Quais as consequências sociais do processo de industrialização em Cubatão?

REPOSITORIO PUCSP Teses e Dissertações dos Programas de Pós-Graduação da PUC-SP Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais

Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/3657

Tipo:  Tese
Título:  À sombra das torres da cidade: industrialização, habitação e meio ambiente em Cubatão
Autor(es):  Brandão, Marinez Villela Macedo
Primeiro Orientador: 
Resumo:  Esta Tese privilegia a análise das condições de moradia no contexto do espaço da cidade de Cubatão, com suas implicações relacionadas ao meio ambiente e à industrialização. Para tanto, considera-se como ponto de partida a reconstrução do dia do acidente de vazamento de Amônia da Ultrafértil, em 1985. A antiga Vila Parisi, na época, localizava-se entre indústrias. Desse modo, conclui-se que uma avaliação dos resultados do Projeto que propicia a intervenção do Estado para remoção desses moradores, após o acidente. O Estudo apresenta resultados de pesquisas realizadas no período de novembro de 1993 a março de 1999, acompanhando não só as conseqüências dessa intervenção pública, quanto às condições de vida dos moradores transferidos da Vila Parisi para o Jardim Nova República, como também dessa intervenção. Esse processo e os freqüentes deslocamentos observados para grupos sociais de baixa renda, sobretudo nesse espaço de concentração industrial, direcionam-se à análise, das questões de habitação e meio ambiente, especificamente o acidente de Cubatão. Buscaram-se, então, os depoimentos de famílias de antigos moradores da Vila Parisi, sediados no bairro Jardim Nova República, por ocasião da transferência. Por conseguinte, é possível reconstruir a trajetória desse moradores, na cidade, tendo-se em vista o desempenho do Estado, em sua intervenção, naquele espaço, por meio do projeto de remoção e seus efeitos
Abstract:  This Thesis favours an analysis of the dwelling conditions in the town of Cubatão, having implications related to its environment and industrialization. In order to achieve that aim, it was considered, as a starting point, the time when there was a leakage of ammonia at Ultrafértil, in 1985. The old Vila Parisi at the time, was between industries. Thus, it is taken into consideration the conclusion of the evaluation of the results of the Project which enables the State to remove those people from Vila Parisi to Jardim Nova República. The study shows final results of researches held between November 93 and Mach 99, analysing not only that public intervention but also its consequences as far as the villager s new living conditions are concerned. That process and the frequent movings of the low-salaried social groups, mainly in the industrial areas, lead to an analysis of the dwelling and environment questions related specifically to the accident in Cubatão. Families of those now living in Jardim Nova República were heard at the time of their allocation, trying to possibly reconstruct their trajectory in the city, bearing in mind the success or failure of the government in its intervention through the removal project and its effects
Palavras-chave:  acidentes ambientais
moradia
moradores
uso do solo urbano
Vila Parisi
CNPq:  CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS
Idioma:  por
País:  BR
Editor:  Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Sigla da Instituição:  PUC-SP
metadata.dc.publisher.department:  Ciências Sociais
metadata.dc.publisher.program:  Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais
Citação:  Brandão, Marinez Villela Macedo. À sombra das torres da cidade: industrialização, habitação e meio ambiente em Cubatão. 2000. 227 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.
Tipo de Acesso:  Acesso Restrito
URI:  https://tede2.pucsp.br/handle/handle/3657
Data do documento:  30-Mar-2000
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Introdu��o

"Fale de sua aldeia e estar� falando do mundo."

Leon Tolst�i (1828-1910)

Quais as consequências sociais do processo de industrialização em Cubatão?

A tradi��o do Cruzeiro Quinhentista e a modernidade das ind�strias: assim � Cubat�o
Foto: Jo�o Vieira, in jornal A Tribuna, 9/4/1993, caderno especial Cubat�o 44 anos

Essa � a hist�ria de um parque industrial, localizado na singela cidade de Cubat�o (SP). Pequena e sinistra aos olhos do viajante do in�cio do s�culo XXI, a cidade tornou-se um exemplo perfeito para entender o s�culo industrial brasileiro. A evolu��o do capitalismo, manifestado em seu desenvolvimento industrial em Cubat�o, apresenta-se como progresso e cat�strofe num mesmo tempo e lugar.

