Como Santo Agostinho explica a realidade humana

Santo Agostinho

Santo Agostinho foi uma das principais figuras que mesclou filosofia grega com as tradições religiosas judaica e cristã. Um dos mais importantes filósofos medievais, seus ensinamentos influenciaram Descartes e continuaram a exercer sua influência até os dias de hoje.

Filósofo e teólogo, Santo Agostinho é considerado um dos pais do pensamento moderno cristão ocidental. Seus ensinamentos criaram um sistema teológico poderoso e de influência duradoura. Santo Agostinho tentou munir a fé de argumentos racionais, buscando uma conciliação entre o cristianismo e a filosofia grega.  

Ele é considerado o pai da teologia ortodoxa e o maior dos quatro grandes Padres da Igreja Latina (junto com Santo Ambrósio de Milão, São Jerônimo de Estridão e o Papa São Gregório Magno). O conjunto das obras dos Padres da Igreja é denominado Patrística.

As contribuições de Santo Agostinho à Filosofia foram enormes. Sua obra é vasta. Portanto, estudaremos nesta aula apenas algumas de suas ideias.

Sua Vida

Aurelius Augustinus, mais conhecido como Santo Agostinho, nasceu no ano 354, em Tagaste (hoje, Argélia). Seu pai era um pagão, mas sua mãe, Mônica, era uma católica devota que o educou como católico. Mais tarde, ele se converteu formalmente ao catolicismo. A mãe de Agostinho é reverenciada como uma santa cristã.

Santo Agostinho estudou em Tagaste, Madaura e Cartago. Ele próprio revela que foi um aluno precoce e talentoso na busca por sabedoria nas áreas de Filosofia, Religião e Psicologia.

Santo Agostinho passou a maior parte de sua vida no norte da África. Dos seus 75 anos de vida, viveu apenas quatro em Roma e Milão, que eram as capitais políticas e intelectuais da época. Seus anos na Europa exerceram uma influência inestimável em sua forma de pensar.

Antes de se converter ao cristianismo, no ano de 386, Agostinho se sentia atraído pelo Maniqueísmo e Neoplatonismo.

Maniqueísmo:  filosofia religiosa dualista que divide o mundo entre os princípios do bem e do mal. Considera que a matéria é intrinsecamente má e que a alma e mente são intrinsecamente boas. Revela influências de outras religiões:  judaísmo, cristianismo e zoroastrismo.

Neoplatonismo é uma escola de filosofia religiosa e mística baseada nos ensinamentos de Platão e de outros Platonistas. O Neoplatonismo tentou reconciliar a doutrina cristã com as filosofias clássicas das sociedades grega e romana.

Por volta do ano 370, Agostinho iniciou uma relação monógama, que durou 13 anos, com a mãe de seu filho, Adeodato, que nasceu em 372. Ele ensinou Retórica em Tagaste e Cartago. Em 383, mudou-se para Roma para ensinar Retórica. Mais tarde, foi morar em Milão, onde foi introduzido às obras do Platonismo.

Nessa época, a mãe de Agostinho queria que o filho se casasse com outra mulher – um casamento arranjado, que beneficiaria sua carreira. Atendeu aos desejos da mãe e se separou da mãe de seu filho.

No verão de 386, Agostinho se converteu oficialmente ao catolicismo. Ele abandonou sua carreira no campo da Retórica e sua posição como professor em Milão e desistiu do casamento. Passou a se dedicar integralmente ao serviço a Deus, ao clero e ao celibato. Em sua obra, Confissões, Santo Agostinho relata sua jornada espiritual. Confissões se tornou um clássico, tanto da teologia cristã como da literatura mundial.

No ano de 388, Agostinho retornou à África. Em seu caminho de volta à África, sua mãe faleceu. Seu filho, Adeodato, vem a falecer pouco depois, em 389. Com o falecimento de ambos, Agostinho não mais possuía familiares vivos. O restante de seus anos foi dedicado aos assuntos e controvérsias da Igreja.

