A hipnose e mesmo poder damente

A hipnose, ainda hoje, é cercada de muito misticismo e desinformação, isso acontece por causa do seu passado, quando ela era mais utilizada em apresentações públicas e em produções culturais, como filmes, por exemplo. Por isso, ainda existe muita coisa que as pessoas tradicionalmente não sabem sobre a hipnose.

O Fantástico conversou com o psicólogo e presidente da Sociedade Brasileira de Hipnose Erick Heslan e com o professor de hipnoterapia Michael Arruda. Eles listaram alguns tópicos importantes para você entender melhor o assunto.

Sessão de hipnose — Foto: Diego Alves/SESP

1) O que é a hipnose?

De acordo com a American Psychological Association (APA), a hipnose é um procedimento no qual um profissional de saúde ou pesquisador sugere, ao tratar alguém, que ele irá experimentar mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou comportamento.

Embora a hipnose tenha sido amplamente questionada ao longo do tempo, hoje a grande maioria dos profissionais da saúde concordam que ela pode ser uma ferramenta terapêutica muito efetiva para várias condições físicas e emocionais, como a dor, ansiedade e os distúrbios de humor. Ela também pode ajudar as pessoas a mudar hábitos, como parar de fumar ou estabelecer uma rotina de estudos.

2) Como ela age em nosso cérebro?

As sessões de hipnoterapia geralmente são iniciadas com a anamnese, ou seja, o profissional precisa buscar conhecer o máximo possível sobre a pessoa que atenderá e a demanda dela. Esse momento é muito importante para que ele analise se de fato poderá ajudá-la, e se sim, saber quais as melhores técnicas que ele poderá usar e posteriormente executá-las.

Entenda como a hipnose age em nosso cérebro, na explicação dos autores Herbert Spiegel e David Spiegel:

1.Durante a hipnose acontece uma diminuição da atividade cerebral na área giro do cíngulo anterior, que faz parte da rede neural cerebral. Segundo estudos, é a área responsável pela manutenção da vigilância sobre nosso ambiente externo.

2.Acontece um aumento nas conexões entre o córtex pré-frontal dorsolateral e a ínsula. Essa é uma conexão cérebro-corpo responsável pelo controle do que está acontecendo em nosso corpo. Ex: regulando o quanto de dor estamos sentindo em determinada situação.

3.E também observamos conexões reduzidas entre o córtex pré-frontal dorsolateral e da rede neural em modo padrão, incluindo o pré-frontal medial e o giro do cíngulo posterior. Essa diminuição de conectividade é responsável pela desconexão entre as ações de alguém e a consciência do que está sendo feito.

3) Quando/para quem ela é indicada?

A hipnose é indicada para todas as pessoas que querem aprender a usar melhor sua mente e ter melhores resultados no campo pessoal e profissional. Hoje percebemos que muitas pessoas que procuram a hipnose chegam em uma situação grave de desespero. Já tentaram exaustivamente vários tipos de tratamentos para conseguir se livrar do seu problema. E relatam que a hipnose é a sua última tentativa. Como se a “hipnose não resolver, nada resolve”. E felizmente, muitos conseguem ter ótimos resultados com a ferramenta.

Os casos mais comuns em que a hipnose é usada e tem resultados comprovados são:

●Vícios ( álcool e outras drogas )

●Parto ( dor, depressão e ansiedade )

●Obsessões

●Compulsões

●Controle de raiva

●Depressão

●Distúrbios alimentares

●Construção de confiança

●Aumento da autoestima

●Alívio da ansiedade

●Síndrome do cólon irritável (ou síndrome do intestino irritável)

●Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)

●Medos e fobias

●O manejo da dor

●Questões sexuais

●Relaxamento

●Gagueira

●Síndrome do Pânico

●Problemas de sono

●Redução do estresse

●Perda de peso

4) Quais são os perigos desta prática? Ela pode trazer alguma coisa de ruim quando mal usada?

Recomendamos a todos hipnoterapeutas a não tratar nada com hipnose que ele não é autorizado a tratar sem hipnose. O uso da hipnose em si não oferece nenhum risco especial ou efeito colateral. O que pode acontecer é a pessoa ir buscar ajuda com um profissional despreparado, mas isso é um risco que todos estamos sujeitos a todo momento.

No caso da hipnoterapia, assim como em qualquer psicoterapia, estamos lidando com uma pessoa em sofrimento, em uma situação de maior vulnerabilidade emocional, então existe sim uma complexidade em lidar com isso, o profissional precisa ter uma maior sensibilidade e acolhimento, o que é diferente por exemplo, quando pensamos em um médico que está indo fazer uma cirurgia, o manejo é distinto mesmo, por isso acredito que o maior risco seja o profissional que é desqualificado e despreparado.

Sabendo desse cenário, a Sociedade Brasileira de Hipnose se propõe a selecionar os melhores profissionais do mercado para ter como membros na sua instituição.

Além disso, o público em geral tem disponível pelo site um buscador de terapeutas membros. Esse buscador foi desenvolvido justamente para facilitar o acesso das pessoas a um profissional qualificado e sério.Ele mostra de forma direcionada todos os profissionais membros que temos na região escolhida.

5) Existe o risco de a pessoa não sair do transe?

