Como diferenciar orações subordinadas adverbiais causais e consecutivas

Como classificar a segunda oração da frase: «O avô chegava a mentir, de tanto medo que tinha dela.», causal ou consecutiva?

Se, por um lado, a oração é marcada pelo conector tanto... que, típico das consecutivas, e pelo facto de exprimir o grau de intensidade («de tanto medo»), por outro lado, a relação de sentido entre as duas orações é de consequência - causa, sendo o medo que "o avô ... tinha dela" a causa para o facto de ele lhe mentir.

Assim, tendo em conta o facto de a oração subordinada possuir formalmente os marcadores indicativos das subordinadas consecutivas, mas evidenciar um nexo semântico causal, como classificá-la corretamente: causal ou consecutiva?

Rúben Manuel Bettencourt Professor Povoação - S. Miguel, Açores, Portugal 8K

A questão colocada é bastante interessante, apesar de não ser claro o contexto textual em que a mesma ocorre.

Não há dúvida de que a segunda oração da frase apresenta uma estrutura sintática conforme a uma oração subordinada adverbial consecutiva; no entanto, o seu valor semântico é causal. A causa e a consequência estão intrinsecamente ligadas.

Analisemos o comportamento da oração:

Como sabemos, as orações subordinadas consecutivas (e as comparativas), embora classificadas como subordinadas adverbiais  pela  gramática tradicional, não aceitam o teste da mobilidade que caracteriza todas as outras, dado estarem ligadas a um advérbio ou expressão adverbial de intensidade/grau presente na primeira oração, não podendo, por essa razão, serem demarcadas por vírgula.

Vejamos:

(i)  «A chuva foi de tal forma intensa que isolou a aldeia.»

(ii) *«A chuva foi de tal forma intensa que isolou a aldeia.»

(iii) * «Que isolou a aldeia, a chuva foi de tal forma intensa.»

Estamos perante uma frase que contém uma oração subordinada adverbial consecutiva: «que isolou a aldeia.» No entanto, poderemos obter uma oração subordinada adverbial causal,  invertendo alguns elementos da frase e substituindo o advérbio de intensidade:

(iv) A aldeia ficou isolada porque a chuva foi muito intensa.

Na frase em análise, verificamos que:

1. A frase nos é apresentada demarcada por vírgula.
    a) «O avô chegava a mentir, de tanto medo que tinha dela.»

2.  A estrutura pode  ser anteposta à oração subordinante, bem como pode aparecer intercalada, o que prova que a estrutura aceita  o teste da mobilidade, propriedade que as orações consecutivas não têm.

     b) «De tanto medo que tinha dela, o avô chegava a mentir.»

     c) «O avô, de tanto medo que tinha dela, chegava a mentir.»

3. Admite a coordenação, característica que não é fácil observar nas consecutivas:

      d) «O avô chegava a mentir, de tanto medo que tinha dela e de tanto respeito que tinha pela mãe dela.»

Assim, verificamos em 1., 2. e 3. que a estrutura «De tanto medo que tinha dela», apesar de ter uma estrutura interna equivalente a uma oração consecutiva (... tanto .... que),  evidencia  um comportamento típico das orações adverbiais (demarcação da oração subordinante por vírgula, mobilidade dentro da estrutura frásica e admissão de coordenação), propriedades não observáveis nas consecutivas e nas comparativas. Por outro lado, a interpretação da oração dentro da frase confere-lhe  valor semântico de causa e não de consequência. Estamos, portanto, perante uma  oração subordinada adverbial causal, parafraseável por e):

     e) «O avô chegava a mentir, porque tinha muito medo dela.»

A frase com oração consecutiva canonicamente correta seria f):

     f)  «O avô tinha tanto medo dela que chegava a mentir.»

É possível que em a) estejamos  perante uma liberdade gramatical de f); no entanto, a análise do comportamento sintático equipara-a a uma oração causal. 

Referência: Gramática do português, Fundação Calouste Gulbenkian, vol.II, cap.40, Lisboa, pp. 2168-2173. 

Como diferenciar causais de consecutivas?

Não há dúvida de que a segunda oração da frase apresenta uma estrutura sintática conforme a uma oração subordinada adverbial consecutiva; no entanto, o seu valor semântico é causal. A causa e a consequência estão intrinsecamente ligadas.

Como identificar uma oração subordinada adverbial consecutiva?

b) Orações subordinadas adverbiais consecutivas: exprimem uma ideia de consequência. São introduzidas por elementos intensificadores (tão, tanto, tamanho), seguidos da conjunção que ou das locuções conjuntivas de que forma, tanto que, de sorte que, de modo que. Exemplo: Ela estudou tanto que foi aprovada no concurso.

Como identificar uma oração adverbial causal?

As orações subordinadas adverbiais causais exprimem causa ou o motivo. As conjunções subordinativas adverbiais utilizadas são: porque, que, como, pois que, porquanto, visto que, uma vez que, já que, etc. Exemplos: Não fomos à festa, pois estava chovendo muito.

O que são oração subordinada adverbial consecutiva?

Orações subordinadas adverbiais consecutivas São aquelas que estabelecem sentido de consequência, efeito ou resultado em relação à oração principal.

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