O que é psicomotricidade e sua importância nas séries iniciais?

O estudo da psicomotricidade, do desenvolvimento infantil e da alfabetização é fundamental para a compreensão do processo de formação humana, que perdurará por toda a vida do indivíduo.

É consenso na literatura e nas teorias de diversos autores das áreas supramencionadas, assim como em outras, como a psicologia e a neurologia, que o processo de escolarização pautada nos aspectos primários de aquisição da leitura e da escrita, quando atrelados à abordagem psicomotora, de forma adequada, respeitando as fases do desenvolvimento infantil e suas características, corrobora para o desenvolvimento integral dos alunos e proporcionam uma condição de vida, na fase adulta destes, com mais sentidos e significados.

Este estudo lança mão da pesquisa de natureza bibliográfica, conhecida também como revisão de literatura, que tem características semelhantes à revisão bibliográfica elaborada por todos os autores para fundamentar seus estudos; afinal, toda pesquisa científica deve ser iniciada com uma revisão da literatura para se conhecer o que já foi produzido acerca da temática que se propõe desenvolver. Todavia, na pesquisa de natureza bibliográfica, os objetivos são ampliados, pois, objetiva-se comprovar uma ou mais teses, com a reunião de um acervo de autores e teorias, visando constatar a realidade explícita e implícita das ações.

O aporte teórico foi elaborado de forma a encadear ideias a partir de tópicos que elucidam a temática proposta para o estudo. O primeiro tópico descreve as fases do desenvolvimento infantil, com as contribuições de análises das autoras sobre a temática, em constante discussão com teóricos da área. O tópico seguinte aponta o papel da escola no processo de alfabetização, pois este processo inicia no seio familiar e necessita de direcionamento profissional e científico para melhor aproveitamento deste processo para o desenvolvimento infantil. E o tópico a seguir versa sobre a psicomotricidade na escola e sua importante contribuição como método para o processo de ensino/aprendizagem de escolares em fase inicial para a aquisição da leitura e da escrita.

O desenvolvimento infantil

O amadurecimento das crianças é tratado com muita ansiedade por parte dos pais contemporâneos, que já sabem cada fase do desenvolvimento, o que acontecerá em cada idade, e este talvez não seja o caminho mais adequado, conforme explicita Barbosa (2017, p. 55):

Atualmente, modelos de desenvolvimento infantil identificados com a idade tem sido o grande desespero dos pais que buscam que seus filhos acompanhem o padrão social imposto e também preocupação de profissionais e autores que, criticamente, conseguem ver o perigo que estes modelos podem acarretar. A valorização da idade cronológica, com os marcos de desenvolvimento e os testes aplicados como forma de ponderar este desenvolvimento, precisa ser revista e questionados sempre.

O desenvolvimento humano, que inicia ainda na fase fetal, deve ser visto pela óptica de Haywood e Getchel (2014, apud Oliveira, 2015, p. 31):

O desenvolvimento é um processo contínuo de alteração da capacidade funcional, que é a capacidade de existir para viver, mover-se e trabalhar. Com o avançar da idade, o desenvolvimento evolui, no entanto, pode ser mais rápido ou mais lento, em diferentes faixas etárias, e pode ser diferente entre indivíduos da mesma idade. Envolve mudança sequencial, ou seja, um passo leva para a próxima etapa de forma ordenada e irreversível. Este processo é cumulativo e resulta tanto das características intrínsecas do indivíduo quanto da interação com o meio ambiente.

Com vistas a esse contínuo processo de desenvolvimento, Oliveira (2015, p. 33) descreve que “O marco do desenvolvimento infantil é a resposta a certas estimulações, de acordo com a faixa etária, a fim de analisar se as aptidões adquiridas são próprias da idade”. Portanto, se faz necessário compreender as fases do desenvolvimento para poder intervir de acordo com o potencial de cada faixa etária.

Para Moreira (2011, p. 115),

o crescimento humano se caracteriza por quatro fases nitidamente distintas:

Fase 1: Crescimento intrauterino, inicia-se na concepção e vai até o nascimento.

