Diferença de votos entre trump e hillary

Desde 2016, se tornou impossível falar em pesquisas sem citar a eleição americana. O pleito de quatro anos atrás nos Estados Unidos terminou com a vitória do então outsider Donald Trump, um magnata que fez carreira em Nova York, contra a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, esposa do ex-presidente Bill Clinton.

Naquela ocasião, nenhum modelo estatístico relevante dava mais chance de vitória a Trump do que a Hillary. Um dos mais "conservadores" na época, o do site FiveThirtyEight, apontava cerca de 30% de chance de vitória para Trump. Hoje, calcula ainda menos, 10% de chance.

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As pesquisas também mostravam a democrata vencendo nos estados que precisava -- embora, neste caso, com uma vantagem menor ou mesmo dentro da margem de erro.

Hillary terminou de fato vencendo no voto popular (por 48% a 46% dos votos de Trump, ou 3 milhões de votos a mais), o que seria o suficiente para ganhar num modelo como o do Brasil. Mas a democrata perdeu no colégio eleitoral, isto é, não venceu uma quantidade suficiente de estados porque perdeu nas regiões decisivas, algo que as pesquisas não previram.

Neste ano, Biden tem quase oito pontos de vantagem na média nacional das pesquisas do Real Clear Politics (51% a 43% para Trump) e aparece ganhando nos estados que importam. A vantagem nas pesquisas vai se concretizar desta vez? Analistas apontam que há algumas lições aprendidas desde 2016 que fizeram as projeções melhorarem.

1 - Há mais pesquisas nos estados

Os Estados Unidos, na prática, têm 50 eleições diferentes, uma em cada estado, e as pesquisas precisam refletir esse cenário. As pesquisas nacionais em 2016 não estavam fora da curva -- afinal, Hillary de fato venceu no voto popular.

O problema foi em estados específicos e mesmo em algumas regiões dentro dos estados. Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto de pesquisa de opinião pública, e pesquisador na Universidade George Washington, explica que, neste ano, aumentou o número de institutos de pesquisa nos estados, sobretudo os do Meio-Oeste, que deram a vitória a Trump em 2016.

"Os EUA sempre tiveram mais oferta de pesquisa do que no Brasil, onde há poucos institutos. Ainda assim, neste ano há ainda mais gente fazendo pesquisa regional", diz Moura, que vem rodando pesquisas sobre a eleição nos EUA em parceria com a Exame Research, casa de análises de investimentos da EXAME.

Em 2016, as maiores surpresas entre os estados foram no Wisconsin e na Pensilvânia -- Trump venceu nos dois por só um ponto percentual, mas Hillary liderava as pesquisas por mais de seis pontos percentuais na véspera da eleição. No Michigan, Trump também ganhou com só 11.000 votos de vantagem, uma margem muito pequena. Neste ano, com mais pesquisas, a tendência é que movimentos nesses lugares estejam sendo melhor captados nas sondagens.

2 - O eleitor de Trump estará mais representado

Os eleitores dentro de um mesmo estado divergem, e essas desavenças foram cruciais em 2016. Mesmo na super democrata Califórnia, onde Trump teve na última eleição a pior votação para um republicano desde 1924, o presidente levou 4 milhões de votos e ganhou em mais de 15 condados, as regiões dentro de cada estado.

É claro que, pelo sistema eleitoral americano, os votos dos trumpistas californianos praticamente não valem, porque quem ganhar no estado leva sozinho todos os 55 votos da Califórnia no colégio eleitoral (entenda o colégio eleitoral neste episódio do podcast EXAME Política).

Diferença de votos entre trump e hillary

Eleitores votando antecipadamente em Iowa: quase 4 milhões de pessoas já votaram nos EUA (Rachel Mummey/Bloomberg)

Mas o desafio é que, em alguns estados, há um número mais igualitário entre conservadores e progressistas, e por isso eles se tornam decisivos e mais difíceis de prever. Na prática, isso acontece porque há mais paridade entre eleitores de regiões mais rurais ou mais urbanas ou mais ou menos escolarizados.

Em 2016, Trump venceu sobretudo entre brancos, fora dos grandes centros urbanos e entre pessoas sem Ensino Superior da classe média, muitos com pautas comportamentais (como restrição à imigração ou ao aborto) e questionando a falta de empregos em alguns setores da indústria americana.

O voto dos eleitores menos escolarizados foi subrepresentado nas pesquisas de 2016, segundo apontaram os próprios institutos após o resultado.

