Elabore um pequeno texto explicando a crise do Império espanhol e a situação nas colônias na época

O processo de independência da América Espanhola ocorreu em um conjunto de situações experimentadas ao longo do século XVIII. Nesse período, observamos a ascensão de um novo conjunto de valores que questionava diretamente o pacto colonial e o autoritarismo das monarquias. O iluminismo defendia a liberdade dos povos e a queda dos regimes políticos que promovessem o privilégio de determinadas classes sociais.

Sem dúvida, a elite letrada da América Espanhola inspirou-se no conjunto de ideias iluministas. A grande maioria desses intelectuais era de origem criolla, ou seja, filhos de espanhóis nascidos na América desprovidos de amplos direitos políticos nas grandes instituições do mundo colonial espanhol. Por estarem politicamente excluídos, enxergavam no iluminismo uma resposta aos entraves legitimados pelo domínio espanhol, ali representado pelos chapetones.

Ao mesmo tempo em que houve toda essa efervescência ideológica em torno do iluminismo e do fim da colonização, a pesada rotina de trabalho dos índios, escravos e mestiços também contribuiu para o processo de independência. As péssimas condições de trabalho e a situação de miséria já tinham, antes do processo definitivo de independência, mobilizado setores populares das colônias hispânicas. Dois claros exemplos dessa insatisfação puderam ser observados durante a Rebelião Tupac Amaru (1780/Peru) e o Movimento Comunero (1781/Nova Granada).

No final do século XVIII, a ascensão de Napoleão frente ao Estado francês e a demanda britânica e norte-americana pela expansão de seus mercados consumidores serão dois pontos cruciais para a independência. A França, pelo descumprimento do Bloqueio Continental, invadiu a Espanha, desestabilizando a autoridade do governo sob as colônias. Além disso, Estados Unidos e Inglaterra tinham grandes interesses econômicos a serem alcançados com o fim do monopólio comercial espanhol na região.

É nesse momento, no início do século XIX, que a mobilização ganha seus primeiros contornos. A restauração da autoridade colonial espanhola seria o estopim do levante capitaneado pelos criollos. Contando com o apoio financeiro anglo-americano, os criollos convocaram as populações coloniais a se rebelarem contra a Espanha. Os dois dos maiores líderes criollos da independência foram Simon Bolívar e José de San Martin. Organizando exércitos pelas porções norte e sul da América, ambos sequenciaram a proclamação de independência de vários países latino-americanos.

No ano de 1826, com toda América Latina independente, as novas nações reuniram-se no Congresso do Panamá. Nele, Simon Bolívar defendia um amplo projeto de solidariedade e integração político-econômica entre as nações latino-americanas. No entanto, Estados Unidos e Inglaterra se opuseram a esse projeto, que ameaçava seus interesses econômicos no continente. Com isso, a América Latina acabou mantendo-se fragmentada.

O desfecho do processo de independência, no entanto, não significou a radical transformação da situação socioeconômica vivida pelas populações latino-americanas. A dependência econômica em relação às potências capitalistas e a manutenção dos privilégios das elites locais fizeram com que muitos dos problemas da antiga América Hispânica permanecessem presentes ao longo da História latino-americana.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

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Quando Napoleão Bonaparte resolveu atacar a Espanha em 1808, a maioria do povo da distante América espanhola não sabia que esse ato iria interferir diretamente em seu destino. E não se trata de defender a teoria popular do chamado efeito borboleta, segundo a qual o bater de asas de uma borboleta aqui pode causar um tufão do outro lado do mundo.

Mas a verdade é que alguns acontecimentos do final do século 18 que repercutiam na Europa influenciaram diretamente as lutas pela independência das colônias espanholas da América, em que pese o tempo que as informações gastavam para se deslocar de um continente a outro.

Entre esses acontecimentos, devem ser lembrados especialmente a Revolução Industrial na Inglaterra, a Independência das 13 Colônias Inglesas, a Revolução Francesa, as Guerras Napoleônicas e, na América Central, a Independência do Haiti: todos eles, a seu modo, movimentos deflagradores de uma nova consciência social.