Fase 2: Primeira infância, vai do nascimento aos dois anos de idade, aproximadamente, caracterizando-se por um crescimento incremental, que se inicia no nascimento e estende-se até um mínimo marco inicial da fase seguinte.

Fase 3: Segunda infância ou intermediária, período de equilíbrio e crescimento uniforme em que o acréscimo anual de peso se mantém no mesmo nível, desde o mínimo limítrofe, anteriormente citado, até o início de uma nova fase de crescimento acelerado.

Fase 4: Adolescência, fase final de crescimento, que se estende mais ou menos dos dez aos vinte anos de idade. O crescimento inicialmente se acelera, até atingir um máximo em torno dos quinze anos e, depois, declina rapidamente até os 20 anos.

O desenvolvimento infantil perpassa pelas fases do desenvolvimento fisiológico e motor, assim como o desenvolvimento das estruturas cognitivas estudadas por Piaget e citadas por Cavicchia (2010, p. 3):

Piaget distinguiu quatro grandes períodos no desenvolvimento das estruturas cognitivas, intimamente relacionados ao desenvolvimento da afetividade e da socialização da criança: estádio da inteligência sensório-motora (até, aproximadamente, os 2 anos); estádio da inteligência simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); estádio da inteligência operatória concreta (7-8 a 11-12 anos); e estádio da inteligência formal (a partir, aproximadamente, dos 12 anos).

Portanto, o desenvolvimento infantil será compreendido como a faixa etária que dura por volta dos 12 primeiros anos da vida da criança e antecede a adolescência que é considerada a fase final do crescimento, que dará origem ao início da vida adulta.

O papel da escola no processo de alfabetização

O ambiente escolar desempenha um papel essencial à sociedade, o de socializar e democratizar a aproximação ao conhecimento e possibilitar a criação de valor moral e ética nas crianças. A socialização do conhecimento historicamente construído pelo homem e democratização deste é a base da construção de um ser consciente, crítico, envolvido e potencialmente transformador de si e da sociedade. Espera-se da escola e de seus educadores um propósito social, pois, com a criação da Base Nacional Comum Curricular, este é um dos princípios que deve nortear o progresso da aprendizagem.

A escola deve ser, para o aluno, um espaço de socialização e fomento da afetividade. Deve sempre propor objetivos e metodologias que busquem desenvolver a aprendizagem de seus alunos de forma prazerosa e significativa. Os currículos devem atender à totalidade das necessidades dos educandos, levando em conta a iniciação do processo de alfabetização, que permitirá, a médio e longo prazos, a ressignificação da escolarização, dando sentido ao processo.

De acordo com Silva (2018, p. 30), “O processo de alfabetização começa antes de as crianças irem à escola, pois desde cedo elas se depararam com uma infinidade de símbolos; também, muitos pais ensinam as primeiras letras do alfabeto e os primeiros números”. Diante deste cenário, a escola é o primeiro ambiente onde as crianças interagem fora do seu contexto familiar, onde se cria, por exemplo, um espaço para gerar sua personalidade, criar suas próprias individualidades e compartilhar opiniões que futuramente possam contribuir para a melhoria da sociedade.

A alfabetização, por mais que muitas vezes seja compreendida para acontecer na escola, começa muito antes disso. As leituras de mundo que a criança faz nas relações que estabelece no contexto em que vive, constituem conhecimentos, sentidos e significados próprios (Todero, 2017, p. 22).

Quando se fala em escola, se faz necessário pensar em um ambiente agradável e atrativo para a criança, não apenas como um espaço onde seja obrigatório que a criança aprenda a ler e a escrever. Muitas salas de aulas ainda são dispostas de forma tradicional, como mencionado por Guimarães (2008, p. 20), “O cenário de uma escola costuma ser reconhecido pela presença de cadeiras e mesas, quadro e giz, murais, ou seja, equipamentos materiais que legitimam a valorização dos processos de representação (escrita, desenhos e outras marcas gráficas)”.

