O dióxido de carbono (CO2) na atmosfera do planeta Terra atingiu uma média mensal de 419 partes por milhão. Este é o nível mais alto já medido desde um período entre 4,1 milhões e 4,5 milhões de anos atrás, de acordo com cientistas.
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O nível atmosférico foi medido no topo de Mauna Loa, no Havaí, e a equipe de cientistas acredita que o planeta atingiu a maior concentração desde um período conhecido como "Pliocene Climatic Optimum".
Para comparações, naquela época a temperatura média do globo era cerca de 7 Fahrenheit (-13,89° C) maior que durante os tempos pré-industriais e o nível do mar estava 25 metros mais alto do que hoje.
“Estamos adicionando cerca de 40 bilhões de toneladas métricas de poluição de CO2 à atmosfera por ano”, disse Pieter Tans, cientista sênior da NOAA, em comunicado à imprensa. “Essa é uma montanha de carbono que extraímos da Terra, queimamos e liberamos na atmosfera como CO2 - ano após ano. Se quisermos evitar uma mudança climática catastrófica, a maior prioridade deve ser reduzir a poluição de CO2 a zero o mais cedo possível. ”
Em 2019, o mundo conseguiu achatar minimamente a curva de emissões de CO2 na atmosfera. Foi uma conquista notável, muito por conta do fechamento de usinas de energia a carvão e ao rápido crescimento no uso de energia renovável.
Já em 2020, as emissões globais de CO2 caíram 6,4% (ou 2,3 bilhões de toneladas), por conta do isolamento social devido a pandemia do coronavírus, além dos ganhos contínuos no uso de energia renovável. Agora, no entanto, as emissões estão subindo novamente.
Apesar da queda em 2020, a NOAA afirma que qualquer impacto não foi perceptível no contexto da variabilidade natural dos níveis de CO2, que é causada pela forma como as plantas e os solos respondem ao clima, umidade do solo e outras condições.
"No final das contas, precisamos de cortes que são muito maiores e sustentados por mais tempo do que as paralisações relacionadas ao coronavírus", disse o geoquímico Ralph Keeling, que dirige o programa Scripps em Mauna Loa.
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O elemento químico é essencial para a vida na Terra, mas também está associado ao aquecimento global
Para frear o avanço das mudanças climáticas, 195 países aderiram ao Acordo de Paris em 2015, — Foto: (Foto: veeterzy/Unsplash) O carbono é um elemento químico famoso por ser uma das principais causas das
mudanças no clima, apesar de ser também um elemento-chave para a vida na Terra. Apresentado como o sexto átomo da tabela periódica e base de uma variedade de moléculas que compõem a química orgânica. Apesar de ser o composto essencial para a formação de seres vivos, duas moléculas com
carbono estão entre as principais causas do efeito estufa: o dióxido de carbono (CO2) e o
metano (CH4). Essas moléculas, e outras da mesma família, têm a propriedade de absorver radiação infravermelha, explica o pesquisador sênior do Instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe. De acordo com ele, a
característica é importante porque o efeito da luz do Sol na superfície da Terra, incluindo os oceanos, é refletida sob a forma de raios infravermelhos. Ao absorver essa radiação, os gases esquentam toda a atmosfera como se fossem um cobertor que mantém o planeta aquecido. Não fosse essa barreira, a
temperatura na Terra cairia drasticamente, ficando em torno dos 18º negativos e inviabilizando a existência de várias espécies.
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Com numa noite de verão, dormir com cobertor é desconfortável; no planeta, o aumento da temperatura, diz Watanabe, altera os padrões climáticos. Algumas consequências práticas desse aquecimento exagerado já podem ser percebidas. O Caribe está sofrendo com furacões mais frequentes e mais intensos, as calotas de gelos polares e as geleiras estão derretendo, o que influencia o nível do mar, e, no Brasil, secas e chuvas mais intensas se tornaram tornam-se comuns. Além disso, Watanabe explica que as mudanças do clima podem impactar até mesmo no aumento da incidência de doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue, cuja reprodução é acelerada pelo calor.
O grande desafio para os próximos anos é reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Para que o carbono não seja liberado na atmosfera, uma das principais medidas é reduzir o desmatamento. Quando uma árvore cresce por meio do processo de fotossíntese, retira da atmosfera o CO2. O gás ocorre de forma natural no ambiente, mas também pode ser liberado pelas atividades humanas por causa do uso de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural.
Edenise Garcia, diretora de Ciências da ONG The Nature Conservancy (TNC) diz que "em grandes quantidades, o CO2 provoca, junto com outros gases, o chamado efeito estufa. O calor que entra na atmosfera terrestre fica aprisionado, o que causa o gradual aquecimento do planeta”. Ao ‘consumir’ o CO2 da atmosfera, as árvores diminuem a concentração do gás no ar. Por outro lado, a perda florestal por desmatamento ou incêndios tem o efeito inverso e libera quantidades enormes de carbono.
De acordo com Watanabe, antes da chegada da civilização, o balanço entre consumo e emissão de CO2 era praticamente zero em florestas como a Amazônia. “Plantas cresciam e morriam naturalmente, e tudo que a floresta absorvia de CO2 voltava para a atmosfera”, explicou. Segundo ele, “quando o homem começou a desmatar e a queimar a floresta, esse balanço desapareceu. A quantidade de carbono que volta para a atmosfera é maior e não há tantas plantas para removê-lo de lá”.
Para frear o avanço das mudanças climáticas, 195 países aderiram ao Acordo de Paris em 2015, tratado mundial no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. O principal objetivo do acordo é limitar o aumento da temperatura média global em 1,5ºC até 2100.