Desde cedo as crianças convivem com fenômenos naturais e sociais. Curiosas, querem descobrir e decifrar o mundo que as cerca, saber como as coisas se transformam, por que acontece isso e não aquilo. Conheça mais sobre o que e como as crianças pensam as manifestações da natureza nesta conversa com Luciana Hubner, formadora do Crecheplan, consultora do MEC e assessora de prefeituras.Luciana Hubner, bióloga especialista no ensino de ciências, diz que conhecimentos ligados à física
e à química também interessam às crianças pequenas. Diz ainda que o professor deve se preocupar mais com as perguntas do que com as respostas das crianças e que sua função é, antes de Show Veja a análise que ela faz de como deve ser o trabalho com ciências na educação infantil e suas orientações para a elaboração de projetos didáticos. avisa lá: Até que ponto uma criança pequena pode realmente compreender conceitos das ciências? Luciana: Os conceitos científicos são diferentes das representações elaboradas pelas crianças. Isso faz com que, muitas vezes, se avalie que as crianças não
aprenderam ou aprenderam mal, o que causa preocupação ou avisa lá: É comum, numa discussão sobre assuntos ligados a ciências, crianças bem pequenas afirmarem Luciana: As crianças têm uma visão de natureza ordenada, em que as coisas estão integradas e nada acontece por acaso. Quando se deparam com algo que quebra esta
ordem e para a qual não têm explicação, recorrem a explicações fantasiosas que expressam um outro jeito de ver e explicar o mundo. Isso muitas vezes não é compreendido por nós, adultos, que já conhecemos as explicações da ciência. De fato, existem maneiras diferentes de pensar o real, retratadas tanto nos mitos como nos modelos científicos. A diferença central é que no caso da ciência há apenas avisa lá: Você quer dizer que o pensamento infantil por vezes nos lembra o pensamento mitológico? Luciana: Sim. E lembra mais ainda. Muitas das explicações que as crianças nos dão remetem a outras nas quais grandes pensadores da humanidade acreditaram por um longo tempo, como: achar que ao caminhar a Lua nos segue, que a Terra fica parada porque, caso contrário, as coisas sairiam ou cairiam de seu lugar. O ensino de conteúdos relacionados às ciências, no que diz respeito às crianças pequenas, deve se preocupar com as perguntas, as hipóteses e as relações que elas estabelecem com o objeto de estudo, e não apenas com a obtenção de respostas prontas, esperadas. O problema daquele que ensina passa a ser, então, o de descobrir como as crianças constroem uma determinada explicação para um fenômeno. avisa lá: As crianças gostam muito de mexer, fazer experiências, misturar coisas, ver sair fumaça etc. Qual a importância das atividades exploratórias na aprendizagem de ciências? Luciana: Antes é importante distinguir entre atividades manipulativas e atividades exploratórias. As manipulativas se referem ao movimento, tão somente. Já as exploratórias pressupõem seqüências de ações mais complexas. Algumas práticas acreditam que a gênese do conhecimento esteja na ação direta que a criança realiza sobre os objetos. Por exemplo, se desenvolve noções de peso pesando objetos e, da mesma forma, noções de elasticidade esticando molas. A idéia piagetiana não é essa – embora tenha sido mal interpretada pelos que põem a ênfase na realização de atividades manipulativas mais do que na organização de situações que facilitem a construção de conhecimentos. Para aprender não é suficiente apenas manipular mecanicamente mas, sim, explorar refletindo, estabelecendo relações. avisa lá: Isso muda o caráter das atividades de exploração. Como você as vê? Luciana:
Numa perspectiva construtivista não se espera que, só por meio do trabalho prático, o aluno descubra novos conhecimentos. A principal função das experiências é, com a ajuda do professor e a partir das hipóteses e conhecimentos anteriores das crianças, ampliar seu conhecimento sobre os fenômenos naturais e fazer com que esses conhecimentos se relacionem com sua maneira de ver o mundo. Nesta proposta, o experimento tem função de gerar uma situação problemática, ultrapassando a simples avisa lá: Você está dizendo que as crianças pensam, elaboram hipóteses, exploram, explicam etc. e que não é objetivo na educação infantil buscar respostas prontas e certas. Então qual deve ser o trabalho? Luciana: Para uma criança aprender os conteúdos relativos às ciências é preciso que ela continue pensando sobre os fenômenos e seja estimulada e encorajada a desenvolver”teorias” sobre eles, a estabelecer relações, buscar a diferenciação existente entre mitos, lendas, explicações provenientes do senso comum e conhecimentos científicos. O trabalho na creche ou na escola deve, então, ser voltado à ampliação