Sabe-se que o ambiente também contribui no processo de alfabetização, e esse processo sendo trabalhado de forma lúdica, onde se estimule a curiosidade e a leitura se torne prazerosa, tem sido um desafio para educadores, pois tracejar linhas e cobrir pontinhos não é atividade que fomentem a alfabetização de forma integral.

O processo de alfabetização é constituído pelas fases de conhecimento das letras, de conhecimento dos sons de cada letra, da composição silábica e da fonetização.

A evolução da sociedade passou a exigir o aprendizado da leitura e da escrita, assim como saber empregá-los, pois há diferenças na forma de escrita e, consequentemente, da leitura, de instrumentos importantes, como bulas de remédio, anúncio de jornais e até discursos de políticos. Desta forma, se faz necessário atrelar ao processo de alfabetização o processo de compreensão e interpretação.

Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um conhecimento de natureza conceitual: precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso significa que a alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório-motoras. É, antes, um processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica até chegarem a compreender de que forma a escrita alfabética em português representa a linguagem, e assim poderem escrever e ler por si mesmas (Brasil, 1998, p. 122).

Uma estratégia para que as crianças associem o processo de alfabetização ao ambiente no qual estão inseridas é o contato visual dos objetos dispostos, como livros, revistas, jornais, jogos, e até mesmo embalagens de supermercado. Outra estratégia que acompanha a anteriormente citada é a consideração dos conhecimentos prévios das crianças, desenvolvidos no meio familiar e social - como exemplo, as placas de ônibus, números de telefones, dentre outros.

Durante o processo de alfabetização, é notável a necessidade de fomentar as habilidades psicomotoras, que serão mais bem estudadas no seguinte tópico, para um desenvolvimento integral dos alunos.

Para melhor compreensão do processo de alfabetização, é importante destacar as fases que compõem esse processo, como a fase pictórica, a fase do grafismo primitivo, a fase pré-silábica, a fase silábica, a fase silábica alfabética e a fase alfabética.

A fase pictórica, também conhecida como a fase das garatujas, onde a criança inicia a escrita com rabiscos, geralmente essa fase se inicia bem cedo. Na fase do grafismo primitivo, a criança utiliza-se de números, letras e símbolos para representar sua escrita. Já na fase pré-silábica, a criança começa a entender a diferença entre números, letras e símbolos, começa a compreender que a formação de palavras acontece através das junções das letras. Na fase silábica, a criança inicia a escrita utilizando letras, como as vogais, que são muito utilizadas nos valores sonoros para a formação das palavras. Na fase silábica alfabética, a criança já consegue realizar a escrita e a formação de palavras já faz sentido. Na fase alfabética, a criança consegue ler e escrever foneticamente. É nesse momento que o professor deverá direcionar o processo de alfabetização para a ortografia e gramática.

Contudo, de acordo com Todero (2017, p. 23),

Para que este processo aconteça, enquanto professores alfabetizadores, precisamos buscar, através do planejamento, que a aprendizagem das crianças ocorra não de forma mecânica e linear, mas considerando seus diferentes processos de constituição do conhecimento e as características individuais que compõem o grupo.

Portanto, o professor alfabetizador que estiver apropriado dos conhecimentos supramencionados poderá intervir de forma a tornar a alfabetização escolar em um processo cheio de significados para os alunos.

A Psicomotricidade na escola

A Psicomotricidade é uma tendência pedagógica que surgiu no Brasil na década de 1970, sendo a primeira a se contrapor às tendências anteriores (Brasil, 1998).

A Educação Psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas progressivas e específicas conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida por meio de percepções vivenciadas, como uma intervenção direta nos aspectos cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo como um todo.

Portanto, é uma abordagem que compreende a totalidade do aluno e suas relações consigo e com o mundo que o cerca.