Ao retornar à África, Agostinho se desfez de seu patrimônio, doou o dinheiro recebido aos pobres e converteu a casa de sua família em uma fundação monástica, onde ele e um grupo de amigos passaram a viver. Em 391, foi ordenado padre em Hipona, na costa mediterrânea da Argélia, e se tornou um famoso pregador. Em 396, Agostinho foi ordenado Bispo de Hipona. Ele manteve tal cargo até seu falecimento, no ano de 430. Ele trabalhava incessantemente para converter a população local à fé cristã.

Agostinho faleceu no dia 28 de agosto de 430, aos 75 anos, enquanto vândalos germânicos sitiavam Hiopona. Estes destruíram toda a cidade, com exceção da catedral e da biblioteca de Agostinho.

Sua Obra

Santo Agostinho foi um retórico, que utilizou suas habilidades para proclamar a superioridade da cultura cristã sobre a greco-romana. Ele foi uma figura central na transição da cultura greco-romana para a cristã.

Santo Agostinho legou uma imensidade de obras: mais de 100 livros, 200 cartas e aproximadamente 400 sermões.

Os ensinamentos de Santo Agostinho foram muito influenciados pelas obras platonistas. Ele afirmou que os ensinamentos platonistas ajudaram-no a conceber um mundo não físico. Tais ideias deram a Santo Agostinho a estrutura por meio da qual examinar a condição humana, fornecendo-lhe uma solução para o problema da origem do mal.

Confissões

Sua obra, Confissões, é, sem sombra de dúvida, uma das mais lidas da Filosofia medieval, tanto por filósofos como por não filosóficos.

Considerada a “primeira autobiografia” e uma “biografia espiritual”, a obra deve ser estudada de forma cuidadosa, por dois motivos. Em primeiro lugar, como toda biografia e autobiografia, é um relato da vida de um indivíduo. Em segundo lugar, é importante ressaltar que Agostinho foi treinado como retórico e, portanto, a obra contém uma certa estratégia retórica. É apresentada como uma longa oração para Deus: Santo Agostinho não está meramente relatando a história de sua vida, mas também está a usando como exemplo concreto de como uma alma individual e isolada pode se remover do estado físico e ascender espiritualmente para se unir a Deus.

O Problema do Mal

Santo Agostinho escreveu extensamente sobre o “problema do mal”. Quando Santo Agostinho se refere ao “problema do mal”, está se referindo à seguinte questão: por que há tanto sofrimento no mundo? Ele tentou resolver o dilema de como é possível viver em um mundo com tantos desafios e perigos – um mundo em que o que é mais importante para os seres humanos pode ser tão facilmente perdido.

A questão da existência de sofrimento no mundo levanta muitas perguntas teológicas. Por exemplo, como pode um Deus que é bom e Todo Poderoso ter criado um mundo com tanto sofrimento?

Santo Agostinho afirmou que Deus criou um mundo perfeito, mas que os seres humanos utilizaram seu livre arbítrio para se distanciar Dele e que foi assim que o mal adentrou o mundo. Adão cometeu o pecado original e, de acordo com Santo Agostinho, todos os seres humanos carregam a culpa por tal pecado. Por esse motivo, há o mal natural no mundo – desastres naturais como terremotos, erupções de vulcões, etc. Todos os seres humanos são, portanto, castigados pelo pecado original.

O mundo físico e o espiritual

Santo Agostinho, particularmente em suas primeiras obras, enfatiza o contraste entre o espiritual e o físico. Ele tenta persuadir o leitor a se conscientizar que é no âmbito espiritual que se encontra o que se procura no âmbito físico. Isto é, o mundo físico está sujeito ao tempo; já o âmbito espiritual é caracterizado pela eternidade. Em tal âmbito atemporal, não há o risco de perdermos o que ou quem amamos. Segundo Santo Agostinho, esse âmbito espiritual, no qual Deus é a fonte, é a única garantia de alivio duradouro da ansiedade provocada pela natureza transitória do âmbito físico.

Segundo os ensinamentos de Santo Agostinho, os conceitos de físico e espiritual são centrais para a resolução do problema do mal. Ele ensina que o mundo físico não é mau e não deveria ser considerado como tal e que o problema que aflige nossa condição como seres humanos não é que estamos presos em um mundo físico, mas que percebemos apenas o material e não estamos cientes que tal mundo representa apenas uma pequena parte de toda a realidade. Há, portanto, um problema de percepção e vontade. Esse é o erro que Agostinho atribuiu ao pecado original, cometido por Adão.