A d�cada de cinq�enta do s�culo XX foi um per�odo de grande esperan�a para o pa�s. Observada a dist�ncia, tornou-se a nossa era de ouro. Onde havia chamin�s e fuma�a, havia progresso e emprego, ilus�o e perspectivas de dias melhores. Cubat�o foi apanhada por essa onda de otimismo em rela��o ao futuro, quando, em 1950, foi escolhida como local da maior obra industrial de seu tempo: a refinaria de quarenta e cinco mil barris di�rios (instalada ao lado da Usina Henry Borden de energia el�trica). Em seguida, vieram as ind�strias petroqu�micas transnacionais, a grande sider�rgica estatal e os complexos de fertilizantes nitrogenados e fosfatados. 

O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, s�mbolo maior de toda uma d�cada, citava Cubat�o, nominalmente, em cinco setores: energia el�trica (Meta 1); refina��o de petr�leo e petroqu�mica (Meta 5); fertilizantes nitrogenados e fosfatados (Meta 18); e siderurgia (Meta 19).

A�o, petr�leo e energia el�trica num mesmo munic�pio e situados numa extens�o de apenas seis quil�metros. Essa combina��o, �nica na hist�ria industrial brasileira, nos levou � seguinte pergunta: por que Cubat�o? O que fazia daquelas terras de serra abaixo, entre o porto mar�timo de Santos e o Planalto Paulista, o local escolhido para sediar a capital da ind�stria de base brasileira?

Responder essa pergunta � um dos objetivos desse trabalho, assim como estudar a pr�pria constitui��o e desenvolvimento do P�lo Industrial de Cubat�o ao longo dos �ltimos cinq�enta anos: seu sucesso e seus problemas.

Como objetivo secund�rio, o trabalho busca compreender as conseq��ncias sociais e econ�micas que a din�mica da industrializa��o trouxe para o munic�pio. De pequeno povoado no sop� da Serra do Mar, ainda no final dos anos 40, Cubat�o tornou-se, em apenas 26 anos, numa das maiores cidades industriais do Brasil. Para entender a r�pida transforma��o pela qual passou o munic�pio, entretanto, n�o basta analisar o processo de industrializa��o que se desenvolveu a partir de 1950, mas tamb�m saber o que existia nessas terras antes da chegada da grande ind�stria.

Para responder nossa pergunta e investigar o desenvolvimento industrial ocorrido em Cubat�o, dividimos o trabalho em quatro cap�tulos. No primeiro, intitulado Ind�strias pioneiras no mundo das bananeiras, tra�amos, a princ�pio, a evolu��o hist�rica da regi�o de Cubat�o, do s�culo XVI ao final do s�culo XIX: recordamos os caminhos constru�dos na Serra do Mar, o Porto Geral do Cubat�o, a barreira fiscal, a constru��o do aterrado entre Santos e Cubat�o e as conseq��ncias do in�cio do funcionamento da Estrada de Ferro S�o Paulo Railway.

Em seguida, explicamos os motivos da instala��o e desenvolvimento das ind�strias pertencentes � primeira fase industrial de Cubat�o, as chamadas ind�strias pioneiras, ainda na primeira metade do s�culo XX: Costa Moniz (1912), Companhia de Anilinas e Produtos Qu�micos (1916) e Companhia  Santista de Papel (1922).

Esses empreendimentos nacionais privados, de grande porte para a �poca, posicionaram essas ind�strias entre as maiores do Estado de S�o Paulo. No entanto, esse crescimento industrial n�o deslocou a principal atividade econ�mica da regi�o, a cultura comercial da banana, que empregava a maioria dos habitantes. Ainda neste cap�tulo, consideramos as motiva��es que envolveram a constru��o da primeira transnacional de Cubat�o, a Usina Henry Borden.

Quais as consequências sociais do processo de industrialização em Cubatão?