O problema nas pesquisas foi que muitas dessas pessoas não estavam no radar, porque costumavam não votar antes. Grupos como os de escolaridade mais baixa foram subrepresentados porque não votavam na proporção que votaram na eleição passada. O veredicto é de um artigo posterior à eleição, do American Association for Public Opinion Research, escrito pelos próprios especialistas em pesquisa dos EUA.

Agora, as pesquisas estarão de olho neste cenário. "Trump levou para as urnas um grupo que não costumava sair para votar. Uma das dificuldades nas pesquisas de 2016 foi identificar esse grupo”, diz Moura. “Nos EUA, as pesquisas ainda têm de medir não só em quem o eleitor planeja votar, mas a chance de a pessoa de fato sair para votar”.

3 - Trump não é mais um desconhecido

As pesquisas de 2016 nos Estados Unidos também trouxeram desafios muito maiores do que a simples matemática metodológica das sondagens. A eleição daquele ano foi a primeira de Trump, então um outsider, e cuja base eleitoral era ainda pouco estudada, o que levou aos problemas nos itens 1 e 2. Quatro anos depois, tudo isso já estará no radar -- assim como a grande participação das redes sociais, das fake news e a polarização eleitoral recorde.

Quanto mais previsibilidade política, melhor para as pesquisas. O mesmo pode valer para mudanças eleitorais no Brasil ou em outros lugares do mundo -- como no referendo do Brexit, em que a saída da União Europeia venceu também de forma inesperada.

Pesquisas em todos os momentos podem errar, mas é raro que saiam tanto dos trilhos. Mesmo no Brasil, às vésperas das eleições municipais, é mais comum encontrar pesquisas que caminhem para um mesmo norte, ainda que de institutos diferentes ou com metodologias diversas -- presencialmente ou por telefone, por exemplo.

“É como se pegassem uma sopa grande, misturassem o sal e só uma amostrinha daquela sopa vai provar se está bom ou não. É como funcionam as pesquisas”, diz a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Estudos Eleitorais, Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa) na Uerj.

Botelho aponta que sempre houve erros em pesquisas, mas que eles são marginalmente pequenos, incluindo no Brasil. "Uma pesquisa de 1.000 e poucas pessoas é uma amostra pequena perto da complexidade da população. Uma pesquisa eleitoral é diferente do modelo que é usado em um censo como o do IBGE, por exemplo. Mas, se for comparar, há mais acertos do que erros", diz.

4- Há menos indecisos e não houve um grande escândalo

Em 2016, o escândalo dos e-mails de Hillary Clinton virou destaque na campanha. O ápice da história veio a duas semanas da eleição: o então diretor do FBI, James Comey, enviou uma carta ao Congresso em 28 de outubro dizendo que revisaria novos e-mails que Clinton manteve em seu servidor privado (logo, fora da inspeção da inteligência americana), pois poderiam conter evidências contra a ex-secretária.

Foi só um dia antes da eleição, marcada para 9 de novembro, que o FBI declarou que os e-mails não tinha conteúdo comprometedor. Àquela altura, o escândalo já estava feito. Até hoje, democratas acusam Comey de ter interferido na eleição.

O FiveThirtyEight estima que Hillary pode ter perdido de um a três pontos percentuais de última hora devido ao caso -- como no Wisconsin, no Michigan ou na Pensilvânia, a democrata perdeu a eleição por menos de um ponto, os votos perdidos pelo caso dos e-mails podem ter sido cruciais.

Neste ano, apesar das tentativas de implicar o filho de Biden, Hunter Biden, com uso de influência americana na Ucrânia, nenhum escândalo de fato colou no ex-vice-presidente.

Além disso, em 2016, a duas semanas da eleição, 15% dos eleitores estava indeciso, e boa parte deste grupo pendeu para Trump de última hora, algo que as pesquisas não conseguiram acompanhar, somado aos outros problemas de representação. Neste ano, o valor era de menos de 10%, um dos menores da história. Ficou mais difícil para os candidatos fazer o eleitorado mudar de ideia, mas há menos chance de surpresas.

Moura afirma também que a internet faz com que novos escândalos rapidamente ganhem tração, mais do que antigamente. É algo ao qual tanto pesquisas quanto analistas políticos e marketeiros de campanha vêm tentando se adaptar, sobretudo nos últimos cinco anos.

