O que a picada do carrapato pode causar?

Ele repassa um carboidrato que não é produzido pelo corpo humano e ocorre reprogramação do sistema imunológico

 16/05/2018 - Publicado há 5 anos

O que a picada do carrapato pode causar?

O que a picada do carrapato pode causar?
Carrapato estrela – Foto: CDC/ Dr. Christopher Paddock/ James Gathany via Wikimedia Commons

O carrapato estrela solitário é nativo do Texas, nos Estados Unidos, e pica animais e pessoas sem causar dor, podendo ficar até uma semana grudado à vítima sugando seu sangue sem ser percebido. Porém, o carrapato provoca uma doença bizarra: a alergia à carne.

Por motivos desconhecidos, a picada desse carrapato reprograma o sistema imunológico humano e ataca o carboidrato alfa-gal presente na carne de boi e de porco. Isso significa que, se o infectado comer esses tipos de carne, terá uma reação alérgica violenta.

 A  professora Luiza Karla de Paula Arruda, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, explica que o carrapato repassa para o nosso organismo um carboidrato que não produzimos, por isso ocorre a reprogramação do sistema imunológico.

Os casos eram restritos ao Texas, mas agora o carrapato-estrela está se espalhando pelos EUA. De acordo com a professora, além dele se espalhar facilmente, já existe, inclusive no Brasil, um carrapato da mesma família com a mesma atuação, que está presente principalmente na região sul do país.

Ouça a entrevista no link acima.  

Por: Vitor Neves


O que a picada do carrapato pode causar?

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Nota da Vigilância Epidemiológica:
CVE “Prof. Alexandre Vranjac”/SES/SP, Divisão de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetor (agosto de 2005)

A Febre Maculosa Brasileira (FMB) é doença de notificação compulsória no Estado de São Paulo desde 2002. Até a década de 80, os casos eram provenientes dos Municípios de Mogi das Cruzes, Diadema e Santo André, todos da região metropolitana de São Paulo. A partir de 1985, foram constatadas as primeiras suspeitas nos Municípios de Pedreira e Jaguariúna, na época pertencentes à região de saúde de São João da Boa Vista. Em 1987, têm-se os primeiros casos confirmados laboratorialmente no Município de Pedreira. A partir de então, vários casos suspeitos foram confirmados nas regiões de Campinas e São João da Boa Vista. Além dessas, outras regiões do Estado apresentam casos confirmados de FMB: Piracicaba, Salto, Mogi das Cruzes, Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires, Mauá e município de São Paulo, Ribeirão Preto.

Nas últimas duas décadas, vem aumentando a importância da febre maculosa enquanto agravo de saúde pública. Essa importância se justifica pelo crescente número de casos diagnosticados, elevadas taxas de letalidade, expansão das áreas de transmissão, não se restringindo a áreas rurais e de mata. A ocorrência de casos em áreas urbanas e periurbanas demonstra mudanças na ecologia da doença.

Histórico e epidemiologia
A primeira descrição clínica da febre maculosa foi feita em 1899 em caso ocorrido na região montanhosa do noroeste norte-americano. Nos Estados Unidos, a denominação é de Febre Maculosa das Montanhas Rochosas. A partir da década de 30, a doença passou a ser identificada focalmente em diversos países, como Canadá, México, Panamá, Colômbia e Brasil.

No Brasil, foi reconhecida pela primeira vez no estado de São Paulo, no ano de 1929. A partir daí foram diagnosticados casos nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. (febre maculosa brasileira é também chamada de febre maculosa de São Paulo).

Aspectos clínicos da doença

O que a picada do carrapato pode causar?

A doença é transmitida por um carrapato (Amblyomma cajennense) – figura 1 -, que, normalmente, está infectado por uma bactéria que se chama rikétsia (R.rickettsii ). Essa bactéria vai causar a doença.

Fig. 1 – Carrapato transmissor de febre maculosa (Amblyomma cajennense). A: vista superior. B: vista inferior. Fonte: Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 59(2): 115-130 – Jul., 1961

O carrapato se alimenta de sangue de vários animais (galinhas, perus, seriemas; mamíferos como cavalo, boi, carneiro, cabra, cão, porco, veado, capivara, cachorro do mato, coelho, cotia, coati, tatu e tamanduá; e animais de sangue frio, como ofídeos) e geralmente já está infectado com a bactéria, que passa para o sangue do animal picado. A transmissão ocorre pela picada de carrapato infectado. Para que a rikétsia se reative e possa ocorrer a infecção no homem, há necessidade que o carrapato fique aderido por algumas horas (de 4 a 6 horas). Pode também ocorrer contaminação por meio de lesões na pele, pelo esmagamento do carrapato. A suscetibilidade das pessoas à doença é geral e a imunidade, provavelmente, é duradoura.

O período de incubação varia de 2 a 14 dias após a picada (média de 7 dias), e os sintomas têm início súbito, com febre de moderada a alta, que dura geralmente de 2 a 3 semanas, acompanhada de dor de cabeça, calafrios, congestão das conjuntivas (olhos vermelhos). Ao terceiro ou quarto dia podem se apresentar manchas róseas nas extremidades e em torno do punho e tornozelo, de onde se irradia para tronco, face, pescoço, palmas e solas. Pequenos sangramentos de pele são frequentes. A doença pode também ser assintomática ou com sintomas leves.

Alguns casos, porém, evoluem gravemente, ocorrendo necrose nas áreas de sufusões hemorrágicas, em decorrência de vasculite generalizada. Torpor, agitação psicomotora, sinais meníngeos são frequentes, assim como face avermelhada e infiltrada, e infecção conjuntival, com inchaço palpebral e nas pernas, que se apresentam brilhantes.
A letalidade é aproximadamente de 20% na ausência de uma terapia específica. A morte é pouco comum quando se aplica o tratamento precocemente.

PORTANTO, NA SUSPEITA DE FEBRE MACULOSA, PROCURAR SERVIÇO MÉDICO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL.

Profilaxia
As medidas de controle mais importantes estão na área de educação em saúde, e como o controle do carrapato não é facilmente exequível, o alerta à população para evitar áreas com carrapatos ou retirá-la o mais rápido possível da região infectada. Ao lado disso, estar ciente para procurar prontamente um serviço médico caso apresente sintomas – dias após haver sido parasitado, também é imprescindível procurar o médico.

  • Ter em mente quais são as áreas consideradas endêmicas para a febre maculosa.
  • Evitar caminhar em áreas conhecidamente infestadas por carrapatos no meio rural e silvestre.
  • Quando for necessário caminhar por áreas infestadas por carrapatos, vistoriar o corpo em busca de carrapatos em intervalos de 3 horas, pois, quanto mais rápido for retirado o carrapato, menores serão os riscos de se contrair a doença.
  • Barreiras físicas: calças compridas com parte inferior por dentro das botas e fitas adesivas dupla-face lacrando a parte superior das botas. Recomenda-se o uso de roupas claras, para facilitar a visualização dos carrapatos.
  • Não esmagar os carrapatos com as unhas, pois, com o esmagamento, pode haver liberação das rikétsias, que têm capacidade de penetrar através de microlesões na pele. Retirá-los com calma, com leve torção, para liberar as peças bucais.
  • Rotação de pastagens: aparar gramado o mais rente ao solo, facilitando, assim, a penetração dos raios solares.
  • Controle químico nos animais domésticos, por meio de banhos estratégicos de carrapaticidas.

Quando se preocupar com uma picada de carrapato?

Se você sabe que foi picado por um carrapato, entre em contato com seu médico..
Área vermelha (chegando às vezes a cinco centímetros de diâmetro) ao redor da picada..
Erupção cutânea..
Sensação de mal-estar geral (dores musculares, dor de cabeça, febre, fraqueza).

O que acontece após picada de carrapato?

Cerca de 30 dias após a picada pode causar febre e dor de cabeça. No caso da febre maculosa, pode haver febre, cefaléia e dores musculares, que são iniciadas aproximadamente uma semana após a picada. Geralmente, há também um ponto negro no local da inoculação.

O que a picada do carrapato pode causar em humanos?

A maioria das picadas de carrapatos não transmite doença e é indolor. No entanto, muitas vezes elas causam a formação de um caroço vermelho e coceira no local da picada e podem provocar reações cutâneas alérgicas em certas pessoas.