O termo psicomotricidade envolve mais do que apenas o movimento e a cognição; envolve aspectos superiores, como os citados pela Associação Brasileira de Psicomotricidade:

A Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (ABP - Associação Brasileira de Psicomotricidade).

Barros e Barros (2005), em seus estudos, enfocam que a psicomotricidade é vista como ação educativa integrada e fundamentada na comunicação e nos movimentos naturais conscientes e espontâneos, melhorando a conduta global do ser humano.

Em cada fase do desenvolvimento psicomotor, um tipo de aprendizagem é observado, e as experiências devem ser bem exploradas através de estímulos, que são imprescindíveis ao desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, pois o objetivo principal da educação psicomotora é contribuir para o desenvolvimento psicomotor da criança, da qual depende a evolução da sua personalidade e seu sucesso escolar. Ela é uma preparação para a vida das crianças (Le Boulch, 1982, apud Porto et al, 1999).

Algumas das principais características do desenvolvimento psicomotor se observam dos dois aos quatro anos de idade; sinaliza que, nos primeiros anos de vida, a criança se expressa por gestos, movimentos e uma linguagem a ser construída.

Aos dois anos: a criança chuta a bola, explora intensamente os brinquedos, faz traços horizontais, utiliza frases de, pelo menos, quatro palavras, consegue se vestir e se despir, consegue juntar brinquedos de encaixe, imita movimentos verticais e horizontais.

Aos três anos: prevalece a vontade de se afirmar, e geralmente, nessa fase, a criança demonstra interesse em alguns tipos de atividades, como exemplo, atividades de desenhos e atividades de brincar com outras crianças. Nesta faixa etária, a criança percebe melhor o espaço, apresenta sinais de domínio do equilíbrio corporal e da coordenação motora global.

Através do equilíbrio, a criança se movimenta explorando objetivos, ficando de pé; para isso, são de fundamental importância os estímulos para a postura bípede, pois, de acordo com Fonseca (2004, p. 67),

a postura bípede deve submeter-se às leis do equilíbrio; para isso, inumeráveis reflexos posturais de origem filogenética devem intervir assim que o deslocamento e a flutuação do centro de gravidade se observam, exatamente para provocar mudanças posturais corretivas, desencadeadas pela ação dos receptores labirínticos, visuais e somaestésicos.

Aos quatro anos: a criança desenvolve atividades que exigem segurar o lápis; demonstra afetividade com seus pares; caminha sobre degraus; conhece o próprio nome completo, seu gênero sexual, idade e endereço; na maioria das vezes, consegue aguardar a vez.

Durante o processo de desenvolvimento da criança, se faz necessário que frequente ambientes estimulantes, para que possa vivenciar e fomentar habilidades diversas. A educação não se limita apenas a ler e a escrever. Primeiramente, as mãos precisam ser estimuladas com o uso de alguns objetos até o momento em que será possível o contato seguro e efetivo com o lápis.

A criança deve viver o seu corpo através de uma motricidade não condicionada, em que os grandes grupos musculares participem e preparem os pequenos músculos, responsáveis por tarefas mais precisas e ajustadas. Antes de pegar num lápis, a criança já deve ter, em termos históricos, uma grande utilização da sua mão em contato com inúmeros objetos (Fonseca, 1993, p. 89).

Vale destacar que, para o desenvolvimento psicomotor de crianças entre os quatro e seis anos de idade, deve ser valorizado o processo de aprendizagem, pois é nessa fase que a criança desenvolve várias habilidades.

No processo de aprendizagem da criança, é imprescindível considerar os aspectos sociais, cognitivos, físicos e psicomotores, pois as interferências sofridas pelo indivíduo refletem em suas ações no cotidiano e no contexto escolar.

