Confidência do Itabirano Show Alguns anos vivi em Itabira. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, E o hábito de
sofrer, que tanto me diverte, De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Os versos que abrem este artigo são de Carlos Drummond de Andrade, considerado o maior poeta brasileiro do século XX e um dos principais nomes da Literatura em Língua Portuguesa. Confidência do Itabirano representa a poética drummondiana memorialista, um poema autobiográfico sobre o escritor que melhor representou a poesia da segunda geração modernista. Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro (hoje apenas Itabira), Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. De uma tradicional família de fazendeiros e mineradores, atividades que predominavam na região àquela época, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. Regressou ao seu estado natal e na cidade de Ouro Preto formou-se farmacêutico, ofício que jamais exerceu. Em 1925, aos vinte e três anos, foi um dos fundadores de A Revista, publicação que representava a estética modernista em Belo Horizonte, tendência com a qual o poeta já mostrava grande identificação. Em 1934, Drummond ingressou no serviço público, atuando como chefe de gabinete do Ministro da Educação, Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Posteriormente, transferiu-se para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, aposentando-se em 1962. A vida de funcionário público não impediu que o poeta se dedicasse à Literatura: colaborou como cronista em dois grandes jornais, o Correio da Manhã e o Jornal do Brasil, e simultaneamente produziu sua obra poética, cuja dimensão e riqueza continuam a despertar a atenção de admiradores e estudiosos. Foi exímio prosador — contista e cronista inigualável —, mas foi na poesia que Drummond destacou-se. Também foi tradutor de grandes nomes da literatura universal, como Balzac, Choderlos de Laclos, Marcel Proust, García Lorca, François Mauriac e Molière. Enquanto traduzia, era traduzido, seus livros ganharam versões em diversas línguas, entre elas o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco, entre outras. A relevância e genialidade de sua obra justificaram a grande projeção internacional, tendo sido considerado um dos escritores mais influentes da Literatura Brasileira no século XX. O poeta faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias depois do falecimento de sua única filha, a também escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.
Quanto aos aspectos literários, a obra de Carlos Drummond de Andrade pode ser dividida em quatro fases: Fase gauche (década de 30): Representada pelas obras Alguma poesia, de 1930, e Brejo das almas, de 1934, esteve bastante associada à estética defendida pelos primeiros modernistas. Nos poemas que integraram essa fase, pode-se notar uma linguagem permeada pela ironia e humor, além de uma forte influência do gauchismo, palavra de origem francesa que significa “lado esquerdo”. Metaforicamente, simbolizava o indivíduo que não conseguia adequar-se às convenções, um ser torto que se comunicava com a vida e com a realidade através do canto. O Poema de sete faces, do livro Alguma poesia, ilustra bem o pessimismo, a reflexão existencial e o individualismo, traços característicos da fase gauche: Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto As casas espiam os homens O bonde passa cheio de pernas: O homem atrás do bigode Meu Deus, por que me abandonaste Mundo mundo vasto mundo, Eu não devia te dizer (Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma poesia') Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Fase social (1940-1945): Na fase social, Drummond abandonou o isolamento e o individualismo, temáticas predominantes na fase gauche, e passou a demonstrar grande interesse pelos problemas da vida social. Essa mudança estava relacionada com o contexto histórico da época, pois o mundo assistia à época a ascensão de regimes totalitários, como o nazismo e o fascismo, a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, a ditadura de Vargas. Tais acontecimentos forjaram o nascimento de uma literatura engajada e comprometida com a vida dos homens. O poema Congresso Internacional do Medo, do livro Sentimento do Mundo, representa a fase social: Congresso Internacional do Medo Provisoriamente não cantaremos o amor, (Carlos Drummond de Andrade, in 'Sentimento do Mundo')
Fase do “não” (décadas de 1950 e 1960): Passados os grandes conflitos históricos que fomentaram a fase social na poesia drummondiana, o poeta voltou-se para temas como a filosofia e a metafísica, características encontradas em sua poesia filosófica. Ao mesmo tempo, Drummond desenvolveu a poesia nominal, com tendências ao Concretismo, cuja preocupação estende-se aos recursos gráficos do texto. As obras Claro enigma, de 1951, Fazendeiro do ar, de 1955, e Vida passada a limpo, de 1959, representam a poesia filosófica, enquanto Lição de coisas, de 1962, representa a chamada poesia nominal. A ingaia ciência A madureza, essa terrível prenda a madureza vê, posto que a venda A madureza
sabe o preço exato e nem contra si mesma. O agudo olfato, (Poesia filosófica, Carlos Drummond de Andrade, in 'Claro Enigma') Amar-amaro Por que amou por que amou (Poesia nominal, Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de coisas') Fase da memória (décadas de 1970 e 1980): A fase final da poesia drummondiana contemplou aspectos memorialistas, aprofundando temas que permearam toda a obra do poeta. A infância, a cidade natal, a família, o humor, a autoironia e outros temas ligados às diferentes fases voltaram a ser assunto nas obras Boitempo & a falta que ama, Menino antigo (Boitempo II e Esquecer para lembrar), Boitempo III, As impurezas do branco, Amor amores, Discurso de primavera, A paixão medida, Corpo, Amor, sinal estranho, entre outras. Comunhão Todos os meus mortos estavam de pé, em círculo, eu no centro. Nenhum tinha rosto. Eram reconhecíveis pela expressão corporal e pelo que diziam no silêncio de suas roupas além da moda e de tecidos; roupas não anunciadas nem vendidas. Nenhum tinha rosto. O que diziam escusava resposta, ficava, parado, suspenso no salão, objeto denso, tranquilo. Notei um lugar vazio na roda. Lentamente fui ocupá-lo. Surgiram todos os rostos, iluminados. (Carlos Drummond de Andrade in 'A paixão medida') *A imagem que ilustra o
artigo é capa do periódico 'Cadernos de Literatura Brasileira', do Instituto Moreira Salles.
Como seria uma infância de verdade no Brasil?Debaixo da bananeira. Sem nenhum laranjais. pergunta: Na opinião do poeta modernista, como seria uma infância de verdade, no Brasil?
Qual é o contraste entre o momento em que o poeta escreve é a época de sua infância?Resposta: A diferença é que no passado ele era mais alegre, feliz e descompromissado, enquanto isso no presente, o poeta é representado com maior maturidade e pelo pesar de sua vida adulta.
Qual efeito de sentido produz o título que incluiu Por quê?a) Qual efeito de sentido produz o título que incluiu? Por quê? O título “Os Selvagens” inclui uma ideia de ferocidade, que é negada no poema , eles os indígenas , têm medo de uma galinha. ➖b) Relembre as intenções de Caminha (e dos demais cronistas) quando escreve seus textos sobre o Brasil.
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