aos colonos do norte efetuarem o chamado comércio triangular, representado pela venda do rum à África e ao sul da Europa, pela aquisição de escravos na África e pela venda nas Antilhas, onde se adquiria melaço, que, por sua vez, era matéria-prima do rum. Isso era possível porque o interesse inglês se concentrava no comércio oriental, que era de alta rentabilidade.
O fato de deixar as colônias americanas para segundo plano – devido ao seu caráter de povoamento – ocasionou o que os historiadores denominaram de “negligência salutar”, ou seja, o fato de o governo inglês não criar muitas restrições para o funcionamento da economia das colônias do norte acabou por incentivar o desenvolvimento dessa mesma economia, enriquecendo muitos colonos por meio da atividade comercial.
Colônias do sul
As colônias do sul, por sua vez, tiveram uma colonização diferente, assemelhando-se bastante à colonização luso-espanhola na América, com base na colonização mercantilista.
Sua estrutura era fundamentada, portanto, na grande propriedade, no trabalho escravo africano, na monocultura e na produção em larga escala para atender aos interesses da metrópole inglesa. Os principais produtos das colônias do sul foram o algodão e o tabaco. O clima mais quente dessas colônias possibilitou essa produção.
No âmbito político, as Treze Colônias apresentavam um elevado grau de autonomia, organizando seus governos em base representativa da população colonial, os chamados self-governments.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
Veja também:
- Colonização Inglesa
- Independência dos Estados Unidos
- Formação Territorial dos Estados Unidos
- Formas de Colonização – povoamento e exploração
Assuntos relacionados:
A negligência salutar foi uma lei, criada em meados do século XVIII pela Inglaterra, que concedeu relativa liberdade política e econômica para os colonos americanos no período anterior à independência dos Estados Unidos, em 1776.
É também conhecida como política do abandono por conta da pouca interferência do reino inglês nos rumos das Treze Colônias. Vários colonos obtiveram êxito econômico em suas atividades comerciais sem a interferência da colônia, principalmente na cobrança de impostos.
Veja também: Benjamin Franklin — um dos pais fundadores dos Estados Unidos
Tópicos deste artigo
- 1 - Contexto histórico da negligência salutar
- 2 - O que estabelecia a negligência salutar?
- 3 - Negligência salutar e as Treze Colônias
- 4 - Fim da negligência salutar
- 5 - Negligência salutar e a independência dos Estados Unidos
Contexto histórico da negligência salutar
Nos séculos XV e XVI, as monarquias europeias deram início à colonização da América, continente localizado do outro lado do oceano Atlântico. Enquanto Portugal e Espanha deram início à colonização das terras localizadas na América Latina, os ingleses ocuparam a região onde hoje é a América do Norte. Outras nações, como a França e a Holanda, também investiram na colonização americana.
Essa presença europeia na América se efetivou por meio de dois tipos de colonização:
Colonização de exploração: o objetivo do colonizador é explorar as riquezas de suas colônias.
Colonização de povoamento: o colonizador se muda para a colônia em busca de novas e melhores condições de vida do que na Europa.
As colonizações geraram grandes impactos nos povos que já habitavam a Américaantes da chegada dos europeus, considerando que eles foram dizimados após as guerras de conquista ou tiveram que se adaptar à nova realidade colonizadora. Inúmeras tribos indígenas desapareceram do mapa após os primeiros contatos com colonizadores, e outras descaracterizaram suas tradições e costumes para aderirem à cultura colonial.
Para alcançar seus objetivos, as monarquias europeias buscaram investir em suas colônias ou reforçar as suas presenças nelas. Isso se fez por meio de investimentos ou estruturas políticas para melhor gerirem suas ações.
Por conta das guerras religiosas ocorridas no século XVII, envolvendo católicos e protestantes, inúmeros europeus deixaram o continente para recomeçar suas vidas em um lugar diferente e que estivesse apto a recebê-los, de modo que inúmeros ingleses deixaram suas casas e se mudaram para as Treze Colônias, fugindo desses conflitos e desejosos de manter suas tradições, crenças e costumes sem perseguições.
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O que estabelecia a negligência salutar?
A negligência salutar estabelecia uma relativa autonomia política e econômica às Treze Colônias inglesas na América. Isso se deu porque, por ter sido efetivada uma colônia de povoamento, não havia o desejo exploratório da Inglaterra sobre as Treze Colônias.
Além disso, a Inglaterra estava ocupada com a resolução dos seus conflitos internos, e, dessa forma, a metrópole não mais interveio em suas terras americanas, adotando a política do abandono. Isso fez com que a liberdade econômica e política se tornasse realidade nas colônias inglesas.
Negligência salutar e as Treze Colônias
Em meados do século XVIII, as Treze Colônias na América demonstravam insatisfação com o domínio inglês por conta da excessiva cobrança de impostos. Apesar de a Inglaterra emitir ordens a serem cumpridas em continente norte-americano, havia um descumprimento delas.
Assim, os ingleses decidiram pela negligência salutar, adotando uma política de abandono em relação às colônias americanas, o que garantiu a elas relativa autonomia política e econômica. Inúmeros colonos puderam adquirir suas terras por conta dessa medida.
Saiba mais: Destino Manifesto — uma doutrina motivadorada expansão do domínio estadunidense a oeste das Treze Colônias
Fim da negligência salutar
Os ingleses decidiram pela suspensão da negligência salutar quando as vantagens concedidas aos colonos se transformaram em ameaça aos interesses da metrópole na América. A relativa liberdade concedida por meio da negligência salutar fez com que ideias contrárias à presença inglesa na América, como os ideais iluministas, ameaçassem o domínio colonial.
Negligência salutar e a independência dos Estados Unidos
A negligência salutar esteve diretamente ligada à independência dos Estados Unidos, por conta das vantagens que os colonos tiveram com tal política de abandono adotada pelos ingleses no período anterior à emancipação americana. Oriunda dessa medida, a liberdade econômica e política mostrou aos colonos que era mais interessante a separação definitiva da metrópole inglesa, fato que se deu em 1776. Para saber mais sobre esse processo de independência, acesse: Independência dos Estados Unidos.
Por Carlos César Higa
Professor de História