Explique com suas palavras o que o chefe de polícia do para diz sobre as fugas dos escravizados

"Depois da abolição, aconteceram várias celebrações em torno da princesa Isabel. Parte dos abolicionistas, inclusive, associou a abolição à Coroa. Mas (a princesa) teve uma importância bem lateral", fala a socióloga Angela Alonso, professora da Universidade de São Paulo e autora do livro "Flores, Votos e Balas", sobre o movimento abolicionista. "Há vários líderes negros que foram muito importantes".

Ricardo Tadeu Caires Silva, professor da Universidade Estadual do Paraná, explica que durante muito tempo o estudo da história tratou a abolição como uma dádiva da princesa Isabel, “ignorando a agência dos principais interessados na abolição: os escravos". Somente mais tarde, os escravos passaram a ser considerados protagonistas do processo.

"Aqueles que vencem a batalha é que fazem a narrativa. Nós historiadores temos que reconstituir o processo da batalha, para recuperar as vozes daqueles que não foram ouvidas", complementa Maria Helena Machado, também da USP, especialista em escravidão.

A lei assinada pela princesa - e apelidada de Lei Áurea - vinha tarde. Todos os países da América já tinham abolido a escravidão. O primeiro, foi o Haiti, 95 anos antes, em 1793. A maioria demorou para seguir o pioneiro, e fez suas abolições entre os anos 1830 e 1860. Os Estados Unidos, em 1865. Cuba, a penúltima a abolir a escravidão, o fez dois anos antes do Brasil.

Em nenhum outro país, contudo, a escravidão teve a dimensão brasileira. Enquanto 389 mil africanos desembarcaram nos Estados Unidos, no Brasil foram 4,9 milhões - 45% de toda a população que deixou a África como escrava. No caminho, cerca de 670 mil morreram. O gigantismo da escravidão no Brasil dificultou o seu fim - ela estava impregnada na vida nacional.

A lei também vinha curta e seca. Artigo 1: "É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brazil. Artigo 2: Revogam-se as disposições em contrário". Nada mais. Nenhuma indenização ou compensação para os recém-libertos, estimados em 1,5 milhão de pessoas naquela época, nenhuma política de emprego ou de acesso à terra. Isso dificultou a integração dos ex-escravos.

“(A alegria trazida pela lei da abolição) havia de ser geral pelo país, porque já tinha entrado na consciência de todos a injustiça originária da escravidão. Mas como ainda estamos longe de ser livres! Como ainda nos enleamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis!”, ponderou Lima Barreto, ao se recordar da festa da abolição.

 Uma das figuras mais conhecidas na repressão aos escravos no Brasil foi a do  Capitão do mato . Mas qual era sua função na sociedade escravista brasileira entre os séculos XVII e XIX? Você, leitor, sabe qual era?

O Capitão do mato era conhecido também como capitão-de-assalto-e-entrada, entre outros termos. Sua principal função era a de caçar gente, principalmente escravos fugidos das fazendas e minas pertencentes a seus senhores.

 Geralmente não atuavam sozinhos, compondo em sua maior parte tropas de número variável de capitães do mato, além de atuar em conjunto às forças militares da colônia.  

Ganhavam a vida caçando os escravos e entregando a seus senhores, que, em troca, retribuíam em dinheiro a entrega.

O capitão do mato surgiu na sociedade brasileira após a destruição do Quilombo do Palmares, em 1694. Com os capitães do mato, os senhores de engenho e as autoridades portuguesas pretendiam impedir fugas das fazendas e também impor o medo nos escravos caso tivessem interesse em fugir de seus cativeiros.

Porém, o capitão do mato não era muito querido na sociedade colonial e imperial brasileira. Havia muitas denúncias de que os capitães do mato roubavam escravos que não haviam fugido para poder entregá-los a seus senhores e conseguir o pagamento, burlando assim a regra de confiança entre senhores e capitães. Em alguns casos, os capitães do mato matavam cativos inocentes, gerando prejuízos aos proprietários dos escravos.

Os capitães do mato eram geralmente escravos libertos, o que garantia uma posição social superior a dos que permaneciam escravos e mesmo de pobres livres, já que estavam mais próximos dos senhores. Por outro lado, a origem escrava dos capitães do mato inflamava ainda mais a ira dos cativos contra esses caçadores, já que no passado estiveram em uma posição social semelhante.

Em virtude de sua função, o capitão do mato era um personagem de muita importância para a garantia da estabilidade social na colônia. Sem ele, possivelmente as fugas de escravos teriam sido ainda maiores, o que impedia a continuidade de existência da escravidão no Brasil colonial e imperial.

 Segundo um capitão-mor da colônia, funcionário da Coroa portuguesa, o capitão do mato era necessário “à segurança interna dos Povos e ao domínio dos Senhores sobre os Escravos e malfeitores, que de outro modo ou todos [os escravos] fugiriam”. Sua atuação serviria ainda para que os escravos não se levantassem “contra o mesmo Paiz [...] devendo-se a este Corpo [de capitães-do-mato] a segurança e tranquilidade interna de todo o paiz d’America, e da sua subsistencia”. [1]

A existência do capitão do mato na história colonial e imperial mostra que a violência foi uma das características mais marcantes da formação da sociedade brasileira. 

Nota.

[1] REIS, João José Reis. Quilombos e revoltas escravas no Brasil. Revista USP São Paulo (28): 14-39, Dezembro/Fevereiro 95/96. p. 17-18.  


Por Tales Pinto
Mestre em História