das experiências que as crianças já possuem e Observar as plantas pode ser uma atividade interessante e desafiadora avisa lá: O que o professor pode fazer para ajudar as crianças nessa aproximação? Luciana: Sua função será a de sistematizar os conhecimentos gerados não no sentido de dar “a resposta final”, mas continuar alimentando a postura investigativa. Ele pode aproveitar situações do dia-a-dia, de parque ou sala de aula e propor problemas às crianças. Porém, isso apenas não basta. É preciso ainda propor ou intervir em situações cotidianas que levem o grupo à ação reflexiva, não objetivando a recitação de nomes difíceis ou respostas prontas, mas sim o pensamento, o levantamento de hipóteses interpretativas e explicativas. O trabalho não pode parar quando a criança resolve a experiência: o professor deve ajudar seu grupo a pensar, explicar, tomar consciência de como aquilo foi resolvido. Diante das soluções encontradas pelas crianças, deve argumentar com novas idéias e contra-exemplos. avisa lá: Como saber o que as crianças conhecem sobre a natureza e a sociedade? Luciana: Conhecer um grupo específico de crianças não é mais importante do que conhecer profundamente a faixa etária e a natureza do objeto de estudo. Com esses conhecimentos o professor pode levantar hipóteses a respeito do que as crianças podem saber sobre um dado assunto. Esta antecipação lhe possibilita fazer inferências e planejar seu trabalho antes do início do ano escolar, reajustando-o durante seu desenvolvimento. No planejamento do projeto é fundamental que o professor pense numa atividade inicial que tenha como função evidenciar os conhecimentos prévios de seus alunos. Ao contrário do que muitos pensam, essa atividade não serve só ao professor, para que leia aquilo que seus alunos sabem antes de planejar seu trabalho. Um dos objetivos, e arriscaria dizer que o principal, é favorecer a tomada de consciência por parte dos alunos. É uma atividade de aprendizagem também. avisa lá: Como isso é feito na prática? Luciana: É interessante que essa atividade requisite das crianças uma participação ativa, que possam colocar em jogo tudo o que sabem para tentar resolver o problema que lhe foi posto. Sendo assim, propostas do tipo “perguntar o que sabem sobre …” não são as melhores para este fim. Pode-se correr o risco de tomar a timidez de uma criança como falta de conhecimento ou, talvez, tomar a voz dos mais desinibidos como o saber do grupo. Se o estudo é sobre flutuação, por exemplo, pode-se colocar à disposição das crianças vários objetos, que flutuem e não flutuem, papel, papelão, papel laminado, plástico, garrafas descartáveis, madeira, argila etc. Solicitar que escolham um deles para construir um barquinho e que justifiquem sua escolha. O professor deve observar, ouvir as crianças e pensar que relações estabelecem com o tema, sem reduzi-las ou simplificá-las, de forma a promover o avanço na aprendizagem. avisa lá: Existem temas mais adequados ou mais importantes relativos à natureza e à sociedade, na educação infantil? Luciana: Esta é uma pergunta que escuto com muita freqüência. Ainda hoje
encontramos experiências de trabalho nas quais o ensino de ciências é pensado de forma propedêutica: “nesta idade é importante estudar isso, pois futuramente ele irá precisar para…”. Não há temas nem mais nem menos importantes. O que os torna mais ou menos interessantes é o tratamento dado a eles, para cada faixa etária. E é só o professor quem pode determinar isso, pois esta escolha está intrinsecamente ligada ao contexto em que o grupo está inserido, à instituição e à comunidade com a qual
trabalha. Costumo brincar que todo professor sonha acordar e encontrar na mesinha de cabeceira um rol Determinar temas não é tarefa difícil, pois como já disse as crianças se interessam por uma variedade de assuntos. A questão não é saber quais ensinar, mas sim quais são as atividades que favorecem sua aprendizagem. E isso está intrinsecamente ligado à intencionalidade do professor, ao que ele quer que suas
