Quais as diferenças entre inflamação aguda e crônica

Atualizado: 15 de set. de 2020

Vou iniciar este texto contando uma breve história para você, ok? Tenho certeza que em algum momento da sua juventude, você estava com algum tipo de resfriado, ou talvez com alguma lesão pelo corpo, e sua mãe vendo aquilo falou para você ficar tranquilo, pois estava somente inflamado. E ela tinha razão! Poucas horas ou no máximo alguns dias depois, aquilo passou por completo. Porém, há casos que esse quadro persiste por mais tempo, tornando-se algo crônico. Ou seja, infelizmente não é sempre que a nossa mãe está correta. Neste texto, vou explicar rapidamente sobre o seguinte: quais as diferenças entre os tipos de inflamação?

A Inflamação

A inflamação é um processo caracterizado pela ativação de células imunes e não-imunes que são responsáveis pela proteção do hospedeiro de bactérias, vírus, toxinas e infecções, que sucede-se através da eliminação dos patógenos, e da reparação e da recuperação tecidual. Bonita essa definição, né? E se eu te contar que mais de 50 % das causas de morte hoje em dia são relacionadas a inflamação, o que acha? 

De modo sucinto, uma inflamação local se dá na presença do estímulo agressor e se resolve com sua ida. Porém, com a presença de certos gatilhos sociais, psicológicos, ambientais e biológicos, pode haver o desencadeamento da resposta exacerbada de outros componentes da inflamação, sendo agora denominada de inflamação sistêmica crônica de baixo grau (ISCBG). Tal processo pode acarretar na maior suscetibilidade a doenças, como as doenças cardiovasculares, a diabetes mellitus, o câncer e a doença renal crônica. Por outro lado, o processo inflamatório dependendo do momento, também é importantíssimo para a manutenção da vida, sendo assim necessária a compreensão entre os diferentes tipos de inflamação.

A Inflamação Aguda

A inflamação aguda (IA), no caso de uma infecção, é ativada através de padrões moleculares associados aos patógenos (PAMPs). Já quando trata-se de estresse celular ou de traumas, esse processo é desencadeado a partir de padrões moleculares associados ao dano (DAMPs). Em ambos os meios de ativação, tal processo tem duração rápida, persistindo por somente algumas horas ou pouquíssimos dias. Além disso, é de alto grau, e dispõem dentre as prováveis consequências que podem ser constatadas isoladamente, ou em conjunto: cura; remoção do agente desencadeador e reparação tecidual.

Por fim, existem outros pontos que a diferem da ISCBG, como o fato de que a IA não está relacionada com a idade do indivíduo, e que seus principais biomarcadores são os seguintes: IL-6; TNF-ALFA; IL-1BETA; Proteína C-reativa (PCR). Porém, apesar da probabilidade de resolução rápida, e de danos não graves ou duradouros, pode funcionar como um gatilho para a ISCBG.

A Inflamação Sistêmica Crônica de Baixo Grau

No que tange a ISCBG, devido a ausência de um insulto infeccioso agudo ou da estimulação ligada ao PAMP, é ativada pelo DAMP advindo do expossoma, da disfunção metabólica, ou de um dano tecidual. Como características adicionais, é persistente, não durando somente algumas horas ou poucos dias, e não apresenta resolução rápida, mesmo após a remoção do fator expositor. Ademais, poder ser associada com o avançar da idade, tendo em vista que idosos apresentam superior nível de citocinas, quimiocinas e proteínas de fase aguda, além de genes envolvidos no processo (Leia o artigo – Inflammaging: como a nutrição pode agir?).

Como consequência do processo, pode acarretar em danos colaterais aos tecidos e aos órgãos com o decorrer do tempo, e é silenciosa, ou seja, não há biomarcadores específicos que caracterizem a ISCBG. Dentre suas causas clínicas, há inúmeros gatilhos que podem levar ao quadro, nos quais confira abaixo com mais detalhes a sua influência no processo:

a) Infecção crônica: Infecções por citomegalovírus, vírus, hepatite C vírus e outros agentes infecciosos causam uma desregulação imune com exacerbação de células T CD8 e produção de mediadores pró-inflamatórios.

b) Estilo de vida, social e ambiente físico:  Altos níveis de atividade física, dieta predominantemente composta por alimentos frescos e minimamente processados, menor exposição a poluentes ambientais, sono alinhado com o ritmo circadiano e inferior suscetibilidade a agentes estressores sociais como o trabalho, podem propiciar aumento da expectativa de vida.

c) Atividade física:  A industrialização pode ter levado ao decréscimo da atividade física, assim, ao aumento da resistência anabólica devido a inutilização do músculo esquelético, no qual é um órgão endócrino capaz da contração muscular reduzir a inflamação, por meio das miocinas. Além disso, o acúmulo de tecido adiposo visceral pode ser decorrente da inatividade física, que é um órgão endócrino gatilho da inflamação segundo a hipóxia com morte celular, geração de espécies reativas de oxigênio e DAMPs.

d) Disbiose do microbioma: A obesidade está ligada a alterações no microbioma, com maior permeabilidade paracelular intestinal e endotoxemia advinda do afrouxamento da barreira intestinal. Como causadores da disbiose, pode ser associada ao uso de antibióticos, anti-inflamatórios não-esteroidais, inibidores de prótons, falta de contato com animais e higiene excessiva.

e) Dieta: Pode alterar a composição e a função da microbiota intestinal, além da permeabilidade do intestino e de mudanças epigenéticas do sistema imune. Fatores dietéticos como alto nível de açúcares simples, gorduras saturadas e trans, deficiência de micronutrientes como zinco, magnésio e o ômega-3.

f) Mudança social e cultural:  Estressores psicológicos e exposição a luz artificial, como alta demanda de trabalho e a luz azul dos aparelhos eletrônicos, podem disruptar os hormônios glicocorticóides.

Conclusão

Quando tais causas são verificadas ao longo dos anos, esse processo inflamatório crônico de baixo grau pode induzir a alterações metabólicas prejudiciais a saúde do indivíduo, como a síndrome metabólica, as doenças cardiovasculares, a diabetes mellitus, o câncer, a depressão, as doenças autoimunes, as doenças neurodegenerativas, a sarcopenia e a imunosenescência. Portanto, voltando a história do início do texto, conte para a sua mãe que a inflamação pode não ser tão simples como ela acreditava. Mas tranquilize-a, porque pode ser que nem exista um quadro inflamatório na situação que ela pensava ter.

Para uma leitura mais aprofundada do tema, consulte as seguintes referências: //doi.org/10.1038/s41591-019-0675-0 //doi.org/10.3390/nu11123000

Quais as diferenças da inflamação aguda e crônica?

Inflamação aguda quando se inicia rapidamente, com ação curta, tendo como principais características o edema e a migração de leucócitos (neutrófilos). Inflamação crônica tem como características uma maior duração, presença de linfócitos e macrófagos, proliferação de vasos, fibrose e necrose.

O que é uma inflamação crônica?

Uma inflamação pode ser aguda ou crônica. Para ser classificada como aguda, deve começar rápido e durar poucos dias. Ela se torna crônica quando há persistência do seu agente causador ou em reações autoimunes. Nesse caso, demora para dar sinais, persistindo por meses ou anos.

Quais as principais características da inflamação aguda?

São eles: edema, calor, rubor, dor e perda da função.

Quais são os tipos de inflamação aguda?

Dois exemplos comuns de inflamações agudas no nosso corpo são as amigdalites e as otites..
Osso quebrado;.
Membro “torcido”;.
Reação atípica do corpo..

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