O contexto da luta

Os criollos eram a elite americana descendente de espanhóis, excluída dos altos cargos dirigentes, embora constituíssem a classe dos grandes proprietários de terras, dos arrendatários de minas, dos comerciantes e dos pecuaristas. Manifestavam suas insatisfações desde meados do século 18 e, influenciados pelo Iluminismo, iam forjando aos poucos um nacionalismo contrário ao domínio espanhol.

A Guerra de Independência dos Estados Unidos serviu de exemplo para os colonos latino-americanos, pois, pela primeira vez, colônias da América lutaram por sua independência e foram bem-sucedidas. Traduções de textos e transcrições de discursos dos "pais da independência" dos EUA circulavam por toda a América colonial, fomentando ainda mais a revolta dos criollos contra a coroa espanhola.

A posição da Espanha nesse conflito, a favor da independência dos colonos ingleses, foi uma contradição inusitada, pois o apoio às ideias liberais dos colonos da América do Norte chocava-se com a administração monopolista sustentada nas colônias americanas.

O "imbróglio diplomático"

A Espanha, nessa época, vivia uma situação diplomática difícil. Desde que a família Bourbon, de origem francesa, assumiu o trono espanhol em 1700, as coroas dos dois países fizeram alianças, chamadas de Pactos de Famílias, para garantir a concorrência de ambas diante do crescente poderio econômico britânico. Tais alianças eram uma resposta à Inglaterra, que nessa época dava início à Revolução Industrial, e buscava ampliar o mercado consumidor para seus produtos.

Diante dessa situação, quando se iniciou a Guerra de Independência dos Estados Unidos, França e Espanha viram-se obrigadas a apoiar os colonos rebeldes, o que só fez aumentar a insatisfação dos colonos latino-americanos, que não entendiam como a Espanha podia, ao mesmo tempo, ser a favor e contra a liberdade colonial.

A Revolução Francesa também se tornou um marco no processo de independência da América espanhola por vários fatores. Primeiro, por divulgar a liberdade, a igualdade, o constitucionalismo, o republicanismo, ideais fundamentais nos discursos dos líderes criollos. Mesmo que muitos deles vissem no radicalismo dos jacobinos um exemplo perigoso, que poderia levar as massas de trabalhadores - indígenas, mestiços, negros e mulatos - a lutarem também por seus direitos.

Confirmando esse receio, quando ocorreram as guerras pela Independência do Haiti, as elites coloniais conheceram quão poderosas eram as ideias de liberdade e igualdade anunciadas pela Revolução Francesa, mas também o grau de agressividade liberado numa rebelião de grupos explorados. Os criollos, que temiam mais do que tudo as rebeliões populares, tiveram então de organizar sua luta pela independência colonial, ao mesmo tempo em que submetiam as massas populares, garantindo, assim, a manutenção dos seus privilégios.

Quando, em 1791, o rei Luís 16 foi deposto pela Revolução Francesa, a Espanha se uniu à Grã-Bretanha numa coalizão contra a França, mas foi derrotada e obrigada a assinar, em 1795, o Tratado da Basileia, abrindo caminho para uma nova aproximação entre espanhóis e franceses, consolidada um ano depois pelo Tratado de Santo Ildefonso.

A aliança com a França foi uma catástrofe para os espanhóis. A derrota dos franceses e seus aliados em Trafalgar, em 1805, aniquilou a marinha espanhola, dificultando a comunicação entre a Espanha e suas colônias da América. Ao mesmo tempo, a maciça presença de militares franceses em solo espanhol fragilizou a coroa, a ponto de Napoleão Bonaparte forçar a abdicação do rei Carlos 4º e de seu filho Fernando 7º, e impor seu irmão, José Bonaparte, como rei da Espanha.

Em reação às exigências de Bonaparte e ao domínio francês, formaram-se Juntas Governativas a favor de Fernando 7º, que imediatamente passaram a instigar os colonos hispano-americanos a fazerem o mesmo. Essa estratégia foi eficaz, pois quando Napoleão enviou representantes para a América, com o intuito de convencer os colonos a apoiarem o novo governo, estes se mantiveram fiéis ao rei espanhol deposto.

Em guerra com a Inglaterra, a França não conseguia estabelecer controle sobre a América. Percebendo isso, Napoleão mudou de estratégia, passando a incentivar a independência hispano-americana.

1808 a 1814: as Juntas Governativas

As Juntas Governativas, formadas a partir dos cabildos (assembleias) americanos, apesar de jurarem fidelidade a Fernando 7º, na prática constituíam governos autônomos. Em muitas colônias americanas a rivalidade entre criollos e chapetones se ampliou, ocasionando inúmeras rebeliões. Os criollos, então, foram se organizando aos poucos, para poderem governar os cabildos e expulsar os espanhóis de seus territórios, ao mesmo tempo em que submetiam as rebeliões populares.

Sem a fiscalização metropolitana, o contrabando aumentou e os navios ingleses e estadunidenses passaram a suprir os mercados coloniais. Os criollos, conscientes de sua autonomia política e econômica, além de fortemente inspirados pela Declaração de Independência dos Estados Unidos e pela Declaração dos Direitos do Homem, iniciaram suas lutas pela liberdade, até que, em 1810, a Venezuela, a Argentina, a Colômbia, o México e o Chile se declararam independentes.

A restauração dos Bourbons e a reação americana

Em 1813, ao recuperar o trono espanhol, Fernando 7º buscou restabelecer a ordem absolutista espanhola e revogou toda e qualquer lei promulgada pelas Juntas Governativas. Essa orientação passou a valer tanto na Espanha, com a revogação da Constituinte Cortes de Cádis, quanto na América, e deu início a um processo de perseguição aos liberais que restabeleceu, inclusive, a Inquisição.

Na América, a política de perseguição de Fernando 7º só fez inflamar ainda mais as revoltas, que a essa altura já aconteciam em diferentes pontos do continente.

Os colonos, entretanto, não agiam de forma conjunta, inclusive porque as elites criollas tinham interesse em se manter senhoras de suas próprias regiões. A imensidão do território americano, o isolamento dos povoados e suas características geográficas distintas contribuíram para que cada colônia adotasse estratégia diferente na guerra contra os espanhóis.

Não perdurou muito essa situação, e a partir de 1825, com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos, interessados que estavam na abertura de novos mercados, grande parte da América já era composta por países independentes.

    Qual era a situação das colônias na época da crise do Império Espanhol?

    O IMPÉRIO ESPANHOL EM CRISE Entre 1808 e 1824 – um tempo relativamente curto –, o Império espanhol na América desmoronou e, em seu lugar, se formaram quase duas dezenas de países independentes. Os movimentos de independência que deram origem a esses novos países foram motivados por fatores internos e externos.

    O que foi a crise do Império Espanhol e suas consequências nas colônias espanholas?

    No período das grandes navegações e início do colonialismo, a Espanha foi uma grande potência ao lado de Portugal, cujo modelo econômico e concepção de riqueza era o mercantilismo e o acúmulo de metais preciosos. Um dos grandes motivos para a crise do império espanhol foi a mudança no cenário econômico.

    O que foi o império colonial espanhol?

    Esta estrutura histórico-geográfica começa em 1492 com a conquista de Granada e ataques ao Magrebe, a criação do reino unificado de Espanha, a chegada de Colombo à América e suas sucessivas viagens até 1502 ao serviço dos Reis Católicos.

    Como foi o Império Espanhol?

    O Império Espanhol foi descrito como o primeiro império global da história, uma descrição também dada ao Império Português. Foi o império mais poderoso do mundo entre o século XVI e a primeira metade do XVII, atingindo sua extensão máxima no XVIII. Foi o primeiro a ser chamado de "o império no qual o Sol nunca se põe".