Rara foto da �poca da constru��o da Usina Henry Borden
Foto cedida por Marcelo T�lamo, sites EFBrasil/811Henschel

No segundo cap�tulo, denominado Os gloriosos anos cinq�enta: a implanta��o da Refinaria Presidente Bernardes e a constitui��o do primeiro p�lo petroqu�mico brasileiro, revelamos a disputa travada no centro do poder para trazer a maior refinaria do pa�s, na �poca, para S�o Paulo e n�o para o Rio de Janeiro. Estudamos os motivos que levaram Cubat�o a ser escolhida para sediar a grande refinaria de 45 mil barris, bem como sua implanta��o e evolu��o ao longo dos anos.

Em seguida, tratamos da constitui��o do primeiro p�lo petroqu�mico brasileiro, representado pela instala��o de quatro grandes ind�strias transnacionais: Union Carbide, Companhia Brasileira de Estireno, Alba e Copebr�s. A partir desta d�cada, Cubat�o transforma-se numa cidade industrial, e suas planta��es de banana s�o dizimadas. No censo industrial de 1960, realizado pelo IBGE, Cubat�o j� surgia como o quarto munic�pio de maior valor da transforma��o industrial do Estado de S�o Paulo (abaixo de S�o Paulo, Santo Andr� e S�o Bernardo do Campo).

Ainda neste cap�tulo, indicamos que a d�cada de 50 tamb�m foi marcada pela ruptura com o tipo de ind�stria existente at� ent�o. As novas empresas que procuraram Cubat�o n�o eram mais as simples ind�strias de bens de consumo, mas, sim, ind�strias produtoras de mat�rias-primas b�sicas para outras ind�strias. Eram as chamadas ind�strias de base, produtoras de bens intermedi�rios, intensivas em capital e de grande escala de produ��o, caracterizadas como din�micas por propiciarem o crescimento de outros ramos industriais.

Quais as consequências sociais do processo de industrialização em Cubatão?

Instala��es da Refinaria Presidente Bernardes, em foto de 1956
Foto de Boris Kauffmann, no Guia Santista (Tourist Guide to Santos) de 1956, Santos/SP

J� no terceiro cap�tulo, A primeira sider�rgica mar�tima brasileira e o complexo de fertilizantes de Pia�aguera, discutimos a diversifica��o industrial por que passou Cubat�o ao longo das d�cadas de 60 e 70. Tratamos da implanta��o da sider�rgica Cosipa (de enorme quantidade de capital e trabalho), dos complexos de fertilizantes nitrogenados e fosfatados, da ind�stria do cloro e das chamadas ind�strias sat�lites, vinculadas ao fornecimento de insumos a outras ind�strias. Destaca-se o papel desempenhado pelo capital estatal e transnacional aplicado em Cubat�o, bem como sua superioridade em rela��o ao capital nacional privado, ao mesmo tempo em que analisamos o conjunto industrial como um todo, tendo por base os censos do IBGE e da Prefeitura de Cubat�o.

No final do cap�tulo, podemos afirmar que, ao mesmo tempo em que o Brasil atingia o status de pa�s industrial (final dos anos 70), Cubat�o se firmava como um dos maiores parques industriais da Am�rica Latina, estando no Censo Industrial do IBGE, de 1980, classificado na terceira posi��o do Estado de S�o Paulo em valor da produ��o industrial (atr�s apenas de S�o Paulo e S�o Bernardo do Campo).

A afirma��o de Jo�o Manuel Cardoso de Mello e Fernando Novais nos d� conta do que representou o per�odo em que Cubat�o se industrializou: "Os mais velhos lembram-se muito bem, mas os mais mo�os podem acreditar: entre 1950 e 1979, a sensa��o dos brasileiros, ou de grande parte dos brasileiros, era a de que faltava dar uns poucos passos para finalmente nos tornarmos uma na��o moderna" (Mello & Novais, 1998:560). Neste in�cio do s�culo XXI, percebemos que a modernidade atingiu apenas um segmento da popula��o brasileira, enquanto uma outra parte ainda vive dos sonhos de sua realiza��o.