Elementos de Psicomotricidade

A Psicomotricidade e seus elementos são fundamentais para o processo de aprendizagem dos indivíduos em processo de desenvolvimento. Estes elementos nos ajudam a entender melhor este estudo:

  • Esquema corporal é o conhecimento de todo o corpo, onde a criança consegue identificar todas as partes.
  • Coordenação dinâmica geral, em que podem ser trabalhados o equilíbrio e controle do corpo.
  • Coordenação motora fina é o desenvolvimento de realizações de atividades que exigem o movimento de pinça, como recortar e segurar o lápis.
  • Percepções visual, auditiva e tátil, relacionadas aos exercícios que utilizam a atração visual, a capacidade de diferenciar tipos de sons e a capacidade de perceber e diferenciar objetos através do tato, respectivamente.
  • Lateralidade é o conhecimento e domínio em relação à posição, esquerda, direita, frente, trás.
  • Organização e estruturação estão diretamente ligadas à psicomotricidade de corpo, espaço e tempo; a criança precisa entender e se organizar dentro deles.
  • Estruturação espacial é a adaptação ao meio em que a criança vive, tamanho de pessoas, de objetos, noções de espaço.
  • Estruturação temporal é a percepção de anos, dias, climas quentes e frios.

A psicomotricidade como meio de alfabetização

O desenvolvimento psicomotor torna-se importante no processo de alfabetização e é essencial na prevenção de problemas de aprendizagem, como a má concentração, confusão no reconhecimento das palavras, confusão com as letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à alfabetização.

A grafia assume um lugar de grande importância no desenvolvimento da criança e do processo de alfabetização. Segundo Le Boulch (1982, apud Porto et al., 1999, p. 120):

A evolução do grafismo está relacionada com a evolução perceptiva e com a compreensão da atividade simbólica. E, então os processos registrados nesse estágio fazem com que a criança seja capaz de representar, através de signos convencionais, formas geométricas, letras e de avançar na construção gráfica, viabilizando o processo de aquisição da linguagem escrita.

As crianças iniciam a escrita com garatujas; com o passar do tempo e com os estímulos adequados, desenvolvem a coordenação motora necessária, possibilitando o processo de grafismo. Outro aspecto importante sobre a aquisição da linguagem escrita é o contexto social em que ela está inserida - entre a interação de adultos com crianças se constroem concepções de escrita e suas funções, pois através da socialização, o indivíduo encontra o significado deste processo.

O lúdico, o corpo e os movimentos são de grande relevância no processo de ensino e aprendizagem; portanto, os professores e a escola precisam adaptar seus planejamentos de acordo com as necessidades motoras, analisando cada criança, por esta ser um ser subjetivo, e que independentemente das fases do desenvolvimento estudados e propostos pela ciência; cada criança se desenvolve no seu tempo.

O professor alfabetizador precisa estar atento, pois o corpo e a mente são indissociáveis para o processo de aquisição da leitura e da escrita, sendo necessário promover atividades psicomotoras que despertem no aluno a curiosidade e o gosto pela leitura. Dessa forma, os jogos tornaram-se ferramentas indispensáveis para pesquisadores, professores e psicólogos com grande relevância na prática e no desenvolvimento psicomotor das crianças.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil aponta que

os jogos de construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que organiza sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar (Brasil, 1998, p. 28).

Os jogos permitem que esse desenvolvimento da aprendizagem ocorra de forma lúdica, e várias atividades podem ser utilizadas, como bingo, jogo da memória, quebra-cabeças, dominó, boliche, alfabeto móvel, atividades de alinhavo, entre outros. Essas atividades que, para as crianças, tem o atrativo de brincadeiras, na psicomotricidade, são ferramentas que auxiliam no desenvolvimento intelectual.

Com a utilização dos jogos e brincadeiras, o professor faz com que seu aluno se desenvolva de forma coletiva e individual, identificando suas capacidades em aspectos como cognição, linguagem, motricidade, capacidades sociais e afetivas.

Ainda levando em conta o brincar no desenvolvimento psicomotor, é possível citar a BNCC com os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, que são: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhece-se; e o brincar está interligado com os demais. O brincar está inserido e torna-se um direito primordial na aprendizagem da criança.