Sobre o risco da pessoa não sair do transe, esse é um mito muito comum na nossa sociedade. A interpretação da hipnose pelo cinema e televisão acabou por difundir muito essa concepção, mas felizmente ela está completamente errada. O “transe” na verdade, é um estado natural da nossa mente, a hipnose nos possibilita potencializar esse estado de atenção e direcioná-la para onde queremos, mas isso depende necessariamente do interesse e engajamento da pessoa, não há como nesse sentido ela ficar “presa”, ela estará exatamente como ela quiser estar.

6) Você pode hipnotizar alguém e "obrigá-lo" a fazer algo de ruim, tipo roubar?

Essa ideia de um hipnólogo que pode controlar a mente de quem ele quiser é parte de um outro grande mito. Não existe isso! Primeiro que ninguém fica inconsciente, todas pessoas continuam ouvindo tudo, sabendo o que está acontecendo e acompanhando ativamente o processo de terapia. Em qualquer momento o sujeito pode levantar, abrir os olhos e sair se for dito algo que não faça sentido pra ele.

Costumamos dizer que não é possível fazer algo com você em hipnose que você não estivesse disposto a fazer sem hipnose. Não existe um controle mental em que o hipnoterapeuta “obriga” o sujeito a qualquer coisa.

7) Existe algum código de ética a ser seguido? Tem alguma prática que muitos hipnólogos fazem que não deveria ser feito?

A hipnose não está ligada a uma única prática profissional, ela é uma ferramenta ampla que pode ser usada por várias áreas, e isso significa que ela não está sob fiscalização de nenhum conselho de classe específico. A consequência natural disso é que muitos profissionais acabam por ter uma formação ruim e não há como ter um controle sobre isso. Atualmente existem muitos cursos de formação no mercado, mas infelizmente nem todos cursos são feitos por uma instituição/profissional confiável e séria.

Por isso que atualmente a questão ética tem sido o ponto chave da Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH), já faz um tempo que percebemos que existe uma lacuna sobre isso no mercado. Nós acreditamos que a ética profissional é imprescindível para qualquer prática, mas existem muitas especificidades quando estamos trabalhando com a saúde mental de uma pessoa, e nesse aspecto, a hipnose ainda não tinha nada específico sobre ética sendo difundido.

Você pode ler o código de ética da Sociedade Brasileira de Hipnose clicando aqui.

8) Como se tornar um hipnólogo? O que é preciso estudar?

Para se tornar um hipnoterapeuta é preciso fazer um curso de hipnose clínica,. Agora, para se tornar um bom hipnoterapeuta, acredito que seja importante buscar uma formação séria e de qualidade.

Como dito acima, os estudos devem ser sempre contínuos e multidisciplinares, estamos por exemplo, em um grande momento de expansão sobre os conhecimentos na área da neuropsicologia, da psicologia entre outras áreas ligadas a compreensão da psique humana. Então é muito bacana o profissional buscar saber sobre os estudos dessa área, assim como de várias outras que possam agregar a sua prática. A SBH é uma das principais empresas no mercado que oferece treinamentos de alta qualidade, mas não somos as únicas, e assumimos como nosso compromisso, indicar e reconhecer outros treinamentos no mercado que se assemelham com a nossa qualidade e confiabilidade.

9) A hipnose é reconhecida e aceita por diversos conselhos profissionais

Atualmente a hipnose é reconhecida pelo conselho Federal de Psicologia, Conselho Ferderal de Odontologia, Conselho Federal de Medicina e Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Além disso, também é aceita como uma prática integrativa no SUS.

10) Passamos por esse estado todos os dias

É um processo natural da mente, onde respondemos a mensagens externas sem termos uma intenção consciente. Por exemplo, o fato de se emocionar com uma história de ficção pode ser chamado de processo de hipnose, pois sua mente respondeu a uma mensagem que você sabia que não é real. Dentro de um consultório, o estado é apenas de relaxamento e foco. Por ser algo tão simples, pode até ocorrer do paciente acreditar que não estava hipnotizado.

11) A hipnose te dá mais controle sobre sua própria mente

Ao contrário do que aparenta, a hipnose aumenta o controle sobre suas funções mentais. Quando, em um show de palco, o sujeito recebe a sugestão de não conseguir lembrar do próprio nome por exemplo, isso acontece porque ele mesmo teve acesso a sua memória e decidiu temporariamente bloquear a informação. Portanto, neste estado é impossível você ser controlado ou induzido a fazer algo contra sua vontade.

12) Já foi de uso “popular” de médicos desde 1950

Há 70 anos, era comum salas de aulas lotadas apenas com médicos, para aprenderem utilizar esta ferramenta, para tratar definitivamente problemas que antes, com medicamentos, eles apenas gerenciavam os sintomas.

A fim de eliminar a subjetividade da técnica, cada vez mais tem se buscado processos bem definidos e científicos. A seriedade desta busca é tão grande, que há empresas que conseguiram até obter uma certificação ISO9001 para processo terapêutico, o que garante a qualidade nas aplicações da ferramenta. Como é o caso da OMNI Hypnosis, escola global de hipnoterapia, onde o mesmo processo de terapia funciona igual nos 26 países onde possuem treinamento, o que facilita os estudos científicos da escola.

Fontes:

Erick Heslan - Psicólogo e Presidente da Sociedade Brasileira de Hipnose

Michael Arruda - Professor de hipnoterapia