Quais as consequências sociais do processo de industrialização em Cubatão?

Instala��es da Cosipa em Cubat�o
Foto: Cosipa, cerca de 1990

Por fim, o quarto cap�tulo, intitulado Crise ambiental e reestrutura��o produtiva (as d�cadas de 80 e 90), est� dividido em duas partes. Na primeira, apresentamos a hist�ria da crise ambiental de Cubat�o, deflagrada no in�cio dos anos 80, e seus reflexos no P�lo Industrial. S�o levantados os casos de anomalias cong�nitas e a explos�o de Vila Soc� (que resultou entre 500 a 700 pessoas desaparecidas extra-oficialmente), que tornaram a cidade conhecida como o Vale da Morte. Buscamos, ainda, explica��es para a instala��o de apenas uma nova ind�stria (AGA S/A) durante toda a d�cada de 80.

Na segunda parte do cap�tulo, analisamos a reestrutura��o produtiva por que passou o P�lo Industrial de Cubat�o durante os anos 90, bem como da privatiza��o de suas empresas estatais e da desnacionaliza��o de seu complexo de fertilizantes. Evidenciamos que, ao contr�rio de outras cidades da Grande S�o Paulo, que passaram ou passam por um processo de desindustrializa��o, Cubat�o saiu fortalecida da d�cada de 90, com sua produ��o industrial alcan�ando n�veis recordes.

Uma das chaves para entender o crescimento industrial de Cubat�o � a �gua. Esta subst�ncia � a respons�vel b�sica por tudo que se criou em Cubat�o atrav�s dos tempos. Constitui o seu principal bem natural e a raz�o fundamental da instala��o da grande Usina Hidrel�trica Henry Borden (constru�da pela empresa canadense Light and Power, em 1926). A Henry Borden � o marco divisor da hist�ria industrial de Cubat�o. Seu papel indutor no processo de industrializa��o paulista ainda merece um melhor reconhecimento.

Cubat�o, cidade pioneira de tudo que � bom e ruim advindo do processo de industrializa��o brasileira, est� � espera de sua reden��o. Sua evolu��o de pacato vilarejo rural � condi��o de cidade urbana industrial � ilustrativo das transforma��es vividas pelo Brasil durante o s�culo XX. Mas uma pergunta sempre vem � tona: Cubat�o, sucesso ou fracasso?

Quais as consequências sociais do processo de industrialização em Cubatão?

�rea industrializada de Cubat�o, no sop� da Serra do Mar
Foto: Cesar Cunha Ferreira, 14/5/2004

Quais são as consequências sociais e ambientais do processo de industrialização da cidade de Cubatão?

Algumas dessas consequências eram o ar denso, possuía cheiro e cor, milhares de toneladas de poluentes eram jogadas por mês no ar da cidade, peixes e pássaros sumiram de seus habitats, algumas espécies foram extintas, pois não havia condições naturais para sobreviverem e nem para se reproduzirem.

Quais são as consequências sociais e ambientais?

Dentre os principais impactos ambientais causados pela atividade humana, principalmente pelas empresas, podemos citar a diminuição dos mananciais, extinção de espécies, inundações, erosões, poluição, mudanças climáticas, destruição da camada de ozônio, chuva ácida, agravamento do efeito estufa e destruição de habitats.

Quais são os impactos sociais e ambientais causados pela industrialização?

O crescimento urbano e industrial também foi responsável pela devastação das florestas brasileiras, gerando desequilíbrio na fauna e flora. Com a redução da mata nativa, diversos animais e plantas foram extintos ao longo dos anos. Ainda existem espécies ameaçadas e que podem desaparecer do planeta muito brevemente.

Quais foram os impactos socioambientais gerados em Cubatão?

malformações congênitas, de câncer no pulmão e doenças mentais começou a ser estudada. Mas a partir da década de 80 a anencefalia, uma doença que produz natimortos sem cérebro, e os poluentes químicos emitidos pelas indústrias de Cubatão começaram a ser relacionados, chamando a atenção da comunidade científica.