crianças aprendam. Ele precisa se perguntar o que, do assunto proposto, quer avisa lá: Pela sua experiência, qual ou quais são os assuntos ou temas mais recorrentes? As crianças podem conviver com os animais e aprender muito sobre eles Luciana: O ensino de ciências na educação infantil, hoje, ainda é factual. Em geral, é o professor quem descreve os fatos e as atividades giram em torno dele. Poucas vezes se vê um trabalho mais conceitual ou
procedimental. Os estudos sobre seres vivos, de maneira geral, são os mais comuns. Os que envolvem conceitos da física e da química, por exemplo, são raros. Isso é fruto da representação que os professores têm da área, o que os leva a reproduzir velhos modelos, como os tradicionais estudos de mamíferos, estruturados da seguinte forma: quem são, o que comem, onde moram, como se reproduzem, como vivem. Ou a abordagem de temas muito amplos como as plantas, a alimentação etc. Não fica claro, nem
para o professor nem para as crianças, o que se vai ensinar e aprender. Modelos como estes não possibilitam às crianças refletir a respeito das coisas que as cercam. Esta prática limita-se à transmissão de certas noções relacionadas avisa lá: As crianças menores, de 3 a 4 anos, costumam se envolver muito nos projetos que visam o estudo dos bichos. Por que isso faz tanto sucesso? Luciana: Quanto menores forem as crianças, mais suas representações e noções sobre o mundo estão associadas diretamente aos objetos da realidade conhecida, observada e vivenciada. Querem entender as coisas que avisa lá: Trabalhar assuntos relacionados à física e à química não é muito abstrato, desinteressante para as crianças? Participar de atividades de culinária possibilita conhecer mais sobre misturas e transformações Luciana: O estudo de temas ligados à física, química ou biologia são muito importantes porque ampliam o conhecimento das crianças em relação a fatos e acontecimentos da realidade, necessários para a construção de uma visão de mundo. Significa muito mais do que aquisição de alguns conceitos. Mesmo assim, há quem acredite que as avisa lá: Como o professor deve iniciar o trabalho? Luciana: A primeira decisão do professor é o recorte do tema escolhido. É ele quem direciona as atividades e propõe as primeiras perguntas. Depois, é importante que pense qual será
o problema a ser colocado para as crianças, a questão central do trabalho. Diria que um instrumento avisa lá: O que são boas perguntas? Luciana: A boa pergunta não está pronta, no campo das avisa lá: Dê alguns exemplos que você tenha encontrado na sua prática. Luciana: É comum encontrarmos trabalhos voltados para avisa lá: Diga, resumidamente, quais são as principais orientações a que o professor deve estar atento ao propor projetos na área de ciências? Luciana: Focarei as principais:
Para saber mais
Contatos com Luciana Hubner Este conteúdo faz parte da Revista Avisa lá edição #6 de abril de 2001. Caso queira acessar o conteúdo completo, compre a edição em PDF ou impressa através de nossa loja virtual – http://loja.avisala.org.br O que é o mundo natural e social?Mundo natural é aquele que, pertence exclusivamente à Natureza e é formado de “produtos” livres de intervenção humana. O mundo cultural é formado por produtos “resultantes” da ação humana. Desde a machadinha, barraco e até a linguagem, são produtos culturais.
Qual é o principal objetivo do conhecimento do mundo natural e social?- Orientar o planejamento de projetos de exploração e investigação do mundo social e natural. - Garantir a participação ativa das crianças em diferentes situações de pesquisa. - Exploração de fenômenos, observação e registro, estudo de imagens e leitura de textos.
O que se trabalha em natureza e sociedade na Educação Infantil?Na Educação Infantil, o trabalho com o eixo: Natureza e Sociedade deve propiciar experiências que possibilitem uma aproximação ao conhecimento das diversas formas de representação e explicação do mundo social e natural, para que as crianças possam estabelecer progressivamente a diferenciação que existe entre as ...
O que é conhecimento de mundo na Educação Infantil?O movimento permite à criança conhecer o seu corpo e agir sobre o meio físico, interagindo com o mundo à sua volta. Ao nascer a criança se movimenta e, dia após dia, vai adquirindo controle do seu corpo, bem como interagindo com o mundo ao seu redor.
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