A Psicomotricidade está incluída como papel primordial na alfabetização e, através dela, as crianças conseguem o domínio do corpo e da escrita; portanto, alfabetizá-las com a valorização da psicomotricidade traz grandes benefícios para toda a vida escolar do aluno.

Metodologia

Com o intuito de resgatar os estudos de teóricos da área da Psicomotricidade, do Desenvolvimento Infantil e da Alfabetização e Letramento, este estudo lança mão da pesquisa de natureza qualitativa, intencionando uma revisão bibliográfica, pois, segundo Fonseca (2002, apud Gerhardt; Silveira, 2009, p. 37):

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta.

Quanto à pesquisa de natureza qualitativa, suas características motivaram este estudo, pois, para Gerhardt e Silveira (2009, p. 32),

as características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências.

Contudo, se faz necessário observar o disposto em Silva et al. (2019, p. 13), que mencionam a pesquisa de revisão bibliográfica como “um processo contínuo, isto é, durante a construção da pesquisa, autores devem sempre buscar novas fontes de dados para que isso torne o estudo mais embasado”, ou seja, pesquisas desta natureza requerem constantes atualizações e significativo embasamento para se tornarem válidas.

Considerações finais

Diante do acervo disposto neste estudo e da união de ideias em prol do desenvolvimento da temática em questão, é possível inferir que a Psicomotricidade desempenha papel fundamental para o desenvolvimento infantil e para a alfabetização de escolares em séries iniciais.

A Psicomotricidade é área de estudos para psicólogos, pedagogos e professores de Educação Física, e quando utilizada de forma a envolver esses três profissionais, o fazer pedagógico no contexto escolar resulta em aprendizagem e desenvolvimento motor de forma significativa.

A leitura e a escrita, como descritas acima, são aprendizagens indispensáveis não apenas para a vida escolar, mas também para a vida social dos alunos, e por meio dessas aprendizagens, é possível o acesso aos conhecimentos historicamente produzidos pelo homem, assim como a imersão destes alunos na vida social, com a possibilidade de manterem-se informados e se comunicando com o mundo que os cerca.

Atrelar a aprendizagem da leitura e da escrita ao desenvolvimento motor infantil é um desafio contemporâneo para os professores das séries iniciais, pois muito se fala em metodologias ativas nos dias atuais, e a Psicomotricidade parece uma boa opção para desenvolver o corpo e a mente sem dissociá-los.

A Psicomotricidade pode ser vista como ferramenta para uma alfabetização significativa, uma vez que a criança aprende brincando e se movimentando, e aquele jargão “é brincando que se aprende”, começa a fazer sentido.

Mas vale destacar a importância de propostas de intervenção com Psicomotricidade, aplicadas de forma adequada, levando em consideração os aspectos psicomotores da criança e a fase de desenvolvimento em que essa se encontra, pois, ao que parece, quando as propostas de intervenção são aplicadas de forma inadequada, os prejuízos de desenvolvimento motor e cognitivo das crianças podem ser irreversíveis quando estiverem na fase adulta.

Referências

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Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.

Qual a importância da psicomotricidade no desenvolvimento das crianças nos anos iniciais?

A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança.

Qual a importância da psicomotricidade para a escola?

A psicomotricidade é muito importante na escola, pois trabalha na prevenção de problemas de dificuldades de aprendizagem relacionados à: afetividade, leitura e escrita, matemática, atenção, lateralidade, dominância lateral, funções cognitivas, socialização e trabalho em grupo.

Qual a importância da psicomotricidade Na alfabetização?

O desenvolvimento psicomotor torna-se importante no processo de alfabetização e é essencial na prevenção de problemas de aprendizagem, como a má concentração, confusão no reconhecimento das palavras, confusão com as letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à alfabetização.

Qual é o principal objetivo da psicomotricidade?

A psicomotricidade tem como objetivo melhorar os movimentos do corpo, a noção do espaço onde se está, a coordenação motora, equilíbrio e também o ritmo. Estes objetivos são alcançados através de brincadeiras como correr, brincar com bolas, bonecas e jogos, por exemplo.