Para Santo Agostinho, os seres humanos têm a tendência de focar apenas no mundo físico, considerando-o o âmbito em que todas as questões morais devem ser resolvidas. Segundo o filósofo, o mundo físico não é por si só um âmbito de perigo moral, mas pode vir a ser se o homem não perceber que representa apenas parte de algo muito maior. O mundo físico se torna um âmbito de perigo moral quando nossas vontades são voltadas para as coisas transitórias. De acordo com Santo Agostinho, tais vontades necessariamente levam à ansiedade.

Santo Agostinho ensinava que as pessoas deveriam buscar o âmbito espiritual: deveriam se ligar a D’us – o que as realinharia ao relacionamento moral com o mundo físico. Ele ensinava que o homem deveria apreciar as benesses do mundo físico, mas direcionar sua atenção ao mundo espiritual.

A alma

Santo Agostinho acreditava que o ser humano é composto por um corpo e uma alma. Por ser uma entidade espiritual, a alma é superior ao corpo. Portanto, cabe à alma reinar sobre o corpo.

Ao lidar com a questão da alma, Santo Agostinho tenta demonstrar que a alma humana, e não Deus, é responsável pela existência do mal moral no mundo.

Santo Agostinho acreditava que estar vivo significa ter uma alma, e que a morte é o processo que leva à ausência da alma. Portanto, não apenas os seres humanos possuem uma alma, mas as plantas e os animais também. Agostinho acreditava que há categorias de corpos e almas e que uma compreensão correta a respeito da alma é necessária para compreender nossa posição moral no mundo.

Santo Agostinho apresenta a hierarquia das coisas. Primeiro, há as coisas que meramente existem. Segundo, há as coisas que existem e vivem. Terceiro, há as coisas que existem, vivem e possuem compreensão.

A visão de Santo Agostinho se assemelha à de Platão e Aristóteles. Esses filósofos discutem os diferentes níveis de alma em termos de graus de complexidade de suas capacidades. Por exemplo, há almas que têm a capacidade apenas de se alimentar e se reproduzir. Há almas que também são capazes de sentir e de se locomover. Finalmente, há almas que são capazes de pensar racionalmente.

A diferença entre a Filosofia Clássica grega e a visão de Santo Agostinho é que nem todos os filósofos clássicos gregos concordavam que a alma continuava a existir após a decomposição do corpo.

Santo Agostinho tinha interesse em demonstrar que a alma pode encontrar felicidade ao se desligar de uma relação demasiadamente ligada ao mundo físico.

O que é o ser humano para Santo Agostinho?

Agostinho concebe a ideia de homem como um ser dotado de corpo e alma. A alma, quando bem formada, pode conduzir os indivíduos à vida com sabedoria e, portanto, a uma beata vita. A vontade é o que movimenta toda as outras dimensões do ser humano e, por isso, ela deve ser bem formada.

Como Agostinho explicava o conhecimento humano e as verdades eternas?

Agostinho constatou, pois, que a felicidade somente se encontra em Deus, o Bem Supremo, e que nós temos esse conhecimento em nosso íntimo, de forma confusa. Desse modo, Agostinho estabelece uma ordem de perfeição, uma graduação ou distinção dos seres para alcançar esse conhecimento que nos levaria a uma vida beata.

Qual é a teoria de Santo Agostinho?

De acordo com Santo Agostinho a única causa geradora de todas as espécies é Deus, e todas foram feitas no momento da criação, embora algumas tenham sido produzidas apenas em potência para depois serem atualizadas.

Como Santo Agostinho de Hipona enxerga a razão humana?

A FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO Afinal, sem o intelecto o homem é incapaz de compreender as Sagradas Escrituras. Entretanto, tal como o olho necessita da luz do sol para enxergar, o ser humano necessita da luz divina para chegar ao conhecimento completo, não sendo suficiente (apesar de importante) o uso da razão.

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