5- Uma pandemia no meio do caminho

Há quatro meses, quando fez a primeira previsão sobre a eleição deste ano, o estatístico Nate Silver, do FiveThirtyEight, um dos mais renomados nas projeções eleitorais nos EUA, deu 30% de vitória para Trump (maior que os 10% que têm hoje). Silver apontou em artigo que as chances de Trump ainda poderiam aumentar caso a pandemia fosse amenizada até novembro, os empregos voltassem ou uma vacina fosse confirmada.

Nenhuma dessas coisas aconteceu. Em alguns países, a pandemia fortaleceu a popularidade dos líderes locais, mas é difícil dizer que o mesmo aconteceu com Trump. A economia americana até começou a se recuperar no terceiro trimestre (com crescimento de 7,4%, do PIB divulgado nesta semana, que Trump comemorou no Twitter), puxada por um pacote de 3 trilhões de dólares de estímulos. Mas um novo estímulo não conseguiu ser negociado no Congresso antes da eleição, há 11 milhões a menos de pessoas empregadas do que no começo da pandemia e a economia deve sofrer com uma segunda onda de covid.

As medidas pessoais do presidente também podem ter atrapalhado. Nas pesquisas Exame/IDEIA nos estados decisivos, há mais gente que rejeita a atuação de Trump na pandemia do que eleitores de Biden. Mais ainda, na Carolina do Norte, por exemplo, pesquisa Exame/IDEIA mostrou que alguns eleitores desistiram de votar em Trump depois de o presidente pegar covid-19 e fazer pouco caso do assunto. Vale lembrar que, antes da pandemia, a popularidade do presidente era mais alta. Se não atrapalhou enormemente Trump, a pandemia, definitivamente, não ajudou.

6 - O voto pelo correio é uma novidade

Na outra ponta, um desafio das pesquisas neste ano foi medir o voto pelo correio. As sondagens mostram que Biden ganha de lavada entre quem pretende votar à distância nos estados decisivos. O problema é que parte desses votos podem não ser contabilizados por algum erro ou incorreção nos registros, entre outros fatores -- algo com o qual os democratas vêm se preocupando.

Em estados onde alguns milhares de votos podem fazer a diferença, perder votos pelo correio (votos majoritariamente democratas) pode ser um problema que as pesquisas ainda terão dificuldade em contabilizar.

O voto pelo correio ou antecipado já existia nas eleições anteriores, mas nunca nesta proporção: um terço dos eleitores já votaram antes da data oficial.

É um cenário sem precedentes. Nunca na história recente os institutos de pesquisa tiveram de fazer sondagens em meio a uma pandemia. "É difícil dizer como esses votos pelo correio vão se traduzir, e o quanto vai ser perdido", diz Moura. Por outro lado, para as pesquisas, há uma boa notícia: o comparecimento deve ser o maior em um século, o que aumenta a amostra de pessoas efetivamente indo votar, em ambos os lados políticos.

Se vencer em apenas alguns dos estados importantes, Trump pode ser reeleito, uma hipótese que nem de longe as pesquisas descartam, sobretudo diante do formato eleitoral americano. Mas as chances do presidente estão de fato menores do que em 2016.

O que aconteceu nas eleições dos EUA em 2016?

Donald Trump, o candidato republicano, foi o vencedor da eleição. Mapa dos resultados por estado. Em vermelho, os estados vencidos por Trump/Pence e em azul, os estados onde venceu Clinton/Kaine. Os números indicam a quantidade de votos no Colégio Eleitoral que cada estado garante ao vencedor.

Quem concorreu com Donald Trump?

O ex-vice-presidente democrata Joe Biden derrotou o presidente republicano Donald Trump. A senadora Kamala Harris se tornou a primeira mulher a ser eleita vice-presidente.

Quem concorreu às eleições dos Estados Unidos com John Kennedy?

Os principais candidatos para a nomeação presidencial democrata de 1960 foram John F. Kennedy, o senador Wayne Morse de Oregon, o senador Lyndon B. Johnson do Texas, o senador Hubert Humphrey de Minnesota, o senador Stuart Symington de Missouri, o governador Edmund G.

Quem é o presidente dos Estados Unidos em 2014?

Barack Hussein Obama II (Honolulu, 4 de agosto de 1961) é um advogado e político norte-americano que serviu como o 44.º presidente dos Estados Unidos de 2009 a 2017, sendo o primeiro afro-americano a